Abandonada à própria sorte, Copacabana assiste à decadência de seus principais edifícios e negócios privados.

 
Como as autoridades não fazem a sua parte, particulares demonstram perder as esperanças na recuperação do bairro, e deixam seus negócios e imóveis degradarem-se. Até a Body Tech do bairro enfrenta a decadência.

PorQuintino Gomes Freire

A princesinha do mar, com seus edifícios de luxo altos e debruçados sobre o ‘colar de pérolas’ da orla, seu comércio ativo e pujante, seus calçadões em pedras portuguesas com projeto de Burle Marx, sua linda praia e tudo o mais que simboliza o bairro mais famoso do Brasil, pede socorro. Tomado por mendigos, pivetes e pedintes, pela sujeira e ferros velhos itinerantes, comerciantes e moradores da região mais turística da cidade parecem resignar-se e abandonar o zelo com seus próprios negócios e imóveis. O abandono do bairro pela Subprefeitura da Zona Sul, a desordem urbana generalizada, a formação de espaços em pleno asfalto que são geridos pelo poder paralelo – como noticiamos aqui, com a Esquina do Terror – e até mesmo a mudança informal dos nomes de logradouros para apelidos nada abonadores, como “Largo do Arrastão” e “Calçadão caça-cordão” se tornaram realidade. Regiões como a Praça Serzedelo Corrêa, a esquina da Constante Ramos com a Domingos Ferreira e grande parte da Prado Júnior, estão praticamente perdidas para o crime organizado e a mendicância. Os exemplos são muitos.

O completo esquecimento de Copacabana pelo governo se reproduz, agora, em muitos estabelecimentos particulares. O edifício Centro de Copacabana é um deles. Bem em cima de uma fachada viva das mais movimentadas de Copacabana – a bem freqüentada loja Fiszpan, o gostoso Cafeína, o jovial Kone e a sorveteria Itália – sofre com a profunda decadência. Pra quem não sabe, o prédio localizado na esquina da Avenida Copacabana com a rua Constante Ramos, sempre foi a ‘mais fina flor‘ dos escritórios do bairro. A grande maioria de suas salas comerciais chega a ter vista para o mar, o prédio tem garagem além de ótimas lojas embaixo, e uma belíssima frente para o ponto mais valorizado do bairro. São salas de aproximadamente 30m2, que costumavam ser disputadas a tapa por profissionais liberais de todo o Rio.

Hoje, o edifício, na Constante Ramos, 44, é a cara do abandono. Sua fachada imunda, seu letreiro decrépito, gambiarras de fios subindo fachada acima, contrasta com o passado recente em que ter uma sala ali era garantia de boa renda. “A letra N caiu há cerca de 2 anos“, reclama Carlos, ex-inquilino de uma sala no local, e que se mudou recentemente para o Centro da Cidade. A reportagem esteve no local e viu que a letra C é a próxima da lista. Enquanto tirávamos a foto, um garagista gritava palavrões. O prédio tem 11 andares e 110 salas.

Para André Cyranka, diretor de uma imobiliária em Copacabana, o prédio sofre com a decadência há alguns anos. “Com simples pesquisa na internet, se verifica que há mais de 30 salas disponíveis pra venda e locação, em preços que não chegam à metade do que se pedia em 2017“. Segundo o profissional, as salas, que eram vendidas a R$ 400.000,00 agora não raro o são por R$ 170.000,00, uma queda de mais de 50%. Uma simples pesquisa que fizemos em portais de imóveis mostra que há mais de 30 salas disponíveis no prédio. Se a busca for de locação, há salas por R$ 500,00. Para ele, este é um fenômeno comum na Copacabana de hoje: se a prefeitura não faz sua parte, os prédios ficam mais vazios, têm maior inadimplência, e acabam se tornando decadentes, por falta de manutenção.

Algo semelhante ocorre na Academia de Ginástica Fórmula, na rua Barão de Ipanema. Lá, um vazamento de água que nunca é corrigido, afasta alunos. “A academia era até bonita, mas se tornou um lixo, vaza água por tudo que é lado e ninguém conserta nada.“, disse Paulo Silva, que ‘malhava’ lá até pouco tempo, e acabou se mudando para uma outra academia mais nova.

E se as pessoas pensam que nome é tudo, melhor nem falarmos das reclamações que temos recebido aqui na redação da filial da badaladíssima Body Tech, na Avenida Copacabana, número 801. Inaugurada com estardalhaço como a academia mais moderna do bairro, o empreendimento hoje sofre com o abandono e se destaca – mal – com o apelido de “bodytech baixa renda“, apesar de cobrar a mesma mensalidade da época da inauguração. Os vidros de sua fachada totalmente manchados e apodrecidos chamam atenção. O revestimento do prédio, arranhado e depredado. Segundo alunos, os aparelhos de ginástica são cada vez mais ultrapassados e estão em mau estado, e por vezes nem mesmo funcionam. “Nem o bebedouro tem água gelada“, disse uma das funcionárias, pedindo anonimato. Disse também que os ar condicionados pingam sem parar, e não têm manutenção adequada. “É difícil para qualquer síndico ou comerciante ter esmero no cuidado com a propriedade num bairro em que sabemos que o que consertarmos vai ser destruído por cracudos e moradores de rua“, diz Adriano Silva, síndico de um prédio na Barão de Ipanema. Os drogados estão roubando os números dos prédios, segundo ele. Tanto que alguns estão substituindo os números mais bonitos, em metal, por adesivos, como o fez o Edifício Açumar, na Rua Constante Ramos (foto abaixo). Outros, como o histórico edifício São Paulo, na Barão de Ipanema, tiveram o número original furtado e compraram números comuns, daqueles vendidos em papelaria, para fixar na fachada. Outro detalhe curioso: o famoso edifício projetado pelo arquiteto Christiano Stockler das Neves, substituiu a luminária original da sua marquise por uma espécie de “globo de banheiro“, além de estar com a fachada imunda cheia de marcas de mão, dedos, graxa, e sabe-se lá mais o que. Novos tempos….

Noticiamos aqui o furto do letreiro da antiga Confeitaria Colombo, na esquina da Barão com a Avenida Copacabana. A imensa loja, que recebeu a elite brasileira de uma época, é hoje uma Agência do Banco do Brasil. Mas, diferente das academias e condomínios que já parecem ter ‘jogado a toalha’ e se entregue ao caos e à desordem como não houvesse mais esperanças, o banco agiu: os letreiros de frente para a avenida Copacabana foram recolocados, e estão lá tinindo de novos, feitos no mesmo material dos que foram roubados. Porém, do letreiro da Confeitaria Colombo pela Rua Barão de Ipanema só restam as marcas. Simplesmente todas as letras foram furtadas, sob as barbas das autoridades responsáveis pelo bairro. “Parece que a Subprefeita se contenta com o passado glorioso do bairro, porque trabalhar e andar na rua para defendê-lo no presente, ela não quer“, dispara Francinete Vieira, moradora do bairro.

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