Sob intervenção do governo, TV Brasil suspende programa 'Sem Censura'.
Atração de entrevistas apresentada por Vera Barroso
terá permanência na grade em 2019 'reavaliada'.
terá permanência na grade em 2019 'reavaliada'.
SÃO PAULO
A TV Brasil (emissora de TV pública) suspendeu um de seus programas mais antigos, o “Sem Censura”, em meio à intervenção da gestão Jair Bolsonaro (PSL) na EBC (Empresa Brasil de Comunicação), administrada pelo governo federal. A equipe foi avisada na terça-feira (29) sobre o cancelamento das edições ao vivo do programa de entrevistas, apresentado pela jornalista Vera Barroso. A emissora, via assessoria, diz que “o programa ao vivo foi interrompido na atual temporada, devendo ser reavaliado para a próxima grade junto com a nova programação”. A permanência do “Sem Censura” na nova grade, que deve estrear em 11 de março, é incerta.
Vera Barroso e Ancelmo Góis, apresentadores do programa De Lá Para Cá.
O governo decidiu reestruturar a EBC, o que inclui cortes e mudanças na TV Brasil. O ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, é o responsável por coordenar a tarefa. Em entrevista à Folha neste mês, o ministro disse que estuda uma fusão da grade de programação da TV Brasil e da TV NBR (agência oficial do governo). A junção é criticada por defensores do sistema de comunicação pública. Por enquanto, de acordo com a EBC, será mantida a exibição de programas já gravados. A atração era produzida no Rio de Janeiro e estava no ar desde 1985, quando estreou pela TVE Brasil.
O governo já havia anunciado o corte de cargos comissionados para “otimizar despesas” nas quatro unidades da TV Brasil, em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Maranhão. Durante a campanha, Bolsonaro prometeu extinguir ou privatizar a emissora, jocosamente apelidada de TV do Lula, já que foi criada pelo ex-presidente, em 2007. Parte da equipe do “Sem Censura” é formada por servidores concursados emprestados à TV Brasil por outros órgãos do governo. A determinação agora é para que os cedidos retornem aos postos de origem. Muitos são ligados ao Ministério do Planejamento, que foi fundido com outras pastas e hoje compõe o Ministério da Economia, sob o comando de Paulo Guedes.
Em nota divulgada na segunda-feira (28), a direção da EBC comunicou que a reorganização da empresa incluiria a diminuição de cargos comissionados. No mesmo dia, foram publicados em seu site 45 atos dispensando funcionários que exerciam funções desse tipo. “O objetivo das mudanças é adequar a empresa à meta de otimizar despesas, com vistas à sustentabilidade até 2022, conforme estabelecida no Planejamento Estratégico da Empresa”, disse o comunicado. A EBC informou ainda o fim do Repórter Brasil Maranhão, programa jornalístico no estado da região Nordeste.
A Comissão de Empregados da EBC e os sindicatos dos jornalistas e dos radialistas de Brasília, Rio e São Paulo emitiram nota com queixas sobre as mudanças. As entidades disseram que o governo deixou o escritório no Maranhão “à deriva”. “Entendemos que qualquer processo de reestruturação deve ser feito a partir do diálogo com os trabalhadores, sendo pautado numa relação de respeito. Infelizmente, não é isto que estamos vendo”, afirmaram no texto as organizações. “Nenhuma praça [unidade] deve fechar, pois isto significa diminuir a abrangência da comunicação pública no país”, continuaram, reivindicando que sejam recebidas pela direção da empresa para uma reunião.
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