quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Uruguai, oásis de tranquilidade no turbulento Cone Sul


por Deutsche Welle

Apontado como modelo, o país não sente o baque das crises econômicas e políticas na Argentina e no Brasil. Parece que não vale mais o ditado que diz que, quando a Argentina espirra, o Uruguai se resfria. O pequeno país sul-americano, com apenas 3.400.000 habitantes, sofreu durante muito tempo as consequências dos vaivéns de seus grandes vizinhos, Argentina e Brasil. Hoje, se converteu num modelo na América Latina, afirmam analistas. "O Uruguai tornou-se independente de seu grande irmão do outro lado do rio da Prata. Também viveu sua crise, mas nos últimos anos teve um desenvolvimento comparativamente melhor. Conseguiu transformar sua economia e estabelecer mais aspectos de igualdade sociais que seus vizinhos", afirma Stefan Rinke, diretor do Instituto de Estudos Americanos da Universidade Livre de Berlim. Em seus quase 15 anos de governo, a coalizão Frente Ampla consolidou a estabilidade política e econômica, além de ter alcançado avanços sociais. Segundo o Banco Mundial, o país se destaca na América Latina por ter "uma sociedade igualitária, alta renda per capita e quase ausência de pobreza extrema".

A classe média representa 60% da população, a maior da América. Além disso, o país tem estabilidade institucional, baixos níveis de corrupção e altos índices de medidas de bem-estar social e acesso a serviços básicos. "No Uruguai, há uma democracia estável, com regras de jogo que são cumpridas, sem hipótese de violência, com diálogo e confiança nas regras institucionais. Isso também é um patrimônio do país diante de uma situação de crise", afirma Gerardo Caetano, historiador e cientista político da Universidade da República, de Montevidéu.

Hoje, o Uruguai é o país latino-americano com o maior índice de democracia e do qual os habitantes estão mais satisfeitos com essa forma de governo, aponta um estudo da organização Latinobarómetro. "Esse é um fator muito importante. Estamos num ano pré-eleitoral, de concorrência, mas não se compara com o que ocorre na Argentina, com a campanha permanente, ou com o processo eleitoral atual no Brasil, marcado pela incerteza absoluta", diz Caetano.

Do ponto de vista econômico, apesar de sinais de desaceleração nos últimos anos, o país segue crescendo e mantém uma inflação de um dígito. Apesar da crise regional, marcada pela alta do dólar na Argentina e a forte estiagem que afetou o setor agropecuário, de onde saem seus principais itens de exportação, não há sinais de recessão. O Uruguai exporta hoje alimentos para 28.000.000 de indivíduos e tem a meta de chegar aos 50.000.000. O turismo também é uma importante fonte de receitas, e o setor conseguiu se diversificar investindo em aspectos profissionais, financeiros e tecnológicos. Para Caetano, o nível de reservas, o manejo responsável do dólar por parte do Banco Central, a gestão da dívida em níveis razoáveis e uma política de austeridade dão credibilidade ao país. "O que faz do Uruguai bem-sucedido é sua abertura em combinação com políticas trabalhistas e sociais progressistas, uma política de inclusão e de direitos em todos os sentidos", diz Sebastian Sperling, chefe da fundação alemã Friedrich Ebert no Uruguai. "Juntamente com o incentivo a investimentos estrangeiros e a promoção de tratados de livre-comércio, o Uruguai aprofundou sua democracia, fortaleceu a posição dos trabalhadores e dos sindicatos e formalizou grande parte da economia informal, com impactos muito positivos sobre o crescimento e indicadores sociais", acrescenta.

Enquanto 14 anos atrás, 39,9% da população viviam na pobreza, o último levantamento indicou 7,9%. O número de cidadãos na pobreza extrema passou de 4,7% para 0,2% – "um número quase irrelevante", segundo Caetano. E nos últimos 15 anos, o salário real médio subiu em torno de 55% em valores reais, destaca. Enquanto isso, os países vizinhos caminham na direção oposta, tanto em relação a políticas quanto a resultados, aponta Sperling.

Apesar da estabilidade, o Uruguai não está imune a oscilação regionais. "O clima político e econômico na região não é nada favorável. Até agora, o país não foi impactado pelos acontecimentos na Argentina e no Brasil, mas já se vê que vai haver efeitos sobre a próxima temporada turística, pois quase 80% dos turistas vêm da Argentina", adverte Sperling. Segundo o especialista, o Uruguai também poderia ser afetado como exportador de serviços financeiros e profissionais, cujos principais mercados são a Argentina. "A política da Frente Ampla ajudou muito a desenvolver um modelo mais sustentável, por exemplo, ao impulsionar o consumo interno por meio do aumento dos salários reais, sobretudo nas classes média e baixa", destaca o especialista. "Nesse sentido, o Uruguai é mais forte que antes, mas em um país tão pequeno, uma crise regional poderia ter impacto."


O governo do presidente uruguaio, Tabaré Vásquez, anunciou medidas com base em lições tiradas das crises passadas. Entre os incentivos ao turismo, por exemplo, está a devolução aos argentinos do imposto sobre valor agregado, de 22%. Além disso, o governo reduziu os impostos sobre combustíveis na fronteira com a Argentina, o que já existia com o Brasil. Além de ter alcançado estabilidade política, econômica e institucional, o Uruguai está muito bem integrado ao mercado global, com uma posição estratégica na boca do rio da Prata, destaca Rinke. "Ainda que, no curto prazo, a situação argentina possa afetar o Uruguai, não creio que vá causar uma crise do tamanho da enfrentada pela Argentina. O sistema uruguaio é muito mais forte", afirma.

Manter a estabilidade diante dos altos e baixos argentinos é uma preocupação histórica do Uruguai, aponta Caetano. Segundo ele, o país não está à margem do contexto regional. "Mas se houver uma hipercrise na Argentina ou se a incerteza total que há no Brasil acabar mal, o Uruguai tem hoje mais fortalezas que no passado para enfrentar esses desafios", conclui.

DW
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Datafolha: Eduardo Paes oscila para 22% e Romário mantém 14%.

Garotinho tem 12%, Indio da Costa 7% e Tarcísio Motta 6%.


Por ESTADÃO CONTEÚDO

Rio - O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) manteve a liderança na corrida ao governo do estado, mas viu a diferença para o segundo colocado, o senador Romário (Podemos) cair de 10 para oito ponto porcentuais, de acordo com pesquisa Datafolha divulgada na madrugada desta quinta-feira. Segundo o levantamento, Paes oscilou de 24% para 22%, enquanto Romário permaneceu com 14%. Atrás dele, em situação de empate técnico, vem o ex-governador Anthony Garotinho (PRP), que oscilou de 10% para 12%. Indio da Costa (PSD) teve 7%, Tarcísio Motta (Psol) registrou 6%, Wilson Witzel (PSC) obteve 4% e Marcia Tiburi (PT), 3%. Pedro Fernandes (PDT) obteve 2%, André Monteiro (PRTB), Dayse Oliveira (PSTU) e Marcelo Trindade (Novo) registraram, cada um, 1%. Luiz Eugenio (PCO) zerou na pesquisa. Brancos e nulos somaram 20% e indecisos, 7%. Nas projeções de segundo turno, Paes está empatado com Romário no limite da margem de erro, que é de três pontos porcentuais (38% a 32%) e venceria Garotinho por 43% a 25%. Romário derrotaria o ex-governador por 39% a 26%.

A pesquisa Datafolha foi realizada entre 18 e 19 de setembro com 1.358 eleitores de 35 cidades do Estado do Rio. Ela foi registrada com o código RJ 04258/2018 no TSE a pedido da TV Globo e do jornal Folha de S. Paulo. O nível de confiança utilizado é de 95%.

Primeiro turno
Eduardo Paes (DEM): 22%
Romario (Podemos): 14%
Anthony Garotinho (PRP): 12%
Indio da Costa (PSD): 7%
Tarcísio Motta (Psol): 6%
Wilson Witzel (PSC): 4%
Marcia Tiburi (PT): 3%
Pedro Fernandes (PDT): 2%
André Monteiro (PRTB): 1%
Dayse Oliveira (PSTU): 1%
Marcelo Trintade (Novo): 1%
Luiz Eugenio (PCO): 0%
Brancos e nulos: 20% - Indecisos: 7%
Segundo turno
Paes 38% x 32% Romário
Paes 43% x 25% Anthony Garotinho
Anthony Garotinho 39% x 26% Romário

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ONU vai pressionar governo brasileiro por caso de Marielle.

Decisão da entidade foi comunicada à viúva da 
vereadora assassinada há mais de seis meses.


Jamil Chade, O Estado de S.Paulo

GENEBRA - Seis meses depois da morte de Marielle Franco, a Organização das Nações Unidas (ONU) irá aumentar a pressão sobre o governo brasileiro para que um esclarecimento seja dado sobre o andamento das investigações. A decisão foi indicada a Mônica Benício, viúva da vereadora morta no dia 14 de março no Rio. Ela está em Genebra e se reuniu com Kate Gilmore, a número 2 do Escritório de Direitos Humanos da ONU, além de outras autoridades. A execução da ativista chocou o mundo e evidenciou a violência política no Brasil. As reações foram sentidas nos parlamentos europeus, em instituições internacionais e movimentos sociais. Mas, desde então, o estado brasileiro tem mantido um silêncio total sobre as investigações e sobre quem seriam os responsáveis pelo crime. Sem uma resposta, Mônica decidiu viajar até Genebra para denunciar o estado brasileiro e pedir que a ONU pressione Brasilia. De acordo com a Anistia Internacional, Kate Gilmore “expressou sua solidariedade à viúva de Marielle e se propôs a estabelecer uma interlocução com o Estado sobre o assassinato de Marielle Franco e a situação dos defensores de direitos humanos no país”.

O Estado apurou que, na prática, isso significa que o assunto da vereadora vai entrar no radar da ONU e nas cobranças que a entidade fará ao Brasil. "Em reunião com a ONU, após mais de seis meses sem respostas, denuncio o descaso do governo brasileiro na ausência de justiça frente à execução política de Marielle”, disse Mônica. “Também solicitei apoio internacional, para uma investigação imparcial, e sigo afirmando que as autoridades brasileiras estarão com as mãos sujas de sangue até que respondam quem matou e quem mandou matar minha companheira Marielle Franco" afirmou. Durante o encontro, as ongs que acompanhavam Mônica também denunciaram violações de direitos no contexto da militarização da segurança pública no Brasil e o aumento dos homicídios provocados pela polícia. Kate deixou claro que o estado brasileiro já tinha sido alvo de questionamentos em ambos assuntos.


Um dos encontros ocorreu com Agnes Callamard, relatora da ONU sobre Execuções Sumárias e que também acumula o cargo de diretora da iniciativa Liberdade de Expressão Global da Universidade de Columbia. De acordo com as entidades, “Agnes Callamard também expressou sua solidariedade com Mônica Benício e manifestou sua preocupação com a escalada na violência no contexto da militarização da segurança pública no Brasil. Ela destacou a importância de discutirmos propostas concretas para reduzir a violência com respeito aos direitos humanos”, explicou. Agnes, até abril, tinha indicado que já havia denúncias de 160 execuções no Brasil em comunicados mantidos com o governo. Para ele, o centro da questão é a impunidade. “Todos os membros do governo e de partidos políticos devem lutar contra a impunidade como uma questão de interesse nacional. Trata-se de uma questão de segurança nacional. A impunidade mina e ameaça a segurança da democracia e das instituições democráticas”, alertou. “O grupo encerrou o dia apresentando para a equipe das relatorias de Defensores de Direitos Humanos e Violência contra a Mulher dados de pesquisas sobre violência contra a mulher na Favela da Maré e o quadro mais amplo de violência contra defensores de direitos humanos, além de preocupações com a falta de avanço nas investigações do assassinato de Marielle Franco”, explicaram as entidades.

Carta
Essa não é a primeira vez que a ONU vai agir. Em março, dias depois da execução da vereadora, relatores das Nações Unidas enviaram uma carta confidencial ao governo brasileiro solicitando que esclarecimentos fossem apresentados até maio. Mas o Itamaraty não cumpriu o prazo e, ao Estado, explicou que a falta de uma resposta se devia ao fato de as investigações serem confidenciais. "Esse é um momento muito importante para a sociedade civil brasileira e também muito relevante para a ONU poder entender o que acontece no Brasil. Ao ouvir as demandas trazidas pelas organizações que atuam no terreno, a ONU terá melhores condições de atuar em prol do seu mandato de proteção e promoção dos direitos humanos" avalia Camila Asano, Coordenadora de Programas da Conectas Direitos Humanos. "As denúncias que trouxemos para o Conselho de Direitos Humanos sobre as violações de direitos no contexto da intervenção federal e a falta de respostas sobre o assassinato de Marielle já foram feitas no Brasil. Mas as autoridades brasileiras parecem não estar ouvindo. Falharam em solucionar o caso da Marielle e não implementaram qualquer medida para reduzir os homicídios pela polícia. Diante deste quadro, a mobilização e visibilidade internacional é essencial. E é isso que estamos fazendo aqui" afirma Renata Neder, coordenadora de pesquisa da Anistia Internacional Brasil. "As reuniões com representantes da ONU mostraram a importância da internacionalização das denúncias de violações de direitos que ocorrem nas favelas e periferias do Brasil. Sem dúvida, esse é um meio de pressionar por mudanças efetivas no campo do direito à vida e à segurança pública" afirma Eliana Silva, Diretora da Redes da Maré.


Ao Estado, Mônica disse que, no início, aceitava o argumento de que era necessário manter o processo sob sigilo. Mas alerta que hoje sua paciência se esgotou. Para ela, a morte de Marielle “foi um recado político”. “Foi uma tentativa clara de silenciar o que ela representava. A mensagem foi clara: não queremos esse tipo de representatividade disputando poder”, disse. “Meu apelo à ONU é para que cobre de forma mais veemente o estado brasileiro a dar uma resposta sobre a investigação. Estamos lançando uma batalha internacional para pressionar o governo a dar uma resposta. Uma resposta concreta, de quem matou, quem mandou matar e a motivação do crime. Os culpados continuam soltos. Não é uma questão de vingança. É um processo de justiça para impedir que não ocorram mais Marielles".

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Roubo dentro do Túnel Rebouças leva pânico a motoristas

Alguns acharam que se tratava de um arrastão e voltaram na contramão da via.


Por O Dia

Rio - Um motorista teve seus pertences pessoais roubados, por volta das 23:00h da quarta-feira, dentro do Túnel Rebouças. O crime aconteceu no sentido Centro da via, na altura do Rio Comprido. De acordo com a Polícia Militar, outros motoristas acharam que se tratava de um arrastão e ficaram apavorados. Alguns, inclusive, voltaram na contramão. O 4º BPM (São Cristóvão) informou que foi acionado, mas não encontrou nem a vítima, nem os responsáveis pelo roubo no local. Os policiais, então, foram até à 6ª DP (Cidade Nova), onde o motorista roubado estava registrando a ocorrência.


Vídeos enviados ao WhatsApp O DIA (98762-8248) mostram alguns motoristas tentando sair da entrada do túnel e policiais em uma das galerias.

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No 'Jornal da Globo', Haddad minimiza papel de Lula na transferência de votos

Em entrevista exibida na madrugada desta quinta, candidato 
ainda falou sobre corrupção e propostas para a economia.


