quarta-feira, 23 de abril de 2014

Hiperatividade na vida adulta pode se manifestar em vícios, diz especialista

Transtorno atinge de 3% a 10% das crianças e cerca de 4% dos adultos. Hiperativos têm dificuldade de concentração e instabilidade profissional.


Tássia Lima
Do G1 Sorocaba e Jundiaí

A crença de que o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) termina junto com a infância ficou para trás há anos. Segundo especialistas, o que acontece é que os sintomas diminuem e, em alguns casos, tendem a se manifestar por meio de vícios.

"Quando eu era criança, corria pelos cantos, arrumava briga na escola. Como, aos 23 anos, não é mais possível fazer esse tipo de coisa, a hiperatividade acaba refletindo no fato de eu fumar muito e não conseguir parar por muito tempo em uma única atividade", afirma o jornalista Thiago Oliveira.

E os problemas do jovem ainda são leves frente aos que outros adultos hiperativos enfrentam. Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), essas pessoas são mais propensas ao uso de álcool e drogas do que as outras, uma vez que essas substâncias podem atenuar alguns sintomas do transtorno. Além disso, o portador de TDAH pode enfrentar obstáculos no ambiente de trabalho. "Geralmente, o adulto hiperativo não consegue estabilidade profissional porque é visto como uma pessoa bastante instável", explica a psicoterapeuta Sílvia Brezzi, de Itu (SP).

A situação se assemelha ao que acontece na infância. Devido ao "mau comportamento", é bastante comum que uma criança com TDAH passe por diversas instituições de ensino ao longo da vida. "Fui expulso duas vezes e estudei em três escolas diferentes, da primeira série do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio", conta Thiago.

Para Sílvia, a falta de conhecimento sobre o assunto acaba piorando o quadro. "Não se deve rotular a criança de uma maneira negativa, discriminá-la. É preciso ajudá-la a compreender o próprio comportamento, estimulando-a com atividades onde ela possa reconhecer o 'lado bom' da hiperatividade", diz.

O que é
Segundo a ABDA, o TDAH é um transtorno neurobiológico de característica genética que se manifesta desde a infância e pode persistir na vida adulta, abrangendo não só o aumento da atividade motora, como também a impulsividade e a desatenção. "A criança dificilmente consegue se fixar em alguma atividade que precise de concentração, disciplina ou repetição. Até mesmo assistir TV ou comer se torna um problema", diz Sílvia.

Apesar de normalmente estarem associados, o transtorno de déficit de atenção e a hiperatividade não são a mesma coisa. A hiperatividade é apenas uma ramificação do TDA e se caracteriza pelo aumento da atividade motora. Ela também pode estar associada a outros transtornos psíquicos, como autismo, transtorno bipolar e quadros de ansiedade. Estima-se que entre 3% e 10% das crianças apresentem algum grau de hiperatividade. Em adultos, esse índice gira em torno de 4%, de acordo com dados da ABDA.

Tratamento
Segundo Sílvia, antes de tudo, é preciso que a própria pessoa queira se ajudar. "É necessário humildade para reconhecer a própria humanidade, ou seja, reconhecer seus limites e seus potenciais e, finalmente, não se rotular", diz.

A partir daí, o acompanhamento psiquiátrico à base de medicamentos, combinado com o trabalho psicoterapêutico, pode minimizar os sintomas e ajudar a pessoa a entender o funcionamento agitado do organismo. "Os hiperativos tendem a se adaptar e minimizar os efeitos na vida adulta quando reconhecidos e tratados na infância", afirma a psicoterapeuta.

Identificar o transtorno foi fundamental para que os sintomas de Thiago diminuíssem. Ele frequentou um psicólogo dos oito aos doze anos e, aos 16, foi buscar ajuda de um psiquiatra. "Tive duas convulsões e, inicialmente, acharam que era excesso de bebida. Só depois é que o médico chegou à conclusão que era tudo devido à hiperatividade", relata o jornalista, que precisou tomar remédios durante seis anos.

http://g1.globo.com/

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