Lira perde poder na Câmara após série de derrotas políticas por não cumprimento de promessas.

 
Por Sílvio Ribas
Brasília

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), experimentou o primeiro declínio em seu considerável poder de influência em um curto período de apenas uma semana. A falta de cumprimento das promessas feitas por Lira a deputados resultou na formação do maior bloco partidário da Câmara, com 142 deputados, dos partidos MDB, PSD, Podemos, Republicanos e PSC. A formação no bloco, que ocorreu na terça-feira (28), também foi em parte causada por uma derrota anterior. Na quinta-feira (23), o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), forçou a instalação imediata de comissões mistas – formadas por deputados e senadores – para analisar medidas provisórias (MPs) editadas pelo governo Lula. Lira se opôs, ameaçou sabotar as comissões, mas acabou cedendo. Sua derrota encerrou uma queda de braço de quase dois meses entre a Câmara o Senado. Lira queria manter o rito expresso de tramitação das MPs, adotado na pandemia, que favorecia a Câmara.

Lira ainda é detentor do maior domínio político já obtido por um presidente da Câmara, construído com sua reeleição de 1º de fevereiro. Na ocasião, ele recebeu 464 dos 513 votos do plenário e apoio de 20 partidos, com uma oposição restrita aos extremos PSOL e Novo. Mas, ele não conseguiu repartir os prometidos espaços extras de poder a apoiadores internos, na forma de mais cargos na própria Câmara ou indicações na máquina de governo, além de mais verbas do Orçamento Federal. Por isso, teve que assistir à inesperada criação de bloco partidário majoritário na Câmara, formado por MDB, PSD, Podemos, Republicanos e PSC, que ficará situado fora do seu controle direto.

Pelas redes sociais, Lira parabenizou os líderes dos partidos que formam o novo bloco. "Sempre defendi a unidade para reduzirmos o número de partidos, fortalecendo-os e dando à sociedade confiança no nosso sistema partidário", publicou ele juntamente com uma foto tirada na quarta-feira (29) com os deputados líderes das legendas Hugo Motta (Republicanos-PB), Isnaldo Bulhões (MDB-AL), Antonio Brito (PSD-BA) e Fábio Macedo (Podemos-MA), este eleito para liderar o bloco. Sua intenção era mostrar que não se sentiu em nada ameaçado de perder relevância após a novidade. O agrupamento de legendas se descola do chamado blocão, forjado na articulação para reeleger Lira à Presidência da Casa. O líder Fábio Macedo, que também lidera o Podemos e o PSC, é ligado ao ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB). Ele negociará de forma autônoma pautas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Seu vice é o líder do PSD, Antonio Brito. A mudança reflete também o desejo dos caciques Baleia Rossi (MDB-SP) e Gilberto Kassab (PSD-SP) de descolarem suas siglas do Centrão. A eles se juntou o deputado Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos, primeiro-secretário da Câmara e, curiosamente, aliado de Lira. MDB, PSD, e Republicanos têm 42 deputados cada; Podemos, tem 12, e PSC (em processo de fusão com o Podemos) tem quatro. MDB e PSD integram formalmente a equipe do governo.

Em seu primeiro mandato como deputado federal, Macedo é um dos poucos maranhenses com destaque na Câmara, justamente em razão de seus feitos na condução de articulações com o governo e a oposição. “Tive a honra de ser eleito líder do maior bloco da Câmara, composto por grandes partidos, cujos líderes chegaram ao consenso em torno de meu nome. Com humildade e firmeza, assumo o compromisso com os valores sociais e econômicos desse grupo de parlamentares e espero que todos trabalhemos com unidade e força”, disse ele à Gazeta do Povo, sem querer antecipar quaisquer posicionamentos em votações futuras. A base expressamente governista da Câmara é composta pela federação de esquerda PT-PCdoB-PV (81 deputados), PDT (17), PSB (14), PSOL-Rede (14), Avante (sete) e Solidariedade (cinco), totalizando 138 deputados. Se o novo bloco vier a atuar favoravelmente ao governo, Lula poderá, em tese, alcançar 280 votos, suficientes para aprovar projetos. Com isso, estaria resolvida a questão alertada pelo próprio Lira, de que o governo "não tem votos para aprovar nem uma matéria simples" na Casa.

O consenso nos bastidores é que Lira deixou de ser o único fiador da governabilidade, embora continue sendo responsável por definir a pauta da Câmara e sendo fator-chave na aprovação, por exemplo, de emendas à Constituição no seu biênio. Mas, após a criação do novo bloco, há rumores de que Lira não perdeu tempo e já iniciou tratativas com líderes de outras legendas, até de fora do Centrão, para reagir e criar outro bloco, o qual pode ser ainda maior do que o novo grupamento.

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