Unidades de Polícia Pacificadora têm déficit de viaturas, coletes e fuzis.
Relatório da Secretaria de Segurança mostra que 70% dos carros das UPPs apresentam problemas.
A UPP do Parque Proletário, no Complexo da Penha, é uma das muitas
unidades que têm registrado confrontos frequentes com bandidos.
BRUNA FANTTI
Rio - Quase 70% das viaturas operacionais das 39 Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) apresentavam problemas mecânicos há dois meses. Em relação aos fuzis, 23% do total estavam baixados e, dos coletes balísticos, 32% encontravam-se avariados. Os dados constam em um relatório, ao qual O DIA teve acesso, do Conselho Permanente de Avaliação e Deliberação para as UPPs. A comissão é da Secretaria de Segurança criada para análise do projeto de pacificação. A deficiência logística das UPPs, agravada com a crise econômica estadual, foi um dos fatores analisados pela comissão que culminou na transferência de 3 mil policiais administrativos para os batalhões. O deslocamento do efetivo administrativo também resultou na subordinação das unidades pacificadoras aos batalhões responsáveis pelo policiamento nos bairros. Com isso, as salas de armas das UPPs e as viaturas ficarão sob responsabilidade dos agentes que já realizam funções administrativas nos batalhões. O comando da corporação ainda vai decidir se o uso de fuzis, carros e coletes será comum entre os policias dos batalhões e das unidades pacificadoras.
DÉFICIT DE RECURSOS
Atualmente, o uso de munições já é compartilhado. Em nota, a Polícia Militar reconheceu que “A perda de recursos materiais ocorre em todas as unidades da corporação e é um desafio que está sendo enfrentado pelo comando. Muitas dessas perdas estão sendo recuperadas por meio de parcerias com instituições públicas e da sociedade civil”. Sobre o déficit de viaturas, armas e coletes nas UPPs, o Comando de Polícia Pacificadora respondeu que “a interação administrativa e operacional maior entre UPPs e batalhões facilitará a resolução de problemas logísticos, pois unificará os esforços”, na mesma nota. Segundo o relatório da comissão, das 311 viaturas operacionais, 212 estavam baixadas. Um outro problema foi apontado: o déficit de policiais nas próprias UPPs é de 550 agentes. O efetivo ideal seria de 9.550, mas sem recursos, a PM não tem condições de contratar os 4 mil candidatos aprovados.
De acordo com o secretário de Segurança, Roberto Sá, a falta de viaturas não irá comprometer o reforço no policiamento das ruas. “O reforço policial no Centro, por exemplo, poderá ser feito a pé”, disse em coletiva.
Até uniformes dos policiais das UPPs eram diferentes dos demais PMs.
DIFERENÇAS ATÉ NOS TRAJES
Para marcar a diferença da filosofia de atuação dos policiais das UPPs dos demais PMs, até o uniforme dos agentes era diferente no início do programa. Os trajes foram apelidados pela tropa de ‘upepetes’ e consistiam em uma blusa social azul, boina e calça social pretas. “Ela simbolizava o discurso de que o policial da UPP era diferente daquele que carregava o fuzil nos batalhões. Mas os recrutas que usavam começaram a ser zoados de ‘upepetes’”, disse um comandante de UPP, que pediu para não se identificar.
Por causa dessa resistência, em 2014, os PMs do programa passaram a usar a mesma farda cinza escura do restante da tropa. Apenas a identificação das UPPs no braço passou a diferenciá-los dos demais. Oficialmente, naquela época, a PM justificou a mudança pela praticidade: a ‘upepete’ sujaria com facilidade.
A volta dos confrontos armados nas comunidades, antes pacificadas, também trouxe uma mudança no treinamento dos agentes. A partir de 2014, os PMs de UPPs passaram a ter cursos de reciclagem periódicos com o Batalhão de Operações Especiais (Bope) para enfrentar os combates cada vez mais frequentes.
‘É desativação do projeto’
Especialistas apontam que a transferência de policiais das UPPs para os batalhões representa uma derrocada do programa. “Não querem admitir que a UPP fracassou, mas essa medida é a desativação do projeto. Realmente a UPP não deu certo e agora estão voltando atrás posicionando os policiais nas ruas”, avaliou o delegado federal aposentado Antônio Rayol. Ele defende que “retornar o policiamento para as ruas de certa forma é algo positivo” para reverter os índices de criminalidade, mas ressalta que as autoridades precisam definir o que fazer com as comunidades sob o domínio de traficantes.
Na avaliação do consultor Vinícius Cavalcante, o governo expandiu as UPPs mais do que deveria devido a propaganda eleitoral. “Foram feitas mais instalações de unidades do que o efetivo permitia. E, com isso, passamos a fingir que se ocupava uma comunidade, quando na prática isso não existita. Foi uma expansão eleitoreira, algo feito sem pensar no amanhã”, declarou. Para Cavalcante, o remanejamento irá contribuir com o policiamento nas ruas.
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