domingo, 9 de dezembro de 2018

Militares, políticos e filhos lutam por espaços de poder no governo Bolsonaro

As três tropas do presidente eleito protagonizam embates antes mesmo do início de seu mandato.


Por *Dirley Fernandes

Rio - Enquanto o futuro governo Bolsonaro vai tomando forma, fica mais claro que teremos pela frente um período de embates permanentes entre três núcleos de poder no entorno do presidente: os militares, os políticos e a família. A disputa de espaço e influência entre esses grupos até agora só registrou uma vítima digna de nota: o senador capixaba - derrotado na tentativa de se reeleger - Magno Malta. No entanto, as indicações são de que o governo do ex-capitão será uma espécie de campo de batalha onde as três tropas se revezarão entre ataque e defesa, sob o olhar do capitão, no centro, pendendo ora para um lado, ora para outro. O primeiro desses núcleos é o militar. Nele estão os mais antigos companheiros de Bolsonaro, como o general Edson Leal Pujol, colega de pentatlo e de curso de paraquedismo da turma de 1977 da Academia Militar das Agulhas Negras. Ele será comandante do Exército, a maior e mais influente das Forças Armadas.

Nessa tropa também formam os generais que se aproximaram do capitão a partir do momento em que ele começou a se viabilizar como alternativa de poder, se tornaram seus fiadores e conselheiros ao longo da campanha e agora ocuparão espaços próximos nos corredores do Planalto: o general Santos Cruz (ministro da Secretaria de Governo), o general Fernando Azevedo (ministro da Defesa), o general Augusto Heleno (ministro do Gabinete de Segurança Institucional) e o general Hamilton Mourão. Todos esses ocupam postos estratégicos no governo, mas Mourão foi o único que teve voto e ele sabe bem que isso o coloca numa posição diferenciada. Ele é a ponta de lança da luta por espaço dos militares e já disse que, no Planalto, "nossas salas serão juntas" - se referindo a Bolsonaro, obviamente - e que "naquelas reuniões que ocorrem ali, eu vou participar". O segundo polo de poder é o dos políticos. Nesse, a figura central é o deputado federal (DEM-RS) e futuro chefe da Casa Civil Onyx Lorenzoni, mas há coadjuvantes de peso, em luta renhida por nacos de território no novo governo.

Com estilo mais discreto, Gustavo Bebianno, presidente do PSL, é o mais próximo de Bolsonaro, atua em sintonia com Lorenzoni e já garantiu uma mesa importante no Planalto, como ministro da Secretaria-Geral da Presidência - nada mal para um advogado que, dois anos atrás, não tinha atuação política notável e nunca foi candidato a nenhum cargo público, tendo se filiado ao PSL apenas em março. Apostando em alianças, ele pôs como seu "vice-ministro" um general, Floriano Peixoto.

Julian Lemos, coordenador da campanha de Bolsonaro no Nordeste e eleito deputado federal pela Paraíba é peça importante e já protagonizou um embate com a 'Família'. Integrante do Gabinete de Transição, ele estava ao lado da nova ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos no anúncio da nomeação dela, na quinta-feira, não obstante o fato de responder a inquérito por agressão à irmã e já ter sido preso sob a acusação de bater na ex-mulher.

Outra integrante de elite desse esquadrão é a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP). A jornalista que ganhou fama com comentários antipetistas e se elegeu deputada federal com 1 milhão de votos quer ser líder do partido do governo na Câmara. Mas comprou briga com cachorro grande, Eduardo Bolsonaro.

A família
Eleito deputado federal com 1,8 milhão de votos, Eduardo, seguidor do antiglobalista Olavo de Carvalho, é uma das três altas patentes do terceiro núcleo de poder em torno de Jair: o familiar. Os outros dois são o mais moderado senador eleito Flávio Bolsonaro e o vereador Carlos Bolsonaro, que, via Twitter, dispara petardos contra os dois outros núcleos no melhor estilo sniper. Sem receber reprimendas públicas do pai presidente. "Todo governo tem conflitos em sua composição, isso é completamente normal", diz o historiador Carlos Fico. "No entanto, os filhos não deveriam ter influência tão grande, vão criar muitos problemas, como já temos visto. A participação deles não poderia ser tão efetiva. Dessa forma, os conflitos vão continuar".

