Viradouro encerra jejum de 23 anos e é campeã do Carnaval do Rio


Do UOL, em São Paulo

A Unidos do Viradouro é a campeã do Carnaval 2020 do Rio. A escola de Niterói, que defendeu o enredo "Viradouro de Alma Lavada", somou 269,6 pontos, que garantiram seu segundo título do Grupo Especial, depois de um jejum de 23 anos. A disputa foi acirrada e emocionante, com Grande Rio e Beija-Flor, decidida apenas no último quesito, harmonia. A Grande Rio liderou a apuração até o penúltimo quesito, o de evolução, quando perdeu décimos preciosos devido a um problema no carro abre-alas, que abriu um buraco na avenida. A Beija-Flor, que vinha forte na disputa, também acabou perdendo pontos no fim. A agremiação de Niterói acabou se sagrando campeã de virada.

Vice-campeã de 2019, a Unidos do Viradouro apresentou este ano uma dupla de novos carnavalescos: Tarcísio Zanon e Marcus Ferreira, que se encarregaram de homenagear as mulheres que lutaram para construir o Brasil. Os dois passaram com louvor no teste de substituir Paulo Barros e manter a escola de Niterói competitiva.

O enredo
Contando a história das ganhadeiras de Itapuã —mulheres negras escravizadas até o final do século 19— e toda a riqueza da cultura negra baiana, a Viradouro fez um desfile empolgante e de visual de impacto. A comissão de frente levou o público ao delírio com uma componente vestida de sereia, que ficava submersa em um tanque d'água. Outro destaque foi a bateria comandada pelo mestre Ciça, que levantou as arquibancadas com um arsenal de paradinhas ousadas e bem ensaiadas —mostrando que os componentes adentraram a Marquês de Sapucaí com o samba na ponta da língua. A Viradouro saiu da avenida com a sensação de dever cumprido.

O desfile
Na comissão de frente, mulheres interpretaram ganhadeiras, que sobreviviam lavando roupas, e trocaram de roupa durante o desfile. A atleta Anna Giulia Veloso, da seleção brasileira de nado sincronizado, representou uma sereia e ficou um minuto submersa em um tanque com 7 mil litros de água simulando a lagoa do Abaeté, em Itapuã, na Bahia. O carro abre-alas "Prelúdio das Águas", em referência a uma das canções das ganhadeiras, é o maior da história da Viradouro, com 50 metros de comprimento. O público aprovou: durante as "paradonas" da bateria, setores populares cantaram em alto volume o samba-enredo. A cada alegoria que chegava na Apoteose, os torcedores iam ao delírio.

A cantora baiana Margareth Menezes, em sua estreia na Sapucaí, representou uma colombina no quarto carro alegórico, "Ciranda de Roda à Beira do Mar Aberto", um dos carros mais lúdicos e luxuosos da escola neste desfile.

Nem tudo foi perfeito
Com um telão de LED em que se lia o slogan "Lute como uma mulher", a última alegoria da escola, que "coroou" as ganhadeiras, entrou na Sapucaí com problemas. Parte da alegoria caiu e componentes tentaram resolver. Bombeiros seguraram entrada para checar forte cheiro de gás saindo do veículo, mas constataram ser normal da combustão.



Desfile das campeãs
A Viradouro se apresentará novamente na Marquês de Sapucaí no próximo sábado (29), no desfile das campeãs, ao lado de Grande Rio, Mocidade, Beija-Flor Salgueiro e Mangueira, que terminaram no topo da classificação.

As escolas rebaixadas
A União da Ilha e Estácio de Sá foram rebaixadas e desfilarão no Grupo de Acesso do Carnaval do Rio de Janeiro no ano que vem. A queda da escola da Ilha do Governador, que terminou em último com 264,2 pontos, era esperado, já que o desfile contou problemas graves em alegorias e, principalmente, na evolução. Já a Estácio, que reestreou na elite este ano, terminou em penúltimo, com pontuação de 264,7.

Leia a letra do samba-enredo da Viradouro
Ora yê yê ô oxum! Seu dourado tem axé
Faz o seu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma dessa gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!

Levanta, preta, que o Sol tá na janela
Leva a gamela pro xaréu do pescador
A alforria se conquista com o ganho
E o balaio é do tamanho do suor do seu amor
Mainha, esses velhos areais
Onde nossas ancestrais acordavam as manhãs
Pra luta sentem cheiro de angelim
E a doçura do quindim
Da bica de Itapuã

Camará ganhou a cidade
O erê herdou liberdade
Canto das Marias, baixa do dendê
Chama a freguesia pro batuquejê

São elas, dos anjos e das marés
Crioulas do balangandã, ô iaiá
Ciranda de roda, na beira do mar
Ganhadeira que benze, vai pro terreiro sambar
Nas escadas da fé
É a voz da mulher!

Xangô ilumina a caminhada
A falange está formada
Um coral cheio de amor
Kaô, o axé vem da Bahia
Nessa negra cantoria
Que Maria ensinou

Ó, mãe! Ensaboa, mãe!
Ensaboa, pra depois quarar

https://www.uol.com.br/carnaval/2020

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