Simone Tebet, entre o machismo e a estratégia política.

 
'Desde o início, a senadora pretendia o Ministério do Desenvolvimento Social. O 
motivo, obviamente, é ter plataforma que lhe proporcione visibilidade para 2026'.

Wagner Parente

"Marina resiste em ceder Ministério para Tebet". Essa foi a manchete de alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil sobre a escolha de Lula para o Ministério do Meio Ambiente. É importante ter em mente a isenção de responsabilidade que o presidente eleito conseguiu com essa manchete: não foi Lula que negou à Tebet um Ministério relevante, mas sim uma outra aliada que está acima de qualquer suspeita para assumir a pasta do meio ambiente. Evidentemente, trata-se mais uma vez de uma bem montada estratégia de comunicação. Afinal, Tebet teve sim papel fundamental para a campanha do presidente eleito no segundo turno. Na ocasião, foi prometido um Ministério para a ex-senadora, que manifestou interesse em uma pasta da área social. À medida que as cadeiras vão sendo ocupadas, cresce a sensação de traição. A manchete da semana passada é uma vacina contra a pecha de desleal. No entanto, a realidade é bem mais complexa do que os rótulos que a opinião pública constrói.

Em primeiro lugar, o partido de Tebet nunca foi uníssono no apoio de sua candidatura e continua não sendo para uma vaga na Esplanada dos Ministérios. O MDB tem interesse no Ministério dos Transportes, que talvez fique mesmo com o senador eleito Renan Filho (AL), e no Ministério das Cidades. Esse segundo ministério poderia ir para Tebet, mas não existe consenso no partido. A dúvida é se outro nome do MDB poderia assumir o Ministério das Cidades. Um dos cotados seria o deputado José Priante (PA). Nesse caso, Tebet poderia ir para outro Ministério, talvez o do  Planejamento. De qualquer forma, não era esse o plano de Simone Tebet. Desde o início, a senadora pretendia o Ministério do Desenvolvimento Social. O motivo, obviamente, é ter uma plataforma que lhe proporcione visibilidade para voltar competitiva na eleição presidencial de 2026.

"É bem impressionante que quando uma mulher começa a se destacar na 
política nacional, sempre aparece todo tipo de atrocidades infundadas"

Não existe interesse dentro do Partido dos Trabalhadores de fortalecer um nome fora dos seus quadros, mas deixar Tebet fora do primeiro escalão é fora de questão, visto as promessas feitas pelo próprio presidente eleito. A solução é lhe conceder um ministério que tende mais para a burocracia do que para os holofotes: o do Planejamento. Como política habilidosa que é, Tebet entende perfeitamente o que está acontecendo. A indicação para o Ministério do Meio Ambiente parece ter sido jogo de cena, mas sem apoio do seu partido, ela fica sem opção para pleitear um ministério que lhe proporcione a visibilidade que almejava.

Aliás, é bem impressionante que quando uma mulher começa a se destacar na política nacional, sempre aparece todo tipo de atrocidades infundadas, por vezes até proveniente de fogo amigo. A versão (completamente infundada) que o distanciamento entre Tebet e Lula teria como base os ciúmes da companheira do presidente eleito, Rosângela Lula da Silva, é prova disso. Sempre aparece uma versão de cunho amoroso-sexual nessas situações. Brasília é incrivelmente previsível e patética nesse sentido.

É necessário ter cuidado redobrado nas análises: existe sim a estratégia política dentro do PT de dar um espaço que não fortaleça demais Simone Tebet, e existem também as intrigas machistas palacianas, que se alimentam dessa estratégia, mas que nada têm de verdadeira. As manchetes dificilmente trazem a reflexão necessária para diferenciar as duas coisas.

A coluna deseja a todos um excelente final de ano e um 2023 repleto de alegrias e saúde. A certeza que temos é que, se depender da política, de tédio não morreremos.

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