quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Policiais de UPP são atacados a tiros no 6º dia consecutivo de confronto no Jacarezinho.


Sede da ONG Rio de Paz, atingida por tiros nesta terça.
Ana Carolina Torres 
e Célia Costa

Policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, foram atacados a tiros na quarta-feira. Este é o sexto dia consecutivo de confrontos na comunidade. Na terça, um morador morreu vítima de bala perdida. O corpo de Sebastião Sabino da Silva, conhecido como Tião das Frutas, está no Instituto Médico Legal (IML). Segundo moradores, a maior parte da comunidade está às escuras, uma vez que técnicos da Light que fariam a substituição dos transformadores atingidos por tiros deixaram o local. — Também não há coleta de lixo. Estamos sem serviços básicos aqui. Estamos com mais de vinte toneladas de lixo no Campo do Abóbora sem poder tirar, por causa da operação. A comunidade é que está sofrendo com isso — contou o presidente da associação de moradores do Jacarezinho, Leonardo Pimentel. O comércio na favela fechou as portas por ordem de traficantes. O mesmo aconteceu com a estação de trem que corta a comunidade. Segundo a SuperVia, bandidos mandaram que os portões fossem fechados e, com medo, funcionários deixaram o local. Ainda de acordo com a concessionária, os trens do ramal Belford Roxo estão circulando normalmente, porém no Jacarezinho quem vai embarcar não paga a passagem por falta de gente nas bilheterias.

O ataque ocorreu por volta das 09:00hs, na localidade conhecida como CRJ. De acordo com a assessoria de imprensa das UPPs, houve confronto mas não há notícia de feridos. Por causa da violência, 2.369 alunos ficaram sem aulas no Jacarezinho na manhã da quarta. Segundo a Secretaria municipal de Educação, três escolas, quatro creches e dois Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDIs) suspenderam as aulas. A situação atinge também a comunidade vizinha, Manguinhos, onde um EDI, que atende 245 alunos, está sem funcionar.

Secretária pede que política de segurança seja reavaliada
A secretária municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, Teresa Bergher, divulgou nota sobre a situação no Jacarezinho. Ela faz um apelo ao governo estadual para que a política de segurança de enfrentamento nas comunidades seja reavaliada. "Eu peço encarecidamente às autoridades do estado que reavaliem esta política que só mata inocentes. É incrível, parece que apenas os especialistas do estado em segurança pública ainda não perceberam que o enfrentamento não funciona, só gera carnificina e mais violência", lamenta Teresa, que quer um encontro com o secretário Roberto Sá.

Morador morto e caveirão atacado
Na tarde desta terça, um morador do Jacarezinho morreu vítima de bala perdida. Outra moradora foi baleada de raspão no rosto. Um suspeito de tráfico também ficou ferido. Além disso, um caveirão da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) foi atingido por um coquetel molotov. O tiroteio também afetou o funcionamento do ramal de Belford Roxo: os trens deixaram de passar pela estação do Jacarezinho. A sede da ONG Rio de Paz, que fica na comunidade, foi atingida por seis tiros durante um intenso confronto, também nesta terça. Por causa dos constantes tiroteios, a direção interrompeu temporariamente os serviços prestados à comunidade. Antônio Carlos Carlos, presidente da Rio de Paz, fez um desabafo no perfil da ONG no Facebook: "Estava na sede do Rio de Paz no Jacarezinho, quando vi essa moradora pobre passar aflita pela rua vazia com a sua filha. Cena difícil de tirar da cabeça. Um helicóptero passava pelo local, em frente ao nosso prédio, dando rajada de tiro de fuzil. Nossa sede foi alvejada hoje seis vezes. O pobre não tem a quem recorrer. Gente sem cujo suor a economia do Brasil entraria em colapso, mas que na hora do repouso da labuta, nesses dias de guerra, busca refúgio dentro de banheiro, se joga no chão, vê filho trazendo as mãos aos ouvidos para não ter os tímpanos estourados pelo barulho das armas."

Recompensa de 50 mil
A onda de violência no Jacarezinho começou na última sexta-feira, após a morte do policial civil Bruno Guimarães Buhler, durante um confronto na favela. Por informações que levem à prisão do assassino do agente da Core, o Disque-Denúncia (21 2253-1177) oferece uma recompensa de R$ 50.000,00.


extra.globo.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário