Facebook retira do ar rede de contas ligadas ao MBL antes das eleições 2018

Além do grupo, a página do Movimento Brasil 200, ligada ao ex-pré-candidato Flávio Rocha (PRB), também foi 
excluída; as páginas eram usadas "com propósito de gerar divisão e espalhar desinformação", diz a rede social.


Alessandra Monnerat 
e Caio Sartori, O Estado de S.Paulo

O Facebook retirou do ar nesta quarta-feira, 25, uma rede de páginas e contas ligadas a coordenadores do Movimento Brasil Livre (MBL) como parte da política de combate a notícias falsas. Também foram alvos outras páginas como a do Movimento Brasil 200, ligado ao ex-pré-candidato à Presidência Flávio Rocha (PRB). De acordo com a rede social, os perfis foram removidos após uma investigação que apontou violações à política de autenticidade da plataforma. Pelo comunicado, a empresa diz que desativou 196 páginas e 87 contas no Brasil por sua participação em “uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas no Facebook, e escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação”. O comunicado não identifica as páginas ou usuários envolvidos.

O Facebook citou o seguinte trecho de sua política de privacidade para justificar a investigação:
"Não envolva-se em comportamento não autêntico, que inclui criar, gerenciar ou perpetuar:
- Contas falsas
- Contas com nomes falsos
- Contas que participam de comportamentos não autênticos coordenados, ou seja, em que múltiplas contas trabalham em conjunto com a finalidade de:
- Enganar as pessoas sobre a origem do conteúdo
- Enganar as pessoas sobre o destino dos links externos aos nossos serviços (por exemplo, fornecendo uma URL de exibição incompatível com a URL de destino)
- Enganar as pessoas na tentativa de incentivar compartilhamentos, curtidas ou cliques
- Enganar as pessoas para ocultar ou permitir a violação de outras políticas de acordo com os Padrões da Comunidade."

O MBL e Rocha divulgaram, em suas redes sociais, posicionamentos contrários à medida. "É inaceitável a retirada da página do Brasil 200 do ar pelo Facebook. Uma violência! A que pretexto? Conclamo a bancada do Brasil 2000 no Congresso Nacional a tomar posição sobre essa arbitrariedade. Nem no tempo da ditadura se verificava tamanho absurdo", reagiu Rocha por meio de seu perfil pessoal no Facebook.

O MBL disse, pelo Twitter, que a remoção de páginas foi arbitrária e algumas das contas excluídas tinham “dados biográficos estritos”, como endereço profissional e telefones pessoais. Na nota publicada na rede social, o movimento acusa o Facebook de viés ideológico e de censura contra páginas de direita. Ainda de acordo com o MBL, as páginas retiradas do ar somavam 500 mil seguidores. No Twitter, o movimento também afirmou que o Facebook “já ligou para alguns coordenadores para oferecer conselhos de marketing e (que) agora excluiu esses mesmos coordenadores acusando-os de serem perfis falsos”. De acordo com o movimento, a empresa baniu da plataforma diversos coordenadores “sem explicação nenhuma”.

O movimento ganhou destaque ao liderar protestos em 2016 pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff, cassada no mesmo ano. Parte da rede removida era administrada por membros “importantes” do MBL, segundo a Reuters. Em um vídeo publicado na página do grupo no Facebook, Renan Santos e Renato Battista, dois dos principais expoentes do movimento, confirmaram que tiveram suas contas desativadas. De acordo com a agência de notícias, os representantes do MBL não responderam às perguntas enviadas pela reportagem. Na filmagem, a dupla do MBL liga para o jornalista Brad Haynes e coage o repórter a falar ao vivo. Os dois então desferem uma série de ofensas ao funcionário da Reuters e à imprensa em geral. O líder do MBL e pré-candidato a deputado federal pelo DEM, Kim Kataguiri, admitiu que uma das páginas retiradas do ar pelo Facebook tem ligação com o movimento. Segundo Kataguiri, porém, as acusações de fake news não procedem.

"Tinha uma que era sim ligada a gente, que é a Brasil 21. Mas a do Diário Nacional e do Jornalivre não, são parceiros nossos”, disse Kim, após participar na plateia do fórum Reconstrução Brasil, promovido pelo Estado. “São infundadas as acusações.". O jovem, que participou das manifestações pró-impeachment, disse ainda que o grupo vai entrar na Justiça contra a ação.

