Primeira-dama do crime: viúva de Capitão Adriano está foragida e diz que teme pela vida.


Júlia Lotufo guarda segredos de Adriano Nóbrega e seu depoimento pode revelar ligações do miliciano com políticos. Ela é procurada por lavagem de dinheiro e O DIA teve acesso ao relatório COAF da quadrilha.

POR BRUNA FANTTI LUCAS CARDOSO 
E THUANY DOSSARES

Rio - Há uma semana a polícia procura Julia Lotufo, parceira no amor e no crime do miliciano Adriano Nóbrega, morto em fevereiro de 2020. Para além de cumprir um mandado de prisão por lavagem de dinheiro dos bens do miliciano, o seu depoimento pode revelar as ligações de Nóbrega com políticos. Julia disse, através de sua defesa, que não irá se entregar "pois teme pela vida". O Ministério Público já comprovou que Adriano, além de chefe do grupo de matadores chamado Escritório do Crime, teve a mãe e a ex-esposa envolvidas no esquema de rachadinhas no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, na Alerj. As duas eram lotadas no gabinete, mas não apareciam para trabalhar. Ao todo, o miliciano e a família transferiram mais de R$ 400.000,00 para as contas do PM aposentado Fabrício Queiroz, apontado como o  operador financeiro do esquema. Queiroz trabalhou na PM com Adriano. Foi justamente no período em que Julia trabalhou na Alerj, em 2016, que ela estreitou os laços com o miliciano. Loira, na época com 26 anos de idade e mãe de uma menina de 4, Julia pediu exoneração e passou a gerenciar o esquema de agiotagem e lavagem de dinheiro da fortuna de Adriano.

O DIA teve acesso ao relatório do COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) da rede dos bens de Adriano, que também era chefe da milícia de Rio das Pedras. Duas empresas foram criadas com investimentos de Adriano: a CredTech, uma factoring, sediada em Jacarepaguá, que atuava no esquema de agiotagem; e a Lucho Comércio de Bebidas, depósito localizado em Cachambi, que estava sendo transformado no Restaurante Galpão. Ambas empresas constavam no nome de Rodrigo Bitencourt, soldado da PM, ex-marido de Julia e pai de sua filha. Ele foi preso na última semana.

O COAF analisou o período de agosto de 2018 e maio de 2019, e apontou que, apesar de Rodrigo ter uma renda mensal de R$ 4.000,00, movimentou em sua conta R$ 1.400.000,00. Sobre a CredTech, o COAF disse que a empresa tinha faturamento mensal de R$ 50.000,00 mas, no período estudado, "teve crédito somados de 1.900.000,00", sendo muitos créditos realizados de dentro de comunidades do Rio. "Consideramos a movimentação incompatível ao faturamento declarado", disse o órgão.


Cobertura e Hilux: a vida de luxo de Julia
De acordo com a denúncia do Ministério Público, a viúva de Adriano sempre soube dos negócios do companheiro no crime e, além de exercer a função de tesoureira da quadrilha, ostentava o dinheiro sujo do miliciano. A gerência dos negócios da quadrilha não a afastava da praia do Recreio dos Bandeirantes e da academia de musculação, onde se deslocava em uma picape Hilux, com motorista e segurança. Mas, nem sempre a relação de Julia com Adriano era harmoniosa e, muitas vezes, precisava da intervenção de terceiros. Em uma delas, após saber dos gastos do cartão de crédito, Adriano chama a atenção da amada, que desabafa com a prima de Adriano, a veterinária Juliana Magalhães Rocha, responsável por cuidar de seus cavalos de raça no nordeste. Em interceptação telefônica, Julia disse a Juliana que Adriano a repreendeu, mas que anda de carro zero e mora em uma cobertura e isso "não faz nem cosquinhas no bolso de Adriano". A cobertura a que ela se referia fica no Recreio dos Bandeirantes com aluguel de R$ 7.000,00.

Já com Adriano, na mansão em que estavam escondidos no nordeste, com aluguel de R$ 9.000,00, Julia tem outra briga e procura por Juliana. Ela, por sua vez, vai ao encontro do casal. Esse deslocamento ajudou a polícia a localizar o primeiro esconderijo do miliciano. Julia também ficou responsável pela reforma do galpão de bebidas no Cachambi que seria transformado em restaurante. Ela ordenou que o policial militar Luiz Martins, o Orelha, cobrasse valores de vítimas da agiotagem para cobrir a obra. Orelha foi morto no dia 20 passado, após homens em um carro passarem atirando na sua direção. O MP acredita em queima de arquivo.

Vítimas da quadrilha perderam casa e carros
Na investigação do Ministério Público, vítimas da agiotagem foram chamadas para depor. Uma delas relatou que pediu emprestado R$ 70.000,00, mas que a dívida final estava em R$ 500.000,00. Rodrigo Bitencourt era o responsável pela cobrança. Para quitar a dívida, foi forçado a vender a casa de um parente -- mas os juros do empréstimo continuavam aumentando.

A testemunha relatou que as cobranças pararam após fevereiro de 2020, data da morte de Adriano.
Em outra operação com juros abusivos, o grupo tomou para para si carros de uma revendedora como forma de pagamento a uma dívida, em novembro de 2019. O empréstimo de R$ 495.000,00 teria sido solicitado pelo casal, que teve que ceder quatro veículos para a quitação dos juros. A falta do pagamento provocou a insatisfação dos criminosos que, por intermédio de Bitencourt, retiraram quatro veículos avaliados em R$ 127.000,00, na época. Para regularizar a situação dos veículos, Rodrigo pediu a ajuda do seu primo, Daniel Haddad, e de Jefferson da Conceição, o Sapo. A dupla entrou como laranja para a regularização dos veículos junto ao Detran.

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