Intolerância religiosa impede ritual no Cemitério de Campo Grande

Seguidores do Candomblé denunciam proibição de realizar cerimônia de despedida para familiar antes de enterro.


FLAVIO ARAÚJO

Rio - Os 43 anos que Vonduce Cleuza de Jesus Pereira, de 63 de idade, se dedicou aos ritos do Candomblé não garantiram a ela paz na hora da morte. Em um novo caso de intolerância religiosa, a família da idosa denuncia que foi impedida de velar o corpo e realizar seus rituais ontem, durante o enterro dela no Cemitério de Campo Grande.

“Desculpe a palavra, mas isso é sacanagem. Nos impediram de usar a capela e fomos obrigados a alugar uma fora do cemitério por R$ 170,00. Eu ainda soube que irmãos de santo pagaram mais R$ 100,00 para poder entoar nossos cantos. Não temos nada contra a religião de ninguém e havia famílias lá orando por seus mortos, com cânticos evangélicos. Por que nós não podemos?”, questionou o sobrinho de Vonduce, o vigilante Luiz Marques, de 46 anos.

O caso vai ser acompanhado pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio, que recomendou à família fazer registro na delegacia policial. “É discriminação e também extorsão. É preciso que os responsáveis, no caso os funcionários desse cemitério, sejam punidos exemplarmente. Hoje (ontem) mesmo, também alertamos os poderes estadual e municipal, pois neste momento as duas esferas estão discutindo a questão do preconceito nos cemitérios”, explicou o presidente da comissão, o professor e babalaô Ivanir dos Santos.

Conhecida na religião de matriz africana como Dofona Cleuza D’Ogun, Vonduce era de família muito humilde e foi enterrada em uma cova rasa. Moradora do bairro da Zona Oeste, seu sepultamento estava marcado para as 10:30hs., de ontem. “Com a confusão que fizeram por pura discriminação, minha tia só foi enterrada às 16:30hs. Foi desesperador para a família, uma verdadeira humilhação”, desabafou Luiz Marques. O DIA tentou contato com a concessionária Rio Pax, que administra o Cemitério de Campo Grande. No site da empresa, os telefones disponibilizados só funcionam para a marcação de enterros. A funcionária que atendeu informou que a concessionária não possui assessoria de imprensa e forneceu os telefones do Cemitério de Campo Grande. Nestes números, ninguém atendeu as ligações feitas entre as 18:00hs., e 19:00hs., de ontem.


Menina apedrejada diz a ministro que quer respeito e liberdade
A menina Kayllane Campos, de 11 anos, agredida com uma pedrada por intolerância religiosa, encontrou na manhã de ontem com o Ministro da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Pepe Vargas. Acompanhada por familiares e representantes de várias religiões, ela entregou um abaixo assinado com 35 mil assinaturas ao ministro para que seja criado o Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. A audiência pública, que aconteceu na Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro, foi convocada pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Kayllane se manifestou para pedir respeito e liberdade religiosa. “Peço respeito para que eu possa sair de branco. Que eu possa sair na rua sem levar outra pedrada", contou. O ministro Pepe Vargas afirmou que a pasta tem tomado iniciativas, não só para evitar intolerância religiosa, mas também elaborando campanhas para outras minorias. Vargas contou que discute medidas inclusivas com o Ministério da Educação. O ministro afirmou que 10% das denúncias que chegam ao Disque 100 sobre intolerância religiosa acontecem dentro das escolas.

O presidente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), Ivanir dos Santos, também cobrou medidas políticas do ministro e anunciou que no dia 18 de agosto irá lançar um dossiê nacional com dados sobre intolerância em todo o Brasil. Ele estuda acionar o Brasil na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA.

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