RIO DE JANEIRO - Cariocas que dependem da mobilidade pública sofrem sem medidas sanitárias.

 
Reportagem acompanha batalha dos cariocas por espaço nos trens e no BRT, 
diariamente lotados mesmo com a recomendação de distanciamento social.

POR YURI EIRAS

Rio - "Vamos todos colados, amassados, faço a viagem inteira sem ter onde colocar o braço". A descrição da rotina nos trens da Supervia feita pela passageira Kelly Thayná Moreira é da última quarta-feira, um ano e pouco mais de um mês depois da pandemia ter tornado o distanciamento uma regra social. Mas poderia ser de qualquer outro período das últimas décadas. E de qualquer outro meio de transporte coletivo. Na prática, a realidade dos cariocas que dependem da mobilidade pública passa longe de das medidas sanitárias. A reportagem do DIA acompanhou na terça-feira (20) uma viagem de trem da Pavuna até a Central do Brasil, além do movimento nas estações de BRT. O flagrante foi de uma multidão que por mais que tente respeitar as medidas de distanciamento, não tem outra opção a não ser aglomerar. "Não posso esperar vir um vagão vazio. O patrão tem pressa", disse Kelly, usuária do ramal de Belford Roxo.

O vidraceiro Rilton Lima Nunes encara um trem de Japeri até a Central, e um metrô até a estação Uruguai, na Tijuca. A avaliação é de que os vagões estão tão cheios quanto antes da pandemia. "Pego o Japeri lotado todos os dias, e não mudou absolutamente nada. Só deu uma aliviada na semana que antecipou os feriados (entre o fim de março e o início de abril). E isso é tanto na vinda, quanto na volta", afirmou Rilton. "Para se cuidar, só se a gente tomasse banho de álcool em gel de dois em dois minuto. A gente tenta manter os cuidados, mas é difícil".

O construtor Anderson Passos também viaja no mesmo ramal e precisa usar a conhecida tática: ele pega um trem de Engenheiro Pedreira até a estação final, em Japeri, para ter a oportunidade de viajar sentado, no sentido oposto, até a Central. "Trabalho de segunda-feira a sábado na Zona Sul, faço o trajeto diariamente e vejo que continua lotado, igual os dias normais. A solução, na minha opinião, seria eles suspenderem a redução da frota, que foi feita no fim do ano passado", avaliou o usuário.

A Supervia reduziu o número de viagens em todos os ramais, em novembro do ano passado, depois que o serviço observou uma queda no número de passageiros. Em nota, a concessionária informou que hoje "transporta apenas cerca de 300 mil passageiros por dia, metade do que transportava antes da pandemia", e que a grade horária "praticada atualmente está adequada à demanda de clientes". A empresa informou ainda que "monitora a taxa média de ocupação dos trens, que tem se mantido abaixo dos percentuais estabelecidos pelas autoridades. No ramal Japeri, por exemplo, a taxa de ocupação média registrada nos horários de pico na última semana foi de 37,4% (manhã) e de 46,6% (tarde). A medição é feita diariamente, baseada em critérios técnicos, definidos e fiscalizados pela Agetransp. Vale reforçar que o transporte de alta capacidade em todo o mundo, como é o trem, é projetado para transportar 20% dos passageiros sentados e os demais em pé".


'Diretão' do BRT ainda divide opiniões
No BRT, a intervenção temporária realizada pela prefeitura tem tentado buscar soluções para os problemas crônicos de superlotação. Uma das ações municipais foi a implementação dos chamados 'diretões', ônibus convencionais que passaram a circular nos corredores exclusivos para desafogar a frota. Os ônibus fazem as ligações Magarça x Alvorada, Santa Cruz x Alvorada e Pingo D'Água x Alvorada. A frota circula no horário de pico da manhã, das 05:00h às 08:00h, e no sentido inverso, à tarde, das 16:00h às 20:00h. Para essa operação, são utilizados 70 ônibus convencionais que alimentam as três linhas.

Para parte da população, a medida já fez efeito. "A condução melhorou e ainda tem lugar para escolher. E olha que são 07:27h. Está show de bola", elogiou Anderson Pereira, usuário na estação Pingo D'Água. "Pego o BRT desde que inaugurou. Com essa decisão de colocar os ônibus 'diretões', pelo menos para quem usa essa parte do serviço melhorou bastante. Organizou fila, diminuiu tempo de viagem, acabou com o empurra-empurra", complementou Matheus Afonso.

Mas os 'diretões' ainda divide opiniões. Para o passageiro Igor Tavares, que pega no BRT Magarça, a implementação da frota ainda não fez diferença. "A fila é enorme. Você tem seu horário, mas a fila é tão grande que você não consegue pegar. E o BRT quebra, te deixa no caminho, não tem ar-condicionado. O governo vê isso tudo e não pensa em melhoria. E a concessionária que cuidava dos ônibus diz que não tem dinheiro". "Aqui no Mato Alto não dá vazão, continua lotado. Na hora de entrar no ônibus é uma coisa horrível, todo mundo se empurra. Eu mesmo já caí", criticou Rita Maria da Silva. A intervenção municipal no BRT tem como meta pôr em circulação 241 articulados até setembro. Atualmente, são aproximadamente de 150. Há a expectativa também de reativar as 46 estações atualmente fechadas.

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