Em conversa, Xi e Putin prometem trabalhar por 'governo inclusivo' no Afeganistão.


Presidentes da China e da Rússia conversaram pela primeira vez desde que 
Talibã retomou Cabul; Putin envia aviões para evacuar russos de Cabul.

O Globo e agências internacionais

PEQUIM E MOSCOU — Os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, conversaram na quarta-feira, em seu primeiro telefonema desde que o Talibã retomou o poder no Afeganistão, no último dia 15. Eles concordaram em trabalhar em conjunto para impedir que a crise no país da Ásia Central se transforme em um risco de segurança regional. Segundo o jornal estatal chinês Global Times, Xi voltou a afirmar que respeita “a soberania, independência e integridade territorial” do Afeganistão e que insiste na “não interferência em suas questões domésticas”. O líder chinês, porém, disse estar disposto a trabalhar com outros países, como a Rússia, em um esforço conjunto para encorajar todas as facções políticas afegãs a construírem um governo inclusivo: —  Uma estrutura política aberta e inclusiva por meio da consulta, da implementação de políticas internas e externas prudentes e moderadas, a desassociação completa de todos os grupos terroristas e manter relações amigáveis com o resto do mundo, especialmente países vizinhos —  disse Xi sobre o que espera dos talibãs no poder.

A China se preocupa especialmente com as relações dos talibãs com o Movimento Islâmico do Turquestão (Etim, na sigla em inglês), que recebeu treinamento e armas do grupo e da al-Qaeda de Osama bin Laden para lutar pela independência de Xinjiang, província no leste da China onde metade da população é muçulmana, a maioria da etnia uigur. O Kremlin, por sua vez, disse que os presidentes expressaram durante o telefonema sua intenção de “aumentar os esforços para combater ameaças de terrorismo e tráfico de drogas” vindas do Afeganistão. Discutiram também a “importância de estabelecer paz” no país da Ásia Central e “prevenir que a instabilidade se dissemine para o resto da região”.

O telefonema de Putin e Xi ocorreu um dia após os líderes do G-7 se reunirem para discutir a crise afegã. Apesar da pressão de aliados, o grupo a princípio não convenceu o presidente americano, Joe Biden, a adiar a retirada dos combatentes americanos do Afeganistão, prevista para o dia 31 de agosto. Mais cedo, o Talibã  já havia reiterado que não aceitará uma prorrogação do prazo. Ao contrário de vários países que correram para fechar suas embaixadas com o retorno do grupo fundamentalista ao poder, Moscou e Pequim mantêm suas representações diplomáticas em Cabul abertas. Nos últimos meses, conforme foi ficando claro que um retorno do grupo fundamentalista ao poder era inevitável, tanto russos quanto chineses sentaram-se à mesa com representantes do Talibã. O chanceler da China, Wang Yi, chegou a receber o chefe do birô político talibã, o mulá Abdul Ghani Baradar, para reuniões na cidade de Tianjin no mês passado.

Após a tomada de Cabul se concretizar, ambos os países emitiram notas amistosas sobre o grupo fundamentalista, deixando claro sua disposição em colaborar. Pequim disse na ocasião que desejava manter “relações amistosas” com os talibãs, seguindo com sua política de dialogar com quem está no poder. Os russos, por sua vez, anunciaram o estabelecimento de contatos com representantes das “novas autoridades afegãs”. Putin, ainda assim, enviou quatro aviões militares para Cabul, evacuando mais de 500 pessoas, entre elas não apenas cidadãos russos, mas também de países aliados como Bielorrússia, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão.

Se na semana passada Moscou insistia que a situação estava “se estabilizando” e um “banho de sangue entre os civis foi evitado”, a retórica é outra nesta quarta. Os russos justificaram a evacuação afirmando que o clima na região é "muito tenso" e o risco de ameaças terroristas, "muito alto", citando a presença de células do Estado Islâmico no Afeganistão. Muito influente na Ásia Central, a Rússia teme particularmente que o Afeganistão sob o comando do Talibã seja um solo fértil para atividades terroristas. Realiza, por exemplo, exercícios militares conjuntos com o Tadjiquistão para fortalecer a segurança na fronteira do país com o Afeganistão.

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