Brasil precisa decidir se continuará pagando férias milionárias a Bolsonaro.

 
Leonardo Sakamoto
Colunista do UOL

Jair Bolsonaro curtiu férias de R$ 900.000,00 no litoral de Santa Catarina bancadas com o nosso dinheiro enquanto voluntários tentavam salvar pessoas em um Sul da Bahia submerso por enchentes. Isso mostra um presidente coerente. Afinal, ele sempre defendeu que "a morte é o destino de todo mundo" e, por isso, devemos tocar o barco em frente, não importa o que aconteça. No caso, barco, não, jet ski. Os sete dias em que passou em São Francisco do Sul custaram aos cofres públicos R$ 899.374,60, de acordo com dados obtidos pelo jornal O Globo através da Lei de Acesso à Informação. Nesse período, andou de moto aquática e deu cavalinho de pau em carro de corrida, enquanto terceirizava a gestão da crise na Bahia e seus 25 mortos para ministros que serão candidatos a cargos públicos no Nordeste. Bolsonaro e sua equipe de apoio haviam, custado para nós cerca de R$ 1.800.000,00 em hospedagem alimentação, passagens aéreas e gastos no cartão corporativo, no Carnaval do ano passado, na mesma São Francisco do Sul.

E na virada de 2020 para 2021, ele já tinha usado R$ 2.300.000,00 milhões dos cofres públicos para curtir São Francisco do Sul e o Guarujá (SP). As informações foram requeridas ao governo pelos deputados federais Elias Vaz (PSB-GO) e Rubens Bueno (Cidadania-PR). De acordo com levantamento mensal do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), a cesta básica custava R$ 540,00 em janeiro deste ano em Salvador. Com os R$ 900.000,00 de grana pública que Bolsonaro torrou para se divertir em uma única semana, ele poderia ter destinado mais de 1.660 cestas às famílias desabrigadas no Sul da Bahia, Minas Gerais, São Paulo e/ou Rio de Janeiro, por exemplo.

O valor das férias presidenciais comparado aos bilhões que o Brasil precisa para combater a fome, ativar a economia, comprar vacinas, construir casas para os desabrigados pelas chuvas, correr atrás do prejuízo educacional é quase nada. Mas é uma questão de que exemplo que ele dá (nenhum, no caso) e de empatia (ou falta dela) com quem está na lama. Muitos brasileiros gostariam de estar fazendo a mesma coisa que Jair, andando de jet ski, passendo em lancha, dando cavalinho de pau. Projetam-se no presidente, que se vende como um cidadão comum que chegou ao poder. Mas um cidadão comum não passa quase três décadas como parlamentar, construindo um esquema familiar de desvios de salários de servidores. O problema é que de um presidente espera-se solução para os problemas do país e não uma versão decadente de Ferris Bueller no clássico Curtindo a Vida Adoidado.

Bolsonaro transforma a presidência em um reality a céu aberto, no qual o que importa é ele estar eternamente em evidência para não ser votado para fora do Palácio do Planalto. Enquanto isso, parte do Congresso e seus assessores vão aprovando a desregulamentação do país, afrouxando as regras que garantem um mínimo de qualidade de vida no pós-ditadura. Inclusive as regras ambientais, ajudando a piorar o caos trazido pelas chuvas. Mais do que isso: de acordo com o artigo 7º da Constituição Federal, o direito a férias remuneradas, e seu adicional, pressupõe que a pessoa trabalhou para merecê-lo. O que, convenhamos, não foi o caso. O presidente passou a maior parte do tempo em campanha eleitoral ou descansando. É um caso raro de alguém que ganha férias bem pagas sem ter trabalhado para tanto. "Sou um cidadão comum!" Ahã, Jair, senta lá.

Tudo isso confirma uma dificuldade estrutural do presidente em diferenciar o que é público do que é privado. Isso já havia ficado claro com as denúncias de que embolsava salários de servidores de seu gabinete quando deputado federal, as famosas "rachadinhas". Ou quando bradou que mexeria no comando da Polícia Federal para proteger familiares e amigos. Ou ainda ao dizer "pretendo beneficiar um filho meu, sim", ao tentar indicar um de seus filhos para embaixador nos EUA. Torrar essa grana em diversão enquanto outros morriam em tragédia é apenas mais um capítulo de seu mandato.

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