sábado, 30 de maio de 2015

Tráfico cria paiol de armas no Dona Marta, favela modelo das UPPs

Polícia tenta localizar depósito no morro, que teve tiros após sete anos de paz.


DIEGO VALDEVINO

Rio - Pacificado há sete anos, o Morro Dona Marta, em Botafogo, esconde, em casas de parentes de criminosos, paióis de armas e munição. A constatação é de policiais da própria UPP que, desde dezembro, monitoram a entrada de materiais na comunidade. Ainda segundo militares, traficantes da comunidade e da vizinha Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, têm tentado levar de volta o medo aos quatro mil moradores. O capitão Márcio Rocha, comandante da Unidade de Polícia Pacificadora, afirma que interromper o elo entre os dois morros é o maior desafio dos militares, atacados a tiros quinta-feira por quatro criminosos, todos já identificados. Foi o primeiro registro de disparos desde a implantação da UPP, em 2008.

“Traficantes do Dona Marta mantêm relação com a Ladeira dos Tabajaras e desde o final do ano passado guardam armas e munição aqui. Tentam estabelecer território, mas estão acuados. Na parte