Políticos x filhos - A sonsa e o machão
Eleita deputada federal, Joice Hasselmann (PSL-SP) é seguidora do lema 'retroceder nunca, render-se jamais'. Depois de se queixar da articulação do PSL, ela foi chamada pelo filho de Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) de "sonsa" e acusada de ter "fama de louca". Ela respondeu, na sexta, dizendo que o colega de bancada se acha "o machão da vez". O pano de fundo é a disputa pela liderança do partido do governo, que deverá chegar a 1º de fevereiro, quando tem início a nova legislatura, como a maior da Câmara (hoje é a segunda, com 52 deputados, contra 56 do PT). No grupo dos deputados do PSL no WhatsApp, ao tomar bronca de Eduardo por querer ser líder, ela respondeu que o posto pode ser decidido no voto "e não por recadinhos infantis via Twitter". E completou: "Cresça!". Jair teve que intervir, convocando reunião com os deputados para o próximo dia 12.

Família x políticos - Carlos e Julian
Outra mordida do "pitbull" Carlos Bolsonaro foi direcionada a Julian Lemos (PSL-PB). "A pessoa que tem se colocado como coordenador de Bolsonaro no Nordeste não é e nunca foi!". Como resposta, o deputado federal e membro do Gabinete de Transição foi sutil. "Na minha casa o que meu pai falava era respeitado". Carlos, em outro post, acusou o deputado de 'papagaio de pirata', assinalando que não falava apenas por si com o uso do plural. "Sugerimos parar de aparecer atrás dele por algum motivo como faz sempre!". Lemos ocupa um posto importante na equipe de transição de Bolsonaro. É coordenador da área de Desenvolvimento Regional. Na quinta-feira, ele retomou a vocação de papagaio de pirata aparecendo sobre o ombro da nova ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, apesar de seu longo histórico de problemas com a Lei Maria da Penha.

Família x militares - Carlos mira Mourão
Depois de se afastar da transição, após embate com Gustavo Bebbiano, o vereador e filho do meio de Jair, Carlos, fez do Twitter uma fortaleza de onde dispara flechadas com endereços certos, mas não necessariamente explícitos. Um dos mais surpreendentes foi interpretado como um disparo na direção do general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro. "A morte de Jair Bolsonaro não interessa somente aos inimigos declarados, mas também aos que estão muito perto. Principalmente após de sua posse! É fácil mapear uma pessoa transparente e voluntariosa". O general respondeu até de forma econômica, ao contrário de seu habitual. "Não o conheço". Na sexta-feira, Carlos completou 36 anos e ganhou homenagem do pai, que o chamou de "meu pitbull", pelo Facebook, com direito a recado para os 'inimigos'. "Se enganam os que creem que irão nos separar". Já Mourão vive outra fase de mordaça determinada pelo capitão.

Militares x políticos - Carga sobre Onyx
Quem vê seu poder cada vez mais desidratado é o futuro ministro da Casa Civil e coordenador da Transição, Onyx Lorenzoni (DEM-RS). No desenho inicial do futuro governo, ele comandaria a articulação política e seria o gerente do governo, nos moldes de José Dirceu no início do mandato de Lula. Mas os militares reagiram. Emplacaram um general para dividir com ele a articulação política, Santos Cruz, em um desenho um tanto bizarro. E tentam fazer do general Mourão o organizador geral do governo. O futuro vice-presidente lançou uma carga sobre o político quando esse estava enfraquecido pelas denúncias de Caixa 2: "Comprovado que houve ilicitude, é óbvio que ele terá que se retirar do governo", afirmou, implacável, o general da Artilharia, que se define como "escudo e espada" de Bolsonaro. "Escudo é o que defende e a espada é o que ataca", explicou na quarta-feira, antes de receber a ordem de falar menos, vinda do capitão.

*Com a estagiária Bárbara Mello
odia.ig.com.br

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