segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Falta de enfermeiros é comum em Saracuruna

No hospital onde bebê morreu, foram 3.077 ausências de profissionais até agosto.


GABRIEL SABÓIA

Rio - A falta de um profissional de enfermagem dedicado ao acolhimento de pacientes no Hospital Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, Duque de Caxias, culminou na morte de um bebê prematuro preso ao cordão umbilical, à espera de socorro, na segunda-feira da semana passada. A ausência de profissionais na unidade não é um caso isolado. Somente entre janeiro e agosto deste ano, foram registradas 3.077 faltas ao trabalho de enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, na única opção de emergência para mais de dois milhões de pessoas da Baixada Fluminense.

ACÚMULO DE CONTRATOS
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, deste total apenas 1.303 (42%) ausências foram justificadas por atestados médicos. Alvo de acusações da equipe, no topo da hierarquia do setor como coordenador de enfermagem da emergência, está Bergite de Souza e Silva Filho. O enfermeiro foi citado pelo DIA em matéria de junho do ano passado por acumular dois contratos com cooperativas médicas, além de uma matrícula como estatutário, na qual cumpria 72 horas semanais de trabalho. Ele abandonou o vínculo público em novembro para ser recontratado como coordenador de enfermagem da emergência pela Organização Social (OS), que administra o hospital. O ‘Chefão’, como é chamado, é acusado de realocar enfermeiros rotineiramente, conforme a necessidade da emergência, deixando o acolhimento ao ‘Deus-dará’, como dizem os profissionais.

“Como são muitas faltas, quem está de plantão é obrigado a ‘tapar buracos’ na emergência, por ordens dele”, garante outro auxiliar de enfermagem. A exemplo do que ocorreu em 2013, procurado pela reportagem, Bergite não foi encontrado no Adão Pereira Nunes no seu horário de plantão. Atualmente, ele é concursado e lotado em outra unidade estadual, o Rocha Faria, onde tem escala de 12 por 60 horas. Os profissionais reclamam também das escalas, com 12 horas de serviço por 36 de descanso. Antes do regime da OS, o esquema era de 24 horas de trabalho por 120 de repouso. “Ninguém aguenta. Há um festival de atestados falsos. Quem vem trabalhar acaba sobrecarregado”, diz um enfermeiro. Até agosto, foram registrados 1.153 óbitos, em 77.129 atendimentos.

Médico depôs na sexta
O obstetra Alexandre Gomes de Barros prestou depoimento, na sexta-feira, sobre o caso do bebê morto em Saracuruna na 60ª DP (Campos Elísios). Ele é suspeito de omissão de atendimento a Aline da Silva Gomes, que na segunda-feira chegou ao Hospital Adão Pereira Nunes, em trabalho de parto. O bebê, prematuro, estava preso ao cordão umbilical e acabou morrendo. Barros negou que tivesse se omitido. Gravações a que a polícia teve acesso revelam que a demora no atendimento foi de oito minutos e dez segundos. “Um PM que acompanhava um paciente sob custódia solicitou o socorro duas vezes”, disse o delegado José de Moraes Ferreira. Segundo o médico, a demora foi por “questões de higiene e assepsia”, tomadas para segurança da paciente. Um possível indiciamento do médico depende do laudo do IML, que ainda não ficou pronto. Só assim, a polícia saberá se a criança foi expelida morta. O delegado não descarta a tipificação do médico por homicídio doloso.

OS tem a liberdade de definir a periodicidade de escalas em cada hospital
A incumbência de montar as escalas de plantão no Adão Pereira Nunes é da gerente de enfermagem Vanessa Ribeiro. De acordo com a Secretaria, a Organização Social (OS) tem liberdade para definir a periodicidade das escalas, de acordo com os contratos de trabalho, vínculos e convenção da categoria. A Secretaria diz que “acompanha a prestação de serviços realizada pela OS citada e que, por isso, as faltas não justificadas de funcionários são descontadas dos repasses efetuados à instituição. Diante de excessivas ausências, a Secretaria recomenda punição ao profissional de acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)”.

Porém, o desconto no montante pago durante o período levantado não foi informado. Os estatutários que trabalham em unidades administradas por OS permanecem sob vínculo do estado. A possibilidade de cessão dos estatutários da Secretaria de Saúde para as OSs, com complementação salarial, é ainda estudada.

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