segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Os jovens estão cansando do 'mito' Bolsonaro?

Pesquisas mostram que cresce a rejeição do presidenciável entre eleitores de 16 a 24 anos.


Por *Estagiário Felipe Rebouças

Rio - Segundo levantamento da CNT/MDA, 30% dos que se declaram eleitores do líder nas pesquisas de intenção de voto à Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL), são jovens entre 16 e 24 anos. O dado pode surpreender muita gente, já que, historicamente,jovens não se identificam com candidatos de discurso conservador. Segundo pesquisadores, a pregação antissistema do capitão é uma das chaves para explicar o fenômeno. No entanto, pesquisas mostram que o apoio dos jovens pode estar enfraquecendo. "Ele não é acusado de corrupção, como tantos políticos", diz Lucas de Oliveira, estudante do Ensino Médio, de 17 anos, repetindo um discurso comum entre os eleitores do candidato. A cientista social Esther Solano, da Unifesp, pesquisou as reações dos jovens a Bolsonaro, entrevistando jovens em escolas e manifestações, e viu na 'estética juvenil' do candidato os elos com os jovens. "As pessoas descontentes com a política encontram na linguagem lúdica, e até um pouco folclórica do candidato, essa estética juvenil, que conversa tanto com os adultos quanto com os jovens, através de memes e piadas", diz. "Ele ainda é muito forte na internet, meio em que esses jovens trafegam boa parte do dia", conclui a especialista, que escreveu o artigo 'Crise da Democracia e extremismos da direita".

Thaina Narcizo, 22 anos, estudante e gerente de Produção, diz que o candidato do PSL "se propõe a falar a verdade, mesmo que isso vá prejudicá-lo". Ela acha que Bolsonaro é capaz de aplicar "penas mais severas aos infratores".

Patrick Nunes, 18, jovem jogador de futebol profissional, avalia que "o Brasil precisa hoje de alguém com pulso firme".

A força eleitoral de Bolsonaro entre os jovens, no entanto, mostrou algumas fissuras na última semana. Na pesquisa Datafolha divulgada na segunda-feira, o índice de rejeição do deputado na faixa de 16 a 24 subiu muito, pulando de 41 para 55%. No Ibope, os eleitores mais jovens foram a única faixa etária em que a intenção de voto nele não avançou. O estudante B.C., de 19 anos - que não quis se identificar por medo de ser repreendido em casa pelos pais, eleitores de Bolsonaro -, admitiu ter mudado de ideia em relação ao candidato do PSL. De acordo com o entrevistado, ele deixou de ser simpatizante de Bolsonaro porque amadureceu. "Vi que suas propostas, além de não serem de meu agrado, não agregariam para uma melhora do país. A ideia de segurança para o candidato, por exemplo, levaria a uma grande ascensão da mortalidade da população, seja ela de 'bandidos' ou policiais", diz.

Para o cientista político Sérgio Praça, não se trata de uma mudança, por enquanto, decisiva. "É um movimento inicial. Mas talvez seja mais uma questão de gênero. A rejeição entre as mulheres de todas as idades está crescendo. Ele deveria ter adotado uma postura mais moderada para ampliar o eleitorado". Sobre o fato de um candidato com posturas conservadoras ter seduzido uma grande parcela de jovens brasileiros, Esther credita às "peculiaridades do caso de Bolsonaro". "Ele tem uma linguagem fácil, fala a língua da gente, é fácil de entender. E ocupa um espaço deixado pelo vazio de valores", explica.

GAROTOS ARREPENDIDOS
O primeiro contato do estudante B. C., de 19 anos, com o deputado federal foi em 2013, quando o hoje candidato protestava contra o fato de o Partido dos Trabalhadores (PT) estar há tanto tempo no governo. Hoje arrependido de ter apoiado Jair Bolsonaro, ele conta: "Eu era influenciado pelo pensamento de colegas e também dos meus pais. Tinha a mesma mente extremista que muitos deles possuem. Tinha a visão muito fechada de mundo acerca de questões que não envolvem apenas política. Hoje, creio que Bolsonaro não conseguiria controlar a crise pela qual o país está passando. Seu conceito de abordagem é muito ultrapassado e extremo para alguém tão importante como um presidente" finaliza B.C.".

"Os movimentos de rua, como MBL, Vem Pra Rua e o próprio deputado Jair Bolsonaro foram muito felizes em catalizar esse descontentamento com o PT, sobretudo com o governo Dilma, em apoio político, através de uma linguagem divertida, como os memes", diz Sérgio Praça, pesquisador da Escola de Ciências Sociais da FGV. "No final, acaba até sendo bom para a democracia que exista um candidato como o Bolsonaro. Se ele vai ganhar, é imprevisível. O segundo turno é outra eleição", diz. Para a cientista política Esther Solano, independente do fenômeno Bolsonaro, "a crise política vai se estender após a eleição, porque não existe a curto prazo um projeto que possa garantir uma aproximação dos cidadãos, em especial os mais jovens, da política institucional".

*Sob supervisão de Dirley Fernandes
odia.ig.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário