Caso de jovens fuzilados entra em estatística alarmante de autos de resistência

Entre janeiro de 2010 e agosto deste ano, foram registrados 3.256 casos de auto de resistência no Rio de Janeiro.


FLAVIO ARAÚJO, MARIA INEZ MAGALHÃES E ANGÉLICA MARTINS

Rio - O caso dos cinco jovens que tiveram o carro fuzilado por policiais no Complexo da Pedreira, em Costa Barros, será mais um dentro de uma estatística que não para de crescer. O Estado do Rio teve, entre janeiro de 2010 e agosto deste ano, 3.256 casos de auto de resistência, de acordo com o Instituto de Segurança Pública do Rio. Feliz com o primeiro salário, o morador do Morro da Lagartixa, no Complexo do Chapadão, Roberto de Souza Penha, de 16 anos, saiu com os amigos para comemorar. Foram ao shopping, onde ele comprou um telefone celular, ao Parque de Madureira e depois voltaram para casa. Mas, Roberto não teve tempo de usar o aparelho. Poucas horas depois, ele, os irmãos Wesley Castro, de 25, e Wilton Esteves Domingos Junior, de 20; Cleiton Corrêa de Souza, de 18, e Carlos Eduardo da Silva Souza, de 16, foram fuzilados dentro do carro quando saíam da comunidade para fazer um lanche por volta de 01:00hs., na Estrada João Paulo. O Pálio era de Wilton. Parentes e amigos acusam quatro PMs do 41º BPM (Irajá) pelas mortes. Eles foram presos em flagrante e vão responder por homicídio e fraude processual - quando há alteração da cena do crime. Os policiais acusados registraram o caso como auto de resistência, quando há morte em confronto com a polícia. A Polícia Militar abriu inquérito para apurar as circunstâncias do fato. “Foi uma execução. Mataram o meu filho e todos os colegas que estavam com ele. Eu fui ao Parque Madureira com os meninos e passei pelo local dez minutos antes, e pouco depois os policiais fazem uma desgraça dessa”, disse, chorando muito, Jorge Roberto Lima da Penha, pai de Roberto.

Parentes e amigos das vítimas afirmam que elas eram inocentes. Segundo testemunhas, os PMs confundiram os rapazes com bandidos que estariam fazendo escolta de um caminhão com carga de bebidas, roubado na Avenida Brasil e que estava sendo levado para a comunidade. O carro ficou com mais de 20 perfurações.


Segundo Roberto, o filho dele trabalhava no departamento pessoal de um supermercado em Guadalupe e também estudava. “Quando os bombeiros tiraram os corpos do local, eu peguei o telefone e a identidade do bolso do meu filho. O aparelho estava zerado, novinho. Meu filho estava muito feliz com o primeiro emprego de carteira assinada. Ele tinha acabado de receber o primeiro salário. Meu filho também fazia curso de administração”, contou o pai. De acordo com testemunhas, os PMs ainda plantaram armas no local do crime. A perícia encontrou uma pistola de brinquedo e um revólver calibre 38 com duas cápsulas deflagradas. Em um vídeo que circula na internet, uma arma aparece caída perto de uma das rodas do carro fuzilado.


Moradores da Lagartixa ainda acusam os policiais de impedir o socorro às vítimas. “Quando cheguei, dois meninos ainda estavam agonizando e o PMs não me deixaram socorrer. A mãe de um deles também chegou desesperada e um policial disse que a matava se ela mexesse no carro”, contou a tia de Wesley e Wilton, Erika Esteves Domingos. Segundo a Polícia Civil, Cleiton já respondeu por furto e Wesley, por tráfico. Familiares e moradores da Lagartixa estão programando uma manifestação para esta segunda-feira, na Avenida Brasil, perto da comunidade.

Caso é um entre milhares
Em setembro passado, Eduardo Felipe dos Santos, 17 anos, foi assassinado, no Morro da Providência, Centro do Rio. Seria outro auto de resistência entre os muitos já registrados na comunidade. Na versão de policiais da UPP local, o adolescente seria um bandido que morreu após trocar tiros com os agentes em um confronto, mas a encenação dos PMs — que colocaram a arma na mão do jovem e fizeram dois disparos — foi flagrada por dois vídeos feitos por moradores. A morte de Eduardo Felipe não foi a única registrada este ano envolvendo policiais da UPP da Providência. Há pelos menos outros dois casos semelhantes investigados pela 4ª DP (Central) — um em 13 de maio e outro em 25 de julho. Há ainda um assassinato sendo apurado pela Delegacia de Homicídios (DH) ocorrido na comunidade em 15 de setembro.

Acusados estão no presídio
Os PMs prestaram depoimento neste domingo na 39ª DP (Pavuna) e tiveram as armas apreendidas. Eles foram acompanhados por policiais da 2º Delegacia de Polícia Judiciária Militar. Thiago Resende Viana Barbosa, Marcio Darcy Alves dos Santos, Antonio Carlos Gonçalves Filho vão responder por homicídio doloso e fraude processual. O policial Fabio Pizza Oliveira da Silva é acusado apenas de fraude processual. Por se tratar de homicídio, eles vão responder pelo crime nas justiças comum e militar. Os quatro foram levados neste domingo para o Presídio Vieira Ferreira Neto, em Niterói, unidade destinada a PMs.

Colaborou a estagiária Marina Brandão
http://odia.ig.com.br/

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