quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Estupro e misoginia: o cinema espelha a vida


Marlon Brando e Maria Schneider em 'O último tango em Paris'.
Por Ingrid Matuoka

Casos de violência sexual na sétima arte, como o de Maria Schneider, expõem um mundo de machismo e agressões silenciadas por anos. Maria Schneider tinha 19 anos e nenhuma experiência em cinema quando estrelou no filme Último Tango em Paris, em 1972, dirigido por Bernardo Bertolucci. Na obra, ela contracena com o Marlon Brando, que à época tinha 48 anos, na "cena da manteiga", uma das mais famosas da história do cinema. Anos mais tarde, e até a data de sua morte em 2011, aos 58 anos, a atriz alegaria que a atuação, na verdade, foi uma reação a um estupro real, e que ela se sentia humilhada. Ninguém acreditou na atriz. Foi preciso que um vídeo do premiado diretor viesse à tona, por meio da revista feminina francesa Elle, para que se acreditasse que as alegações, a tentativa de suicídio e problemas de drogas de Schneider decorriam do estupro, e não somente da fama, como fizeram acreditar.



Em uma entrevista gravada em 2013, que fora perdida, Bertolucci, hoje com 75 anos, assume que ele e o já falecido ator Marlon Brando conspiraram para que a cena acontecesse sem que Schneider soubesse. Segundo ele, queriam “a reação de uma garota, não a de uma atriz”. O diretor também diz que se sente culpado, mas não arrependido, e justifica o estupro em nome da arte, alegando que para fazer um filme “às vezes é preciso ser frio”, e continua: “portei-me de maneira horrível porque não disse a ela o que ia acontecer. Queria que ela reagisse ao ato de humilhação gritando ‘não, não’. Não queria que Maria fingisse essa humilhação e raiva, mas que ela sentisse raiva e humilhação. E por isso ela me odiou a vida inteira”. Vale mencionar que vários outros homens assistiam à cena no momento em que foi gravada.

O estupro de Schneider não é um caso isolado, mas soma-se a diversas outras violências já divulgadas, que se manifestam desde a desigualdade salarial entre homens e mulheres na indústria cinematográfica e a banalização e romantização de cenas de estupro e agressão a personagens femininas em filmes e séries, até as violações físicas e psicológicas de atrizes

http://www.cartacapital.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário