quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Polícia realiza megaoperação no Complexo do Alemão

Foram presas 22 pessoas, entre elas Edson Silva de Souza, o Orelha, apontado como um dos chefes do tráfico na região.


 FLAVIO ARAÚJO , ALINE SALGADO E FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - Cerca de 300 policiais civis deflagraram por volta das 5h30 desta quinta-feira a Operação Urano, com o objetivo de cumprir 41 mandados de prisão preventiva e sete de busca e apreensão no Complexo do Alemão, na Zona Norte. Várias especializadas como a Delegacia de Combate às Drogas (DCOD), Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) e Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) estão participando da ação. Até o momento, 22 suspeitos foram presos, entre eles Edson Silva de Souza, o Orelha, que seria um dos chefes do tráfico no Morro do Alemão, e quatro menores apreendidos. Um outro traficante, identificado apenas como Marcus Vinícius, foi preso quando estava dormindo ao lado do namorado, na Favela Nova Brasília. Do total de presos, 22 fazem parte da denúncia oferecida pelo Ministério Público. Duas pessoas foram presas em flagrante com drogas e outras duas já tinham mandados de prisão contra elas.

A investigação começou há oito meses e é originalmente da 45ªDP (Alemão), Subsecretaria de Inteligência (SSINTE) da Secretaria de Estado de Segurança, com apoio do Grupo de Apoio Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do MP. Ela tem como objetivo identificar os responsáveis por tentar desestabilizar o processo de pacificação na comunidade. A investigação comprovou que, após a prisão de traficantes da região, foi determinada pela facção criminosa que atua na região reações violentas como forma de retaliações às ações da polícia. Foi descoberto também que os criminosos adotaram a estratégia de usar menores e pessoas sem anotações criminais para atuarem no tráfico, seja na venda das drogas ou nos confrontos. Em escutas telefônicas obtidas com autorização judicial, no dia 27 de abril deste ano, Risodalva Barbosa dos Santos, conhecida como "Paraíba" e esposa do traficante Igor Cristiano Santos De Freitas, o King, diz que "já está com mais de 50 pessoas reunidas esperando a ordem do gerente-geral". Em seguida, o criminoso determina que toda quebrassem toda a base da UPP do Complexo do Alemão e que ainda ateassem fogo nela. Outro ponto que foi descoberto pelos policiais é que os traficantes acompanhavam o deslocamento dos PMs da Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) pela comunidade, a partir da troca de mensagens via celular. Diversas vezes, segundo as investigações, os criminosos ficavam em frente à sede da UPP monitorando os agentes, dificultando a prisão em flagrante de criminosos.

Por conta da operação no Complexo do Alemão, duas escolas da rede municipal de ensino não funcionaram na manhã desta quinta. Com isso, 868 alunos ficaram sem aulas. Já a Secretaria de Estado de Educação afirmou que todas as unidades estão funcionando normalmente na região. Todos os presos estão sendo levados para a Cidade da Polícia, no Jacaré, onde serão apresentados.

Aluno fica na linha de tiro com UPP dentro de escola no Alemão
Comunidade Nova Brasília, no Complexo do Alemão, 17h30 de quinta-feira passada. Num confronto com traficantes, o comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local, capitão Uanderson Manoel da Silva, de 34 anos, morre com um tiro no peito. Duas horas depois, armados de fuzis, policiais miliatres reforçam a segurança na região e caçam o assassino. Tudo normal se um dos locais usados como trincheira por policial não fosse o pátio da Escola Estadual Caic Theophilo de Souza Pinto, na Rua do Terço.


O muro do colégio serviu de escudo e, indignados, funcionários, que estavam dentro do prédio do colégio, fotografaram a ação. Na unidade estudam 820 alunos, divididos em 32 turmas. Pais de alunos, estudantes e professores, dizem ser comum PMs usarem a parte interna do colégio para trocar tiros com quadrilhas. Afinal, a própria sede da UPP fica dentro do terreno da escola, conforme admitiu, em nota, a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc). Em 31 de março, o Sepe repudiou, em sua página na internet, a presença da PM nos limites do Caic Theophilo de Souza Pinto. “A presença ostensiva de policiais fortemente armados no interior da escola põe em risco toda comunidade escolar, violenta princípios pedagógicos e limita consideravelmente o desenvolvimento da educação”, diz o texto.

A imagem feita por um funcionário mostra policial apoiado numa mureta, apontando a arma, a menos de quatro metros de uma das salas de aula. Naquele dia, segundo testemunhas, não houve disparos de dentro da unidade. “É uma situação extremamente absurda. É lamentável que docentes e estudantes tenham que se submeter a tamanho risco e humilhação. Estão esperando acontecer uma tragédia para tomar providência”, afirmou Marta Moraes, diretora do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe). “Essa tensão é quase diária. O medo toma conta de todos”, lamentou funcionária.

UPP pode mudar base
Em nota, a Seeduc afirmou que “a UPP Nova Brasília está instalada em terreno do Caic Theophilo de Souza Pinto”, mas alegou que, “segundo a direção da unidade escolar, a presença da unidade de polícia não trouxe danos ao colégio”. De acordo com a secretaria, as reclamações em relação ao assunto “não representam a maioria dos professores e alunos.”

“É uma denúncia de um professor ligado ao Sepe. Quanto ao índice de violência nas escolas, não temos levantamento. As unidades escolares estaduais – incluindo o Caic — têm funcionado normalmente. A interrupção de aulas tem sido pontual e parcial. Os conteúdos perdidos são repostos”, diz a Seeduc.

O comando da UPP Nova Brasília alegou, em nota, que o que funciona no espaço é “uma base comunitária e que confrontos não são recorrentes... Se depois de contato com a escola for confirmado risco para alunos e funcionários, um novo local será estudado para a realocação da base”, explica a nota.

Desempenho baixo em área de risco
No mês de agosto, um estudo feito pela pesquisadora Joana Monteiro, da Fundação Getúlio Vargas, revelou que estudantes de escolas instaladas próximo ou no interior de áreas de risco pontuam menos em provas que medem conhecimentos, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e a Prova Brasil. Os números confirmam. Pelo menos é o que mostra o resultado do Ideb relativos à Escola Estadual Caic Theophilo de Souza Pinto, cujo 9º ano do Ensino Fundamental obteve notas — numa escala de 0 a 10 — 2,6 e 2,6 em 2011 e 2013. Nos dois anos, a escola não alcançou as médias estaduais: 3,2 e 3,6.

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