'Clube do Charuto' no Palácio das Laranjeiras era ponto de encontro de grupo de Witzel.


Governador se encontrava semanalmente com grupo de amigos, 
aliados e pessoas interessadas em fechar negócios com o estado.

Chico Otávio e Daniel Biasetto

RIO - Uma nuvem de baforadas corria, nas noites de quinta-feira, pela varanda interna do Palácio das Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, até ganhar o espaço aberto e se dissipar. Entre tragadas e goles de vinho ou uísque, Wilson Witzel comandava dali o “clube do charuto”, o encontro semanal do governador com amigos, com aliados e, especialmente, com gente interessada em fechar negócios com o governo estadual. O ex-secretário de Saúde Edmar Santos, em sua colaboração, sustenta que algumas das operações irregulares rastreadas pela força-tarefa nasceram no clube do charuto. Cabia ao advogado trabalhista Antônio Vanderler de Lima, ex-membro da Justiça Desportiva, chamar os convidados e organizar o encontro. O então secretário de Desenvolvimento Econômico Lucas Tristão não perdia uma reunião. Era também assíduo o advogado Fábio Medina Osório, ex-sócio de Witzel. Entre os ex-colegas de toga sempre presentes estava o desembargador Marcos Pinto da Cruz.

Parte dos assíduos do "clube do charuto" está sendo investigada. Medina Osório intermediou, segundo operação, a liberação de restos a pagar para uma empresa fornecedora de quentinhas para o sistema penitenciário, a Masgovi. Já Vanderler é pai do também advogado Antônio Vanderler de Lima Júnior, do escritório Chermont, Vanderler & Crespo Advogados. Na Justiça do Trabalho, aparecem processos nos quais Júnior figura como advogado do Instituto Unir Saúde. Contrariando pareceres de duas secretarias estadual, Witzel reconsiderou a desqualificação do Unir como prestador de serviços da Secretaria Estadual de Saúde. Lucas Tristão foi alvo da operação da sexta-feira, enquanto Vanderler e Medina estão no horizonte da PGR, como suspeitos de fazer parte da organização.

O desembargador Marcos Pinto da Cruz, do Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro, foi outro dos alvos da Operação Tris In Idem. De acordo com o Ministério Público Federal, Cruz liderava um esquema para beneficiar organizações sociais com contratos na área da saúde do Rio. Ele foi alvo de mandados de busca e apreensão na manhã da sexta-feira.

Iniciado em maio do ano passado, o “charuto das quintas” é um hábito que Witzel trouxe dos tempos de toga. Antes de ingressar na política, o então juiz tragava os seus Cohibas - tradicional marca cubana - na varanda do Iate Clube do Rio de Janeiro, em Botafogo. Já como governador, adorava ser cercado de paparicos e falar abertamente de sua ambição de chegar à Presidência da República ou ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas. Em alguns destes encontros, também apareceram ex-colegas de toga, embora não se envolvessem em negócios. O charuto, em certas ocasiões, era transferido para a varanda do Palácio Laranjeiras. Alguns dos convivas contam que, na residência oficial do governador, o anfitrião não ficava tão à vontade. Às 23 horas, a primeira-dama aparecia para encerrar o convescote. Todos, constrangidos, apagavam apressados os seus legítimos cubanos nos cinzeiros e saiam.

Entenda o caso
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), foi afastado na sexta-feira do cargo, por 180 dias, por determinação do ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que autorizou diligências realizadas pela Polícia Federal. A medida ocorreu ao mesmo tempo em que a Procuradoria Geral da República (PGR), em parceria com a Polícia Federal (PF), cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão contra agentes públicos, políticos e empresários envolvidos, segundo a acusação, em crimes de corrupção e lavagem de dinheiro do grupo liderado pelo governador. Presidente nacional do PSC, o pastor Everaldo Pereira foi preso. Dois filhos dele, também. O ex-secretário de Desenvolvimento Econômico Lucas Tristão se apresentou na sede da PF. A casa do vice-governador, Cláudio Castro foi alvo de buscas.

A PGR apontou a existência de graves crimes envolvendo Witzel e chegou a solicitar a sua prisão preventiva ao STJ. Benedito Gonçalves, entretanto, autorizou apenas o afastamento e determinou medidas cautelares, como a proibição de manter contato com investigados e com funcionários e de ingressar nas dependências do governo do Rio. Isso para evitar que ele, direta ou indiretamente, use seu poder para atrapalhar as investigações.

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