quarta-feira, 18 de julho de 2018

Ciro envia cartas a Boeing e Embraer e diz que fusão deve ser desfeita.

Pré-candidato do PDT à Presidência ainda moderou o tom 
em relação à proposta de revogação da reforma trabalhista.


Ciro Gomes fala com empresários em São Paulo - Edilson Dantas / Agência O Globo

POR LUÍS LIMA

SÃO PAULO — Em encontro com empresários e sindicalistas patronais, o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, defendeu a dissolução do acordo em que a Boeing comprou 80% da área de aviação comercial da Embraer. Ciro disse que enviou uma carta aos presidentes das duas empresas orientado-os a não consumar a fusão até que o próximo presidente tome posse, e que não vê uma possibilidade "saudável" de acordo. — Esse acordo feito no estertor de um governo e na iminência de 84 dias de uma eleição presidencial é clandestino e absolutamente ameaçador da segurança nacional brasileira. Portanto, ele não deveria ser consumado, e, se for, tem que ser desfeito — declarou Ciro, alegando que o conteúdo da carta será divulgado nesta quarta-feira. Ainda no evento, Ciro, que é defensor da revogação da reforma trabalhista, aprovada pelo presidente Michel Temer, moderou o tom. O presidenciável justificou a declaração de revogar pura e simplesmente a reforma, a que já classificou como uma "porcaria", por sua origem de militante. — O que farei é trazer a bola de volta para o meio do campo e rediscutir a reforma trabalhista — disse, reforçando que nada será revogado sem que uma nova proposta seja aprovada. A mudança de tom também é vista como uma tentativa de se aproximar dos partidos do chamado "blocão". Ao moderar o tom, ele atenderia, inclusive, a uma demanda do DEM, partido que ele também luta para ter o apoio. .

Em meio às negociações para o fechamento de alianças na disputa presidencial, Ciro disse que todas as sugestões em discussão com partidos de centro-direita do chamado "blocão" são bem-vindas e nenhuma fere princípios, ou seja, são possíveis de serem conciliadas ao seu plano de governo. O presidenciável falou à tarde em um evento promovido pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), na capital paulista. — Não quero ser dono da verdade, não quero ser ditador do Brasil. Quero reunir as melhores ideias para que o país celebre um novo projeto nacional de desenvolvimento — disse, a jornalistas, após o evento.

Para tentar dar celeridade à conquista de apoio de partidos como DEM, PP, PRB, SD e PR — chamado de blocão — , o assessor econômico de Ciro, Mauro Benevides, foi escalado para dialogar na terça-feira com técnicos indicados por algumas das siglas. O objetivo, segundo um dos caciques do blocão, é o de chegar a um consenso sobre as propostas até o fim da semana que vem. De acordo com Ciro, Benevides deve enviar um e-mail resumindo a conversa ainda hoje. Entre os pontos mais delicados, segundo interlocutores, estão as reformas trabalhista e da Previdência e a intenção de Ciro de estabelecer um limite de gastos para pagamento de juros da dívida pública.

Os caciques do blocão já tiveram duas grandes reuniões em Brasília e em São Paulo desde sábado passado. Questionado sobre quais pontos foram debatidos na ocasião, Ciro limitou-se a dizer que os parlamentares pediram para conversar sobre seu programa de governo, mas que não entraram em detalhes. As negociações continuam nesta semana, com um novo encontro marcado para a próxima quinta-feira.

Mais distante das negociações parlamentares do PR, ligados ao empresário Josué Gomes, filiado ao partido e sondado por Ciro para ser vice, têm manifestado apoio ao pedetista. O momento é oportuno, já que a relação entre o PR e o PSL de Jair Bolsonaro esfriou depois que o senador Magno Malta desistiu de ser vice do ex-capitão do Exército para concorrer à reeleição do Senado, e também diante da resistência de Valdemar Costa Neto, principal liderança do PR, em ceder às imposições de Bolsonaro em alguns estados, como Rio de Janeiro e São Paulo. Ciro afirma que também espera o apoio da sigla.

Em paralelo à aproximação com os partidos de centro, Ciro também mira o apoio de legendas à esquerda. A prioridade é uma aliança com o PSB, a quem ele "quer muito", mas ainda há resistências de lideranças em estados-chave como São Paulo e Pernambuco, onde está a cúpula do partido. Nas palavras de Ciro, o PSB tem sido muito correto em relação a ele, sobretudo ao explicitar contradições existentes em alguns estados. — Salvo o que está acertado na base, tem o PSB de Pernambuco, meus companheiros e amigos, que tem uma preferência de aliança com o PT. E aqui em São Paulo, o meu querido amigo e governador Márcio França tem uma preferência pelo PSDB. Isso está um problema para eles. Para mim, não, compreendo isso completamente — afirmou.

O PCdoB, por ora, sustenta a pré-candidatura de Manuela D´Ávila, e só estaria disposto a retirá-la se houvesse uma aliança de esquerda. Nesta manhã, Ciro e o presidente do PDT, Carlos Lupi, se reuniram em Recife, com a presidente nacional do PC do B, Luciana Santos, o presidente da fundação Mauricio Grabois, Renato Rabelo, e com Renildo Calheiros (irmão do senador Renan Calheiros MDB-AL), integrante do comitê central. Ciro negou a possibilidade de Manuela ser sua vice. — Em nenhum momento nós deixamos de considerar com muito respeito à candidatura [da Manuela], que tem se desenvolvido de forma brilhante. Apenas quis comunicar os meus passos diretamente a eles, porque espero governar com o PCdoB.

Questionado sobre a possibilidade de reunir partidos com diferentes inclinações ideológicas na mesma chapa, o pedetista diz que é "assim que o Brasil foi redemocratizado e assim que o Ceará é governado com grande êxito." — Todos esses partidos fazem parte da nossa aliança no Ceará, o que dá uma certa naturalidade nesse diálogo — disse. — É absolutamente ilusória a ideia de que qualquer um de nós, possíveis candidatos, vai resolver o problema do Brasil sem um amplo diálogo com forças contraditórias às nossas originais — acrescentou.

Ainda na palestra, enquanto falava sobre privilégios de juízes e promotores, Ciro criticou em tom ofensivo o promotor que o processou por injúria racial no caso em que atacou o vereador paulistano do DEM, Fernando Holiday. — Um promotor aqui de São Paulo resolve me processar por injúria racial. E pronto, um filho da puta desse faz isso. Ele que cuide de gastar o restinho das atribuições dele, porque se eu for presidente essa mamata vai acabar — afirmou Ciro.

oglobo.globo.com

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