Governadores e oposição criticam hipótese de uso das Forças Armadas contra medidas restritivas da Covid, citada por Bolsonaro.

 
Presidente criticou resposta dada por estados e municípios 
à crise sanitária provocada pelo novo coronavírus.
Adriana Mendes e Thiago Herdy

BRASÍLIA E SÃO PAULO — Governadores e políticos de oposição a Jair Bolsonaro (sem partido) criticaram neste sábado as declarações dadas pelo presidente durante entrevista à "TV Crítica", do Amazonas. Bolsonaro disse considerar a hipótese de as Forças Armadas irem às ruas para garantir a ordem caso a política de medidas restritivas adotadas por prefeitos e governadores contra a  Covid-19 promova o que chamou de "caos". Na entrevista, o presidente afirmou que, se preciso, o Exército  será convocado para "restabelecer todo o artigo 5º da Constituição", que  faz referência aos direitos individuais da população, como o de ir e  vir ou a liberdade religiosa. —  A postura demonstra mais uma vez o quanto Bolsonaro tem devoção pelo autoritarismo e alergia à democracia. Ele selou uma pacto com a morte que só não é maior no Brasil por conta da ação de governadores e prefeitos —  afirmou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), disse que a ameaça de Bolsonaro de usar as Forças Armadas  nas ruas é “absurda”. Ele lembrou que o  Supremo Tribunal Federal (STF) deu o aval, desde abril do ano passado, para que governantes adotassem medidas restritivas durante a pandemia. — Bolsonaro insiste em afrontar o Supremo, que já decidiu que as  três esferas de governo podem e devem atuar contra o coronavírus. E também reitera essa absurda ameaça de intervenção militar contra os estados, que não existe na Constituição. Ele deveria se dedicar mais ao trabalho e abandonar essas insanidades — declarou o  governador.

O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), criticou o  presidente por tentar tirar o foco do que é importante para o Brasil, a compra de vacinas para o combate à pandemia. Ele cobrou que a imunização  está  atrasada e que  Bolsonaro  deve cumprir sua “responsabilidade” no enfrentamento da crise. — Se o presidente quer que abra o comércio, é só ele vacinar mais rápido. É só dar conta de cumprir a responsabilidade dele, que é compra vacina — disse Ramos, completando: — Ele  (Bolsonaro)  não tem que bater em governadores, tem que comprar vacina. Eu não falo com presidente sobre outra coisa que não seja vacina, kit de intubação e oxigênio.

O líder de oposição da Câmara, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), ressalta que desde o início da pandemia o presidente “sabotou as medidas restritivas” e tentou jogar a população e as Forças Armadas contra governadores e prefeitos. Para ele, Bolsonaro é o principal fator para que o “caos se instale no país”. — Mais uma vez, Bolsonaro viola os deveres e limites de seu cargo e afronta a Constituição. Já passou da hora de o Congresso processá-lo por seus crimes de responsabilidade. Enquanto não se fizer isso, ele vai continuar agindo assim — afirmou Molon.

Em rede social, o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) também criticou as declarações do presidente sobre colocar as Forças Armadas nas ruas. “Mais uma vez o presidente humilha e rebaixa as Forças Armadas ao tratá-las como se fossem uma milícia pessoal a seu serviço na guerra declarada contra adversários políticos do governo”, postou o deputado.

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