À espera de julgamento de contas de campanha, aliados de Moro culpam Podemos por supostos vazamentos.

 
Entorno do ex-juiz fala em 'revanchismo pós-Lava-Jato'; PL vê irregularidades 
na prestação, o que abriria brecha para nova eleição no Paraná.

Por Gustavo Schmitt, O Globo — São Paulo

Em meio a ataques e críticas que vão da esquerda à direita, aliados do senador eleito pelo Paraná, Sergio Moro (União Brasil), preveem um ambiente de hostilidade contra ele na próxima legislatura. O entorno de Moro atribui ao que chamam de "clima de revanchismo pós-Lava-Jato" uma ação do PL de cassação na Justiça Eleitoral do Paraná pelo uso de recursos de sua pré-candidatura à Presidência da República na prestação de contas ao Senado. O entorno do ex-juiz suspeita que a ação tenha sido instruída com documentos da pré-campanha vazados por desafetos no Podemos — sigla que deixou após desavenças em torno de seu projeto presidencial frustrado. Para a direção do PL, no entanto, essas supostas irregularidades na prestação de contas do ex-magistrado abrem uma brecha para se realizar uma nova eleição no Paraná e Paulo Martins, candidato do partido que ficou em segundo lugar, poderia ocupar uma vaga na Casa.

Na ação, que corre em sigilo, a acusação argumenta que os gastos de Moro na pré-campanha estimados em cerca de R$ 2 milhões e sua superexposição midiática comprometeram a igualdade do pleito. O ex-juiz ensaiou uma candidatura presidencial pelo Podemos. O partido bancou um endereço em São Paulo para abrigar a campanha, pagou salário fixo de R$ 22 mil por mês ao ex-juiz e manteve um marqueteiro à disposição dele. Só o evento de filiação de Moro custou em torno de R$ 200 mil. Ainda assim, o ex-juiz alegou desentendimentos internos e migrou para o União Brasil.

Pessoas próximas a Moro questionam ainda a participação na ação do PL do advogado Bruno Cristaldi, que atuou para o Podemos em outros casos. Cristaldi disse ao GLOBO que trabalha para diversos políticos e partidos e negou qualquer problema. O Podemos preferiu não comentar o assunto. O caso corre em sigilo, mas, reservadamente, pessoas próximas ao ex-juiz rebatem as acusações sob o argumento de que o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) aprovou as contas do ex-magistrado.

Para juristas experientes ouvidos pelo GLOBO, mesmo que o TRE-PR considere o caso "improcedente", um recurso feito pela defesa ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) colocaria o ex-juiz num ambiente visto como desfavorável em razão de suas desavenças com membros de Cortes superiores durante a Lava-Jato. Esses especialistas em direitos eleitoral lembram ainda que casos de problemas em prestação de contas semelhantes aos imputados a Moro já ensejaram cassação e inelegibilidade dos suplentes.

Como mostrou a colunista Bela Megale, o PL se espelha no caso da senadora Selma Arruda. Em 2019, em seu primeiro ano de mandato, a então senadora teve seu mandato cassado pelo TRE do Mato Grosso. Posteriormente, a decisão foi confirmada pelo TSE. Na ocasião, a Corte eleitoral determinou que uma nova eleição para senador fosse realizada no estado. O vencedor foi Carlos Fávaro, do PSD, que hoje integra a equipe de transição do governo Lula na área da agricultura. Advogado de Moro, Gustavo Guedes diz que só vai se manifestar quando tiver acesso à petição inicial. O caso está sob a relatoria de Mário Helton Jorge, que é corregedor substituto e desembargador do TRE-PR. Ao ser eleito, Moro ficou com a vaga do senador Alvaro Dias (Podemos-PR), seu ex-padrinho político. Moro foi eleito para senador pelo Paraná com 33% dos votos. Paulo Martins ficou em segundo lugar, com 29%. Dias amargou o terceiro lugar.

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