MPF de Goiás cobra explicações do Facebook
O Ministério Público Federal (MPF) em Goiás cobrou explicações, em caráter de urgência, sobre a decisão de retirar páginas do Facebook. O procurador da República Ailton Benedito deu 48 horas à plataforma para enviar uma relação com todas as páginas e perfis removidos e a justificativa para cada um deles. “As normas constitucionais e legais que regulam a internet no Brasil atuam sempre com vistas à liberdade de expressão, ao direito de acesso de todos à informação, ao conhecimento e à participação na vida cultural e na condução dos assuntos públicos”, disse ele, segundo a assessoria do órgão. Segundo o MPF, Benedito investiga a rede social por supostos atos de censura e bloqueio de usuários brasileiros desde setembro do ano passado.

Facebook sob pressão
As páginas desativadas, como Jornalivre, O Diário Nacional e Brasil 21, variavam de notícias sensacionalistas a temas políticos, de acordo com a Reuters. O Facebook tem enfrentado pressão para combater as contas falsas e outros tipos de perfis enganosos em sua rede. No ano passado, a empresa reconheceu que sua plataforma havia sido usada para o que chamou de “operações de informação” que usaram perfis falsos e outros métodos para influenciar a opinião pública durante a eleição norte-americana de 2016, e prometeu combater as fake news.

Leia na íntegra o comunicado do Facebook:
"Garantindo um ambiente autêntico e seguro (por Nathaniel Gleicher, líder de Cibersegurança). O Facebook dá voz a milhões de pessoas no Brasil, e queremos ter a certeza de que suas conversas acontecem em um ambiente autêntico e seguro. É por isso que nossas políticas dizem que as pessoas precisam usar suas identidades reais na plataforma.

Como parte de nossos esforços contínuos para evitar abusos e depois de uma rigorosa investigação, nós removemos uma rede com 196 Páginas e 87 Perfis no Brasil que violavam nossas políticas de autenticidade. Essas Páginas e Perfis faziam parte de uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas no Facebook, e escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação.

As ações que estamos anunciando hoje fazem parte de nosso trabalho permanente para identificar e agir contra pessoas mal intencionadas que violam nossos Padrões da Comunidade. Nós estamos agindo apenas sobre as Páginas e os Perfis que violaram diretamente nossas políticas, mas continuaremos alertas para este e outros tipos de abuso, e removeremos quaisquer conteúdos adicionais que forem identificados por ferir as regras.

Nós não queremos este tipo de comportamento no Facebook, e estamos investindo fortemente em pessoas e tecnologia para remover conteúdo ruim de nossos serviços. Temos atualmente cerca de 15 mil pessoas trabalhando em segurança e revisão de conteúdo em todo o mundo, e chegaremos ao fim do ano com mais de 20 mil pessoas nesses times.

Contamos com as denúncias da nossa comunidade a respeito de conteúdos que possam violar nossas políticas e usamos tecnologia como machine learning e inteligência artificial para detectar comportamento ruim e agir mais rapidamente."

Combate a fake news não pode ser comparado à censura, diz Miro Teixeira, da Rede. O deputado federal Miro Teixeira (Rede) afirmou que o combate às notícias falsas não pode ser comparado à censura. Ao Estadão/Broadcast o deputado disse não conhecer o procedimento que levou o Facebook a retirar dezenas de página do ar, mas que, “se a notícia for verdadeiramente falsa, há de se impedir a publicação”.

“Isso não pode ser comparado a uma censura”, disse. Para ele, censura implica, por exemplo, no desrespeito à opinião, vedado o anonimato. “Se eu tenho uma opinião divergente, eu tenho direito de publicar e as pessoas tem o direito de saber que é minha”, disse. Teixeira ressaltou que a disseminação das notícias falsas é mais forte em épocas de eleições antes mesmo da internet. “Antes, havia a fabricação de folhetins. A diferença agora é o meio e o alcance”, disse. 

Colaboraram Marianna Holanda e Gilberto Amendola
politica.estadao.com.br

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