Colômbia -  As casas pintadas cada uma de uma única cor dão tom lúdico. As vielas não lembram mais labirintos onde grupos armados se escondiam. E até a circulação de motos passou a ter regras.

A Favela Independência, em Medellín, inspira e contrapõe o quadro geral da cidade, a segunda mais violenta da Colômbia, atrás de Cali. Na comunidade de mais de 12 mil moradores — alguns expulsos dos campos pelas Farcs — a retomada do território pelo Estado já dura quase 10 anos.

As políticas públicas e o diálogo com a comunidade — inclui, por exemplo, pintar a casa do morador da cor que deseja — são o segredo para que a favela, na Comuna 13 — espécie de Região Administrativa — seja modelo de pacificação no continente, inclusive para o Rio de Janeiro.
“O importante é construir em cada morador o sentimento de pertencimento, assim ele cuida, zela pelo lugar onde mora. Observe que aqui na há pichações, sujeira nas ruas”, mostra o arquiteto Carlos André Gutierrez.

Disputa de guerrilhas
Na favela, cerca de 90% dos moradores têm acesso a saneamento básico, e a grande maioria paga imposto — dados da prefeitura mostram que a inadimplência é baixa. E, ao contrário do que acontece em favelas do Rio, há controle rígido de quem circula motorizado. “Houve um acordo com os moradores. Motos têm espaço limitado e nunca podem estar em alta velocidade”, explica Gutierrez.

Em outubro 2002, a Comuna 13 — 19 bairros e quase 145 mil pessoas — foi tomada pelo Exército na Operação Órion, que prendeu centenas de pessoas. A região, uma das mais pobres de Medellín, era alvo de disputa de guerrilheiros e paramilitares.

Foi na localidade que o governo do Estado do Rio se inspirou para construir o teleférico do Complexo do Alemão e as escadas rolantes que serão instaladas na Rocinha.

Mobilidade e integração
O sobe e desce na Independência tem ares de modernidade. Com a pacificação, o governo começou a estudar modelos de mobilidade para interligar a favela.

E as sugestões vieram dos próprios moradores: uma escada rolante do tamanho de um prédio de 12 andares e uma calçada para pedestres que atravessa quase todo o morro foram construídos.

“Isso tem uma significado importante. Quando se liga toda a favela, as pessoas conseguem se conectar e há uma integração como em poucos bairros do asfalto”, disse o o arquiteto Carlos André Gutierrez.

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