Ilha do Governador tem 12 praias impróprias, mas está entre os mais altos IDHs do Rio

Ponte sobre o mangue no Fundão, com suas águas degradadas, no contraste com as melhorias recebidas na Ilha | Foto: Márcio Mercante / Agência O Dia

POR Maria Luisa Barros

Rio - Morador ilustre do bairro, o poeta Vinícius de Moraes cantou em prosa e verso as belezas da Ilha do Governador. Lembrava com saudade a infância feliz na praia de Cocotá. Quase um século depois, muita coisa mudou na região, formada pela junção de 15 bairros. A Ilha se modernizou, recebeu estaleiros e hospitais, e manteve o clima familiar de cidade do interior. Mas a poluição de suas 12 praias destoa. Já nos transportes, seus 300 mil moradores ganharam a primeira ponte estaiada do Rio de Janeiro e em breve contarão com os corredores expressos da Transcarioca para chegar mais rápido à Barra da Tijuca.

Berço da União da Ilha, do Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim (Galeão) e da maior universidade federal do País, a UFRJ, é a área da Zona Norte com maior poder aquisitivo e um dos melhores índices de desenvolvimento humano da cidade. O IDH do arborizado e confortável Jardim Guanabara é comparável ao de bairros nobres da Zona Sul, como Leblon e Urca.

“Aqui é uma beleza. É muito família”, reconhece Tia Noêmia, 80 anos, uma das fundadoras da escola de samba União da Ilha. Como ela, a passista Mariana Reis, 21 anos, gosta da tranquilidade da região. “A noite é movimentada e segura”, diz a professora de dança e aluna de Educação Física da UFRJ.

De fato, o bairro comemora a redução da criminalidade em relação ao ano passado. No primeiro trimestre deste ano, a região registrou queda no número de homicídios (50%), roubos a pedestres (17,3%) e a ônibus (52%). Apesar da melhora nos índices, de janeiro a março os furtos de veículos subiram de 37 para 62 casos e a lesão corporal dolosa passou de 240 para 263 vítimas.

No carnaval, a União da Ilha, orgulho dos “insulanos”, exaltará na Avenida o centenário de Vinícius. Mas o compositor hoje ficaria desolado diante de tanta poluição nas 12 praias da região. “Antigamente vinham turistas conhecer a orla. Hoje entrar na água é um risco à saúde”, alerta a passista e cozinheira Rosanne Rodrigues, 24 anos.
 
Pescadores esperam despoluição da praia da Bica, prometida para 2013
A degradação da Baía de Guanabara afetou a vida de comunidades de pescadores. “Há 30 anos, havia todo tipo de peixe à beira da praia. Hoje tenho que ir cada vez mais distante. E a quantidade é cada vez menor. Só dá tainha e corvina pequena, por causa da pesca predatória sem fiscalização”, se queixa o pescador André Luiz, 53 anos. Um programa da Secretaria Estadual do Ambiente com a Cedae pretende despoluir a praia da Bica até novembro do ano que vem.

Na Central de Atendimento ao Cidadão1746 — os serviços mais pedidos pelos moradores da Ilha são poda de árvore, retirada de entulhos, tapa buracos, carros abandonados e estacionamento irregular. De acordo com o subprefeito Victor Accioly, desde 2010, foram revitalizadas 83 praças, como a Iaiá Garcia, na Ribeira, por meio do programa de Adoção de Áreas Públicas por empresas. De janeiro a março, a Comlurb podou 19.982 árvores. No segundo semestre deste ano, os moradores devem ganhar um novo hospital municipal, no bairro da Portuguesa.
 
Invasão de topiqueiros preocupa
Presidente da Associação de Moradores do Bancários, Luciano Monteiro, diz que o bairro conta com apenas duas linhas de ônibus. “Espero que com a Transcarioca o trânsito na Ilha fique melhor”, diz. Com pouca oferta de linhas regulares, o bairro sofre com a invasão de topiqueiros ilegais. “É briga de gato e rato. Eles burlam a fiscalização alertando uns aos outros pelos rádios quando há blitz”, diz o subprefeito da Ilha, Victor Accioly.
 
‘Ainda não dá para entrar na água’
Conta a tradição que a Praia da Bica ganhou este nome por causa de uma fonte onde o jovem príncipe D. Pedro costumava se banhar. Dois séculos depois, a sujeira tomou conta de suas águas. Recentemente a orla foi revitalizada e passou a atrair esportistas como Daniel Moraes, 26 anos. “Estava tudo em ruínas. Os quiosques foram reformados e até a noite vem muita gente se exercitar. Mas infelizmente ainda não dá para entrar na água”, lamenta o morador.
 
A REGIÃO EM NÚMEROS
Área: 36,12 km²
População: 300.000
Bairros: Bancários, Cacuia, Cidade Universitária, Cocotá, Freguesia, Galeão, Jardim Carioca, Jardim Guanabara, Moneró, Pitangueiras, Portuguesa, Praia da Bandeira, Ribeira, Tauá, Zumbi
Escolas: 84
Renda familiar: R$ 4.325
Hospitais: 4
Agências bancárias: 22

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