Crise que envolve o PT é de todo o sistema partidário, diz Paulo Teixeira

Deputado petista fala sobre criminalização do partido e esgotamento do modelo político.


Deputado federal critica 'visão seletiva dos acontecimentos': "Veja o que acontece com a 
merenda escolar em São Paulo, veja as acusações que foram feitas em relação a Aécio Neves"

Jornal do Brasil
Pamela Mascarenhas

O deputado federal e vice-líder do governo na Câmara, Paulo Teixeira (PT-SP), em entrevista ao JB por telefone, avaliou o cenário político brasileiro e destacou que é "ingenuidade" pensar que os problemas do país se referem unicamente ao Partido dos Trabalhadores (PT). Para ele, o sistema político como um todo se esgotou. É preciso, agora, pensar efetivamente em uma reforma política.

"A crise que envolve o PT envolve todo o sistema partidário. Atribuir ao PT unicamente os erros é um equívoco", alerta Paulo Teixeira. "Veja o que acontece com a merenda escolar em São Paulo, veja as acusações que foram feitas em relação a Aécio Neves, pelos delatores da Lava Jato, veja o que está acontecendo com o Beto Richa no Paraná. O sistema político esgotou", completou.

De acordo com o deputado, episódios como os chamados "panelaços", registrados em determinadas regiões do país em momentos de inserção do partido na televisão, são "fruto de uma criminalização do PT, e de uma visão seletiva dos acontecimentos". Paulo Teixeira chamou a atenção para uma seletividade da Justiça, por não dar o mesmo tratamento que é direcionado ao partido às denúncias relacionadas a outras siglas. "Tem uma série de abusos que estão sendo cometidos." O deputado não deixa, contudo, de indicar a necessidade de uma reinvenção da legenda, para se renovar e responder a um novo ciclo. No sábado (27), o PT comemorou seus 36 anos com uma festa no Rio de Janeiro, com a presença do presidente do partido, Rui Falcão, do ex-presidente Lula e de lideranças e militantes petistas. Na ocasião, Lula voltou a lembrar que pode ser candidato à Presidência da República em 2018.

Confira a entrevista com o deputado Paulo Teixeira:

Jornal do Brasil - Deputado, o PT comemorou 36 anos no sábado. O senhor acompanhou boa parte desta história. Que balanço a gente pode fazer do partido?
Paulo Teixeira - O balanço que eu tenho é que o PT deixou marcas muito positivas na sociedade brasileira -- na diminuição da desigualdade social, no aperfeiçoamento democrático, na construção de uma sociedade mais justa e no protagonismo dos trabalhadores na cena política. É um balanço mais positivo. É evidente que nesse período também aconteceram erros, mas o balanço que eu tenho é mais positivo [do que negativo].

Jornal do Brasil - Quais os desafios que o partido enfrenta neste momento?
Paulo Teixeira - O primeiro desafio é o PT pegar todas as suas relações para fazer uma nova elaboração para o Brasil, porque tem agora que dizer o que vai fazer pelo Brasil neste novo ciclo, neste novo tempo do Brasil. O PT, por tudo que produziu, realizou, agora tem que ter uma nova leitura e uma nova formulação para o Brasil. Este é o desafio. Tem que fazer um balanço da sua contribuição, consolidar a sua construção e também corrigir os erros, tentar diagnosticar quais os mecanismos que conduziram aos erros, e corrigi-los. Tem que arejar o partido para uma nova fase, um novo ciclo.

Jornal do Brasil - Como o deputado enxerga esse clima que se criou entre uma parcela de pessoas que são contra o governo, como quando a gente vê os chamados "panelaços" que surgem a cada aparição do partido na TV?
Paulo Teixeira - Isso é fruto de uma criminalização do PT, e de uma visão seletiva dos acontecimentos. Porque eu acho que a crise que envolve o PT ela envolve todo o sistema partidário, ela é uma crise do esgotamento do modelo político que nós construímos na Constituição. A crise atingiu todo o sistema partidário. Atribuir ao PT unicamente os erros é um equívoco. Veja o que acontece com a merenda escolar em São Paulo, veja as acusações que foram feitas em relação a Aécio Neves, pelos delatores da Lava Jato, veja o que está acontecendo com o Beto Richa no Paraná. O sistema político esgotou. Atribuir ao PT os problemas é uma ingenuidade. E também não pode reconhecer que não houve equívoco, eles aconteceram. Mas o que nós temos é que priorizar o debate de uma reforma política profunda, que atualize o sistema político brasileiro para os novos tempos.

Jornal do Brasil - Como o senhor analisa os discursos acerca dos supostos atritos e até o afastamento entre a presidente Dilma e o partido?
Paulo Teixeira - Eu acho que essas questões devem ser conversadas. A presidenta Dilma Rousseff é uma presidenta totalmente conectada com o partido. Eventuais divergências têm que ser conversadas para compactuar caminhos a serem adotados.

Jornal do Brasil - Sobre as investigações em curso pela Polícia Federal, há correntes que afirmam que elas têm sido partidárias. O senhor concorda?
Paulo Teixeira - Eu acho que a Operação Lava Jato é seletiva, ela não dá o mesmo tratamento dado ao PT aos outros partidos, às denúncias relacionadas aos outros partidos. E tem uma série de abusos que estão sendo cometidos.

Jornal do Brasil - E qual a gravidade deste cenário para o país?
Paulo Teixeira - É ruim para o país porque fere o Estado de Direito.

Jornal do Brasil - Em meio a tantas crises, como sempre na história, a gente vê lacunas para perda de direitos. O relatório da Anistia Internacional, por exemplo, divulgado nesta semana, apontou para um retrocesso nas conquistas dos Direitos Humanos, e citou casos como a aprovação, pela Câmara dos Deputados, da proposta de emenda à Constituição que prevê a redução da maioridade penal. Como o deputado tem analisado essas questões?
Paulo Teixeira - Não, não podemos afirmar que tenha um retrocesso. Nós podemos afirmar que há o perigo de retrocesso. Nesse tema que você falou [redução da maioridade penal], é um perigo. E o Senado está segurando. Então nós temos que evitar o retrocesso. Não houve retrocesso ainda do ponto de vista da agenda. O que nós temos é que prevenir o retrocesso.

Jornal do Brasil - Como está o clima na Câmara em relação à permanência do Eduardo Cunha na presidência?
Paulo Teixeira - A maioria entende que não pode manter esta situação, tão prejudicial à Câmara.

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