Por ESTADÃO CONTEÚDO

São Paulo - O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, minimizou o papel do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na transferência de votos para sua candidatura e afirmou que não dar indulto ao petista, preso e condenado na Lava Jato, é sua palavra final. Em entrevista ao "Jornal da Globo" exibida na madrugada desta quinta-feira, Haddad declarou que Lula não se iguala a um "cacique regional" nas decisões do partido, mas admitiu que o ex-presidente é quem mais "encarna" o projeto do PT no país. Para Haddad, o crescimento nas pesquisas eleitores não se deve apenas à indicação de Lula. "É isso também, mas, se fosse só isso, haveria transferência para todo lugar onde ele apoia, não funciona tão automaticamente", comentou o presidenciável. O petista declarou que Lula não pode ser igualado ao velho modelo das políticas regionais em que um "cacique" manda e desmanda no partido. "Os caciques regionais não consultam ninguém, eles tomam decisão num jantar do PSDB", disse o presidenciável. Haddad insistiu que, se eleito, não dará indulto a Lula e, questionado, respondeu que essa é sua palavra final. O petista relatou que recebeu uma carta do ex-presidente em que ele se diz "indignado" com o assunto ter voltado à tona.

Corrupção
Ao falar sobre corrupção, o presidenciável não quis responder se julgava justas as condenações contra José Dirceu, André Vargas e Antonio Palocci. Citando o caso do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o candidato disse apenas que a pena imposta ao petista foi "desequilibrada" e que membros de outros partidos, como José Serra (PSDB), tiveram investigações arquivadas. "Parece haver, em alguns casos específicos, dois pesos e duas medidas", afirmou. O candidato PT atacou o governo Michel Temer dizendo que a administração do emedebista "afrouxou" os mecanismos de controle e combate à corrupção. Ele prometeu, se eleito, fortalecer as instituições responsáveis por investigações no Brasil.

Na entrevista, Haddad contrariou um posicionamento do PT ao falar que a Venezuela não vive um processo de normalidade e que o clima no país vizinho é de "conflagração". Na última eleição de Nicolás Maduro, a direção nacional do PT chegou a dizer que o processo era um "exemplo de democracia". "A Venezuela não vive um processo de normalidade", comentou o presidenciável. "O clima ali é de conflagração. Inequívoco isso."

Economia
Após fazer acenos ao mercado financeiro e ensaiar um discurso mais próximo ao centro, o candidato voltou a criticar o teto de gastos implantado no governo Temer. Para o petista, a medida vai "colapsar" os serviços públicos no país. Ele reforçou sua promessa de elevar impostos para bancos que cobram juros mais altos do que a média de mercado e reduzir para aqueles que cobram alíquotas menores. Haddad disse que o risco de instituições segurarem o crédito em resposta a essa regra pode ser diminuído com atuação nos depósitos compulsórios. Ele pontuou que os bancos públicos estariam sujeitos às mesmas regras das instituições privadas. Ainda na economia, o petista afirmou que colocou a proposta de limpar nomes endividados no programa de governo do PT antes mesmo que o candidato Ciro Gomes (PDT) apresentasse uma proposta semelhante sobre o tema. Depois que o pedetista adotou o projeto como sua principal bandeira, Haddad alterou seu plano de governo para detalhar a medida.

Ele ainda disse que a promessa de Ciro não resolve o problema estrutural de juros altos. "Vai tirar as pessoas do SPC e elas vão voltar depois de um ano porque o problema estrutural não terá sido resolvido. Nossa proposta é de uma reforma bancária", apontou.

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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Bolsonaro e aliados correm para entender e explicar 'nova CPMF' de Paulo Guedes

Guru econômico do presidenciável defende a 
recriação de imposto nos moldes da CPMF.


Guilherme Seto
Talita Fernandes
SÃO PAULO e BRASÍLIA

Jair Bolsonaro (PSL) e seus aliados apressaram-se em tentar explicar a proposta de Paulo Guedes, guru econômico da campanha, de criação de um novo imposto nos moldes da CPMF. O presidenciável e seu entorno afirmam que em um eventual governo do candidato os impostos seriam reduzidos. Em anúncio para uma plateia reduzida na terça-feira (18), revelado pela colunista da Folha Mônica Bergamo, Guedes disse que pretende recriar um imposto nos moldes da CPMF, que incide sobre movimentação financeira, pretende criar uma alíquota única do IR (Imposto de Renda) de 20% para pessoas físicas e jurídicas —e aplicar a mesma taxa na tributação da distribuição de lucros e dividendos. Por outro lado, ele estuda eliminar a contribuição patronal para a previdência, que incide sobre a folha de salário —que tem a mesma alíquota, de 20%. Em suas redes sociais, Bolsonaro escreveu horas após a publicação da reportagem que sua "equipe econômica trabalha para redução de carga tributária, desburocratização e desregulamentações. Chega de impostos é o nosso lema! Somos e faremos diferente. Esse é o Brasil que queremos!"

À Folha, o general Hamilton Mourão (PRTB), vice da chapa de Bolsonaro, disse que não poderia opinar profundamente e "de chofre", já que o tema não havia sido apresentado a ele por Paulo Guedes, "Quem decide é o Bolsonaro, né? O Paulo apresenta suas linhas de ação e o Bolsonaro avalia se as vê como pertinentes. Como ministro da Fazenda, ele dá as ideias, mas o presidente é o Bolsonaro, a decisão final é dele", disse o militar.

Na noite da terça-feira (18), o presidente da União Democrática Ruralista, Luiz Antonio Nabhan Garcia, empresário e principal conselheiro de Bolsonaro na área dos agronegócios, participou de um jantar em São Paulo com cerca de 100 empresários interessados em ouvir as ideias da campanha. No encontro, Nabhan apresentou os lemas da redução de impostos e desburocratização. "Deve haver algum desacerto, alguma desinformação, pois tivemos uma reunião com Guedes na tarde de ontem e nada disso foi falado", diz Nabhan à reportagem.


A reunião da cúpula da campanha, nos Jardins, bairro nobre de São Paulo, contou com a presença de Guedes e Nabhan; o general da reserva Augusto Heleno; o senador Magno Malta (PR-ES); o fundador do PSL Luciano Bivar; Gustavo Bebianno, presidente do PSL, e Julian Lemos, vice; o ex-presidente do PSL Antonio de Rueda; os filhos de Bolsonaro, Eduardo e Flávio; o deputado federal Major Olímpio (PSL-SP); e o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS). "Posso dizer que Bolsonaro é um homem de palavra, conheço-o há quase 30 anos e todas as conversas que tive com ele foram no sentido de desburocratizar e reduzir impostos. Sou empresário, membro do agronegócio, e sabemos que a recuperação do país passa pela redução dessa carga tributária", diz Nabhan. O ruralista especula que talvez a ideia de Guedes seja recriar a CPMF para reduzir outros impostos, proposta à qual ele mesmo seria favorável. No entanto, ele diz ter tentado falar com o economista nesta quarta (19), após a publicação da reportagem, mas não teve retorno.


Em 2015, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) participou da organização de movimento "basta de tributos, não à CPMF" na Câmara dos Deputados. "Patrões e empregados não aguentam mais impostos, essa medida só vai gerar mais desemprego", escreveu à época. O empresário Luciano Bivar, fundador do PSL e aliado de Bolsonaro, diz entender que esse imposto pensado por Guedes seria formado, na verdade, pela compactação de diversos impostos distintos, o que geraria redução da carga tributária e desburocratização. Sendo assim, não haveria contradição entre Guedes e o presidenciável. "Ele não está criando novo imposto. Ele está concentrando vários impostos em um único imposto com alíquota menor. O CPMF foi demonizado porque era mais um novo imposto. Você pega dez impostos, cada um valendo dois, então seriam 20%. Pega esses dez e transforma em um só, cobrando só 10%, você reduz 50%. A ideia é essa, não tenho a menor dúvida, coerente com a ideia de redução de impostos", diz Bivar. "É uma ideia do grupo econômico, mas levada à Bolsonaro. Ele usa muito o bom senso, ouve os técnicos, mas a canetada final vem dele", conclui.

Empresários que têm se aproximado da campanha de Bolsonaro telefonaram para aliados do presidenciável e manifestaram preocupação diante do teor da proposta de Guedes. As respostas que têm ouvido passam pela "falha de informação" e também pela ênfase na ideia de que se trata, sim, da redução da carga tributária por meio da concentração de impostos.

ALIADO DIZ QUE BOLSONARO TERÁ PALAVRA FINAL
O coordenador da campanha de Jair Bolsonaro em São Paulo, deputado Major Olímpio, minimizou a proposta do guru econômico do candidato, Paulo Guedes, de recriar imposto aos moldes da CPMF. "O presidente é quem sempre decidirá o que é mais oportuno. O papel dele [Guedes] é de indicar alternativas", disse, afirmando ter sido surpreendido com a proposta de Guedes. "Eu sou contrário à reedição e o Bolsonaro já disse que também que é. Não teremos aumento de tributação", afirmou.

Olímpio disse que a proposta sugerida por Guedes ao mercado nunca foi mencionada dentro da campanha. O deputado minimizou a divergência de opiniões entre o economista, que já foi anunciado como futuro ministro da Fazenda de Bolsonaro, e dirigentes da campanha, e negou que haja falta de sintonia entre o candidato e seu guru na área econômica. Para Olímpio, é natural que Guedes faça sugestões que depois possam ser descartadas. "A administração pública não é uma fórmula matemática."

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Lula escreve carta a General Hamilton Mourão

'Não julgue avós e mães pobres pelo seu conceito medíocre sobre a espécie 
humana', escreveu o ex-presidente, que está preso em Curitiba desde abril.


POR O DIA

Rio - O ex-presidente Lula endereçou uma carta ao candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), Hamilton Mourão (PRTB), na quarta-feira. "Não julgue avós e mães pobres pelo seu conceito medíocre sobre a espécie humana", escreveu em relação a declarações recentes de Mourão. Na segunda-feira, o militar da reserva disse que famílias pobres 'onde não há pai e avô, mas, sim, mãe e avó são fábricas de desajustados' que fornecem, segundo ele, mão de obra ao narcotráfico.

Lula lembrou que foi criado por uma mulher analfabeta. "Se o senhor já pensava assim não deveria ter chegado a general e muito menos querer ser vice-presidente", escreveu o ex-presidente, que está preso na sede da Polícia Federal em Curitiba por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. No final do texto, o petista aconselha o general a fazer um curso sobre o Humanismo. Humanismo é o princípio difundido na Europa durante a Renascença que valoriza um saber crítico voltado para um maior conhecimento do ser humano e que objetiva o bem-estar em detrimento da moral.

As declarações de Mourão foram feitas durante palestra a empresários. Ele fez um paralelo entre formação da família e ação de bandidos em áreas carentes. "A partir do momento em que a família é dissociada, surgem os problemas sociais. Atacam eminentemente nas áreas carentes, onde não há pai e avô, mas, sim, mãe e avó, por isso é fábrica de elementos desajustados que tendem a ingressar nessas narcoquadrilhas", disse ele. Mourão também criticou a política externa adotada nos governos petistas de aproximação com outras economistas emergentes. Ele se referiu a esses países como "mulambada""E aí nos lidamos com toda a mulambada, me perdoem o termo, existente do outro lado do oceano, do lado de cá, que não resultou em nada, só em dívidas que foram contraídas e que nós estamos tomando calote disso aí.

Confira a carta de Lula a Mourão

"Curitiba, 19 de setembro de 2018

“General Mourão, não julgue avós e mães pobres pelo seu conceito medíocre sobre a espécie humana. Se o senhor já pensava assim não deveria ter chegado a general e muito menos querer ser vice-presidente.

Eu e sete irmãos fomos criados por uma mulher analfabeta chamada Dona Lindu e duvido que exista alguém na sociedade brasileira que educou os filhos melhor do que ela. Pode ter igual, melhor nunca.

General, um conselho, faça um curso sobre o Humanismo.”

Lula.

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terça-feira, 18 de setembro de 2018

Quem é o homem que provocou Ciro Gomes em Roraima

Luiz Nicolas Maciel Petri trabalha em campanhas do MDB e do DEM no estado.


POR EDUARDO BRESCIANI

Luiz Nicolas Maciel Petri virou notícia no domingo ao ser xingado pelo candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, em Roraima. Petri trabalha para campanhas do MDB e do DEM no estado e estava no meio de jornalistas que entrevistavam Ciro durante um ato em Boa Vista (RR). "O senhor reafirma o que o senhor disse sobre brasileiros que fizeram aquela manifestação na fronteira, que chamou os brasileiros de canalhas, desumanos e grosseiros?", perguntou ao candidato. Irritado, Ciro xingou e empurrou Petri: "Vai para a casa de Romero Jucá, seu filho da p... Pode tirar este daqui, este aqui é do Romero Jucá. Romero Jucá. Romero Jucá. Tira ele, tira ele, prende ele aí".

O senador Romero Jucá (PMDB ) é presidente do partido em Roraima. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que a produtora da qual Petri é dono realiza os programas de rádio e TV do MDB de Roraima, tendo recebido R$ 124.400,00 da legenda. Jucá é o presidente do diretório regional da sigla. A produtora, que tem o nome fantasia Saldo Positivo Comunicação e Marketing, também prestou serviços no valor de R$ 1.400,00 para o candidato emedebista a deputado estadual Jorge Everton (MDB) e de mais R$ 70.000,00 para Chico Rodrigues (DEM), que disputa o Senado em dobradinha com Jucá.

Petri publicou um vídeo em sua conta no Facebook dizendo ter feito apenas uma pergunta a Ciro e alegou que não tinha vínculo com Jucá. "Quero deixar claro que não faço nenhum tipo de trabalho para o senador Romero Jucá. Estava apenas lá como parte da imprensa, fazendo meu trabalho como jornalista", afirmou Petri no vídeo. A pergunta feita por Petri tem como base uma declaração feita por Ciro quando brasileiros atacaram venezuelanos em Pacaraima (RR) no mês passado, queimando seus pertences e fazendo com que mais de 1.000 estrangeiros voltassem ao país de origem. Ciro afirmou ter sentido vergonha de ser brasileiro por conta da agressão aos venezuelanos.

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Operação da PF mira filho de ministro do TCU por fraudes no Trabalho

Investigação apura possível restituição fraudulenta de contribuições de sindicatos e centrais.


Advogado Tiago Cedraz, filho do ministro do TCU
(Tribunal de Contas da União) Aroldo Cedraz.
Fábio Fabrini
BRASÍLIA

A Polícia Federal deflagrou nesta terça (18) a quarta fase da Operação Registro Espúrio, que mira esquemas de corrupção no Ministério do Trabalho. A investigação apura agora possível restituição fraudulenta, a entidades sindicais, de contribuições recolhidas pelo governo. O prejuízo aos cofres públicos seria de R$ 9.000.000,00. Entre os investigados, está o advogado Tiago Cedraz, filho do ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Aroldo Cedraz. Ele é secretário de Assuntos Jurídicos do Solidariedade, um dos partidos com influência na Secretaria de Relações do Trabalho, que cuida desses repasses. Um sócio dele, Bruno de Carvalho Galiano, foi preso nesta terça. Também foi preso Marcelo de Lima Cavalcanti, chefe de gabinete do deputado federal Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho de Força Sindical, presidente nacional da legenda. Ao todo, policiais federais cumprem 16 mandados de busca e apreensão e nove de prisão temporária em Brasília, Goiânia, Anápolis, São Paulo e Londrina. Eles foram expedidos pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Um pedido de prisão contra Tiago Cedraz foi apresentado pela PF, mas não foi aceito pelo relator do caso no Supremo, ministro Edson Fachin. No entanto, mandados de busca e apreensão estão sendo cumpridos na residência e no escritório dele. Os recursos das contribuições sindicais, espécies de tributos recolhidos de trabalhadores e patrões, são pagos a sindicatos, confederações e federações. As restituições são destinadas a entidades que não receberam ou receberam menos do que deveriam. Isso ocorre, por exemplo, quando há falhas no sistemas do Ministério do Trabalho ou destinação a instituições que não fazem jus aos valores. O dinheiro fica retidos numa conta da Caixa. Os pedidos de restituição, segundo a PF, eram manipulados pelo grupo com o intuito de adquirir direito a Segundo a PF, esses processos de restituição eram manipulados pelo grupo investigado com o intuito de adquirir direito a créditos, conforme também apontou o Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União. “Os valores eram transferidos da Conta Especial Emprego e Salário (CEES), do ministério, para as contas bancárias das entidades, com posterior repasse de um percentual para os servidores públicos e advogados integrantes do esquema”, informou a PF.

As investigações se basearam em depoimentos do ex-coordenador de Registro Sindical Renato Araújo, que decidiu colaborar com a PF depois de preso, em maio. Segundo o inquérito, Tiago e o sócio se valeram da influência no ministério para manipular processo de restituição de R$ 2.700.000 à Confederação dos Servidores Públicos do Brasil. “De forma meticulosa, os dois advogados aderiram à organização criminosa com o objetivo de obter favorecimentos em pedidos de restituição de registro sindical. Tudo indica, inclusive, que Tiago Cedraz e Bruno Galiano almejam amealhar valores bem maiores, com patrocínio de pleitos em nomes de centrais sindicais”, sustenta a PF em representação enviada ao ministro, obtida pela Folha. No documento, os investigadores narram que Tiago Cedraz e o sócio participaram, no ano passado, de um grupo de trabalho nomeado pelo então ministro Ronaldo Nogueira para estudar alterações na portaria que disciplina as restituições. Eles representavam centrais. Em abril deste ano, um novo colegiado foi constituído pelo então titular da pasta, Helton Yomura, mas sem representantes dessas entidades, o que os teria desagradado. Diante disso, um grupo informal teria sido criado pelos investigados para tentar influenciar as decisões. Galiano era um dos integrantes e, embora não fosse dos quadros do ministério, circulava livremente pela pasta, usando, inclusive, o elevador de uso privativo de autoridades. Imagens do circuito interno de TV do ministério o mostram numa reunião em 23 de maio deste ano. O encontro seria para elaborar uma minuta da nova portaria a ser editada pelo ministério, atendendo aos interesses do grupo. O documento saiu nos dias seguintes, foi enviado ao então secretário substituto de Relações do Trabalho, Luís Carlos Silva Barbosa, e registrado internamente como oficial. Araújo o descreveu em seus depoimentos como um secretário “fake”, que apenas cumpria ordens de integrantes da organização investigada.

A Registro Espúrio foi deflagrada em 31 de maio, logo após a apresentação do documento. Para a PF, é “inegável a associação de Tiago Cedraz e Galiano” a servidores do ministério ligados Paulinho de Força para elaborar documento “que atendesse aos seus interesses pessoais, bem como para viabilizar o levantamento de vultosos valores depositados na CEES”. Os investigados são suspeitos de peculato, corrupção passiva, corrupção ativa, falsificação de documento público e lavagem de dinheiro. A Operação Registro Espúrio foi desencadeada inicialmente em maio, com o objetivo de desarticular organização criminosa que atua na concessão fraudulenta de registros sindicais no Ministério do Trabalho. Formado em direito há 12 anos, Tiago Cedraz fez fortuna e se notabilizou no comando de um escritório com forte atuação do TCU.

Ele é alvo de outras investigações da Lava Jato.
Em delação premiada, o empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, envolveu o advogado num suposto esquema para comprar decisão de seu interesse no tribunal, referente às obras da usina de Angra 3. Os depoimentos embasaram a Operação Politeia, em 2015, desdobramento da Lava Jato. O inquérito sobre o caso tramita no STF. Também são investigados Aroldo Cedraz e o presidente do TCU, Raimundo Carreiro. Todos negam ilicitudes.

Em agosto do ano passado, Tiago foi alvo de outra fase da Lava Jato. Segundo o lobista Jorge Luz, ele teria recebido US$ 20.000,00, em contas na Suíça, em comissões por intermediar negócio da Sargeant Marine pela Petrobras. Na ocasião, o advogado reiterou "sua tranquilidade quanto aos fatos apurados por jamais ter participado de qualquer conduta ilícita". Também por escrito, a assessoria de Bruno Galiano informou que a alteração da portaria era uma das obrigações do Ministério do Trabalho, assumida diante de mediação conduzida pelo Ministério Público do Trabalho, e que “não estava sendo cumprida em razão de mais uma troca de ministro”“Por nunca ter cometido qualquer ato ilegal na representação dos meus clientes, nunca prometi qualquer vantagem a quem quer que seja, causa indignação ser citado por um servidor público corrupto [referência a Renato Araújo], que foi preso por comercializar pareceres técnicos para dezenas de pessoas, e que agora distorce conversas a fim de tentar dar conotação ilegal a atos legítimos e habituais do exercício profissional.” A Folha não localizou representantes dos demais alvos da operação.

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Como cérebros doados no Brasil estão ajudando a descobrir origem do Mal de Alzheimer.


Evanildo da Silveira
De São Paulo para a BBC News Brasil

Em duas salas no prédio da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), no bairro do Pacaembu, na zona oeste da cidade, repousam, em formol ou congelados, cerca de 4.000 cérebros humanos, de pessoas que morreram de causas naturais com idade ao redor de 50 anos ou mais. Não é uma mera curiosidade da capital paulista. Eles foram doados pelas famílias dos mortos e têm ajudado neurologistas e neurocientistas a entender as doenças do cérebro causadas pelo envelhecimento. Várias descobertas já foram feitas graças a esse banco de encéfalos - entre elas, a de que o Mal de Alzheimer começa no tronco cerebral, que conecta a medula espinhal com as estruturas localizadas acima, e não no córtex, como se pensava até então.

O "banco de cérebros", como é conhecido o Projeto Envelhecimento Cerebral e Biobanco para Estudos no Envelhecimento da FMUSP, foi criado em abril de 2004 e chegou aos números que ostenta hoje graças ao Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) da faculdade, que realiza cerca de 15.000 autópsias por ano em São Paulo. Esse número representa 45% das mortes por causas naturais, 60% das quais de pessoas com mais de 50 anos. É uma taxa de exames de causa mortis muito grande comparada à de outros países, onde ela não ultrapassa os 10%. Depois que decidem doar o cérebro, os familiares devem responder a um questionário que tem como objetivo verificar se o parente tinha alguma perda de cognição ou manifestação clínica que pudesse ser associada a algum quadro de demência. "A boa receptividade das pessoas aos nossos estudos foi surpreendente", conta Léa Tenenholz Grinberg, professora do Departamento de Patologia da FMUSP e uma das fundadoras do Biobanco. O índice de concordância com a doação chega a 94%.

Diagnóstico após a morte
O próximo passo é a coleta do cérebro, que, em seguida, é levado ao Laboratório de Fisiopatologia do Envelhecimento (Gerolab), onde passa por exames que determinam se havia lesões cerebrais - como, por exemplo, as associadas ao Alzheimer. Os pesquisadores usam os resultados e as informações prestadas pelos parentes para fazer um diagnóstico do doador, ou seja, verificar se era sadio ou se sofria de demência com sintomas clínicos apenas ou se tinha lesões anatômicas também. Segundo Lea, o SVO é único no mundo, pois é um serviço que verifica a causa de óbito de grande parte da população de São Paulo. "Como ele possui base populacional, o nosso Biobanco tem casos de indivíduos sem alterações neurológicas e outros com vários diagnósticos de doenças neurodegenerativas", explica.

O objetivo desse trabalho é justamente realizar pesquisas sobre as doenças relacionadas ao envelhecimento. Graças ao Biobanco, a FMUSP ocupa uma posição de vanguarda no mundo na área de estudos de doenças como o Alzheimer. De acordo com Léa, em muitos outros países, os estudos são realizados com pessoas que procuram tratamento quando já apresentam algum sintoma, como perda de memória. Isso dificulta o entendimento sobre o que antecedeu o problema.

Por meio dos cérebros doados, o Projeto Envelhecimento Cerebral e Biobanco para Estudos no Envelhecimento pode analisar casos que ainda não apresentavam sintomas da doença, conseguindo determinar onde ela começa, como progride e quais os sintomas iniciais, possibilitando o diagnóstico no início e facilitando a interrupção do seu progresso.

Onde começa o Mal de Alzheimer
Foi assim que Lea e sua equipe descobriram onde, de fato, o Alzheimer começa. Antes, é preciso saber que o que os leigos chamam de cérebro na verdade é o encéfalo, que é composto pelo cérebro propriamente dito, pelo cerebelo e pelo tronco. Esse último é uma importante estrutura do sistema nervoso central, que controla funções involuntárias fundamentais para a sobrevivência, como a respiração, os batimentos cardíacos, a pressão sanguínea e o sono.

Os pesquisadores descobriram que o Alzheimer dá os primeiros sinais de sua existência justamente numa parte específica do tronco, chamada núcleo dorsal da rafe. "Mostramos que essa área, localizada no mesencéfalo (uma parte do encéfalo localizada no pescoço) e maior produtora de serotonina do cérebro, desenvolve alterações da doença antes das que eram consideradas as iniciais até então, situadas no córtex entorrinal (uma parte do córtex cerebral)", explica Lea. "Em seguida, em outros estudos com colaboradores, descrevemos cerca de 15 áreas cerebrais que apresentam essas lesões antes do córtex entorrinal."

O que Lea encontrou nessa região do encéfalo foi uma das lesões mais características do Alzheimer, os chamados emaranhados neurofibrilares, que levam à morte dos neurônios. Eles assinalam o surgimento e progressão da doença, ao lado de placas extracelulares, causadas pelo acúmulo anormal de uma proteína chamada beta-amiloide. Segundo a pesquisadora, graças a essa descoberta, agora é possível diagnosticar o mal em fases ainda mais iniciais, entender a relação entre essas primeiras alterações e sintomas como depressão, ansiedade, problemas de sono e apetite.

O que já se descobriu também em relação a esses sintomas é que eles não são fatores de risco para Alzheimer, como se pensava antes, mas, sim, consequências da doença. O estudo foi apresentado em julho na Conferência Internacional da Alzheimer's Association, realizada em Chicago, no Estados Unidos, que reuniu cerca de seis mil pesquisadores da doença de diversas partes do mundo.

Exame para rastrear a doença na população brasileira
O Biobanco também já possibilitou a descoberta de fatores relacionados a risco de demência relevantes para a população brasileira, como a grande prevalência de Alzheimer por alteração nos vasos sanguíneos e risco diferencial para problemas causados por ela em descendentes de africanos e japoneses em relação aos de europeus. Agora, Lea está desenvolvendo estudos para identificar alterações nessas áreas onde o Alzheimer aparece primeiro, utilizando técnicas de neuroimagem. "A ideia é criar um exame simples de rastreio, que funcionaria como a mamografia funciona para câncer de mama", explica. "Será acessível o suficiente para ter grande parte da população examinada por volta dos 50 anos e reavaliada de tempos em tempos. Assim, se não houver alterações, não há necessidade de outros exames."

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