Lula poupa Levy, mas diz que Dilma mudou o discurso depois de ter sido reeleita

A presidente recebeu ainda outras estocadas de aliados e colaboradores: PMDB soltou nota criticando a política econômica e Temer disse que o governo equivocou-se; Cunha deu sinais de que pode soltar o impeachment; BC e Tombini disseram que política fiscal prejudica a inflação.


Por José Marcio Mendonça 

Ontem foi o que dia em que os amigos e até colaboradores parecem ter decidido a deixar a imagem e a vida da presidente Dilma Rousseff e do governo um pouco mais manchadas e complicadas. A saber: Embora Lula tenha conseguido que o PT desse uma trégua ao ex-ministro Joaquim Levy e à política econômica por ele tocada, em seu discurso na reunião do diretório nacional do PT em Brasília o ex-presidente confessou que Dilma ganhou a eleição com um discurso e depois foi obrigado a trocá-lo. E insinuou que isto estaria na origem da avaliação negativa da presidente agora.

O PMDB divulgou oficialmente um documento, antecipado ontem pelo jornal “Folha de S. Paulo”, com críticas à política econômica e ao governo, visto em Brasília como uma porta aberta ao rompimento (ou pelo esfriamento) com o governo. E o vice-presidente Michel Temer endossou a catilinária dizendo que “o governo equivocou-se na política econômica”. O texto é um “programa de governo” e está sendo conhecido também como “Proposta Temer”. É um plano de ação imediata.

O Banco Central na ata da última reunião do Copom foi explicito nas críticas à situação fiscal: informou que o cenário nebuloso das contas públicas está prejudicando o esforço de levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%, e que os brasileiros vão sentir por um prazo mais longo os efeitos da alta de preços. E o presidente da instituição, Alexandre Tombini, em uma apresentação para um grupo de deputados, disse que a questão das contas públicas afeta o combate à inflação. A conversa foi gravada e vazada para o jornal “O Estado de S. Paulo”.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a quem o governo e o PT continuam cortejando, a ponto de ter sido poupado na reunião do diretório petista, bem a seu estilo “morde e assopra” (ou “ameaça e apresenta a fatura”) anunciou que poderá dar o parecer sobre os pedidos de impeachment de Dilma em novembro. Ao mesmo tempo, ele revogou o rito que havia estabelecido para a tramitação do processo - estava suspenso por liminar do STF. Segundo alguns juristas, com isso Cunha abre caminho para despachar favoravelmente um dos pedidos de afastamento, sem risco de tê-lo suspenso depois pela Corte Suprema. Além do mais, em entrevista à “TV Folha”, Cunha comparou sua situação à de Lula e Dilma e disse que nem ele, nem o ex-presidente nem a presidente devem ser “prejulgados”.

PF contestada
Há expectativa sobre o que se passou ontem à noite, no jantar no Palácio da Alvorada entre a presidente e o ex-presidente. Estavam presentes outros ministros, mas avaliava-se que Lula e Dilma teriam uma conversa reservada para aparar as arestas surgidas entre os dois depois que a Polícia Federal, por ordem a Justiça Federal de Brasília, deu uma busca no escritório da firma de Luís Cláudio, filho do ex-presidente. É sabido que Lula ficou magoado e soltou poucas e boas contra o governo entre quatro paredes. Embora ontem tenha tratado com ironia as “perseguições” a ele e à sua família, a irritação de Lula ainda está mercurial. E engrossou mais depois que a PF intimou Luís Cláudio a depor às 11:00 hs., de noite, após o filho ter saído da festa de aniversário do pai. Não foi à toa que o ministro José Eduardo Cardozo, de quem Lula não gosta, correu para pedir justificativas à PF pelo horário da intimação.

A cruzada pelo ajuste
Já no mundo real da economia prossegue a batalha das contas públicas e do ajuste fiscal. Ontem, ao anunciar a contabilidade oficial de setembro, o secretário do Tesouro Nacional, Marcelo Barbosa Saintive, admitiu que o déficit primário deste ano pode chegar a R$ 110.000.000.000,00, no cálculo com a contabilização das “pedaladas fiscais”. O número do dia anterior era R$ 103.000.000.000,00. Já a Comissão de Orçamento do Congresso refez seus cálculos e elevou a previsão para R$ 117.800.000.000,00. Isto representa 1,99%. A meta ainda não revisada era de um superávit de 0,15%.
A revisão é consequência de mais um fraco desempenho das contas do Tesouro Nacional em setembro, o que elevou o déficit de 2015, nos nove primeiros meses do ano para mais de R$ 20.000.000.000,00. A boa notícia ficou por conta dos estados e municípios: conseguiram economizar ate agora setembro R$ 16.000.000.000,00, o que amenizou um pouco o fracasso do governo federal.
O ministro Joaquim Levy, por seu turno, prossegue na cruzada para tentar convencer o Congresso e os aliados (e parte de seus parceiros de governo) a se engajaram no plano da Fazenda de ajuste fiscal. Ontem em Londres, aproveitando a divulgação pelo IBGE de mais um dado negativo do desemprego (8,7% na virada de junho para agosto), ele disse que essa alta e a inflação são “sintomas de que o problema fiscal ainda não foi tratado com energia”. Segundo Levy, a desconfiança leva empresas a não contratarem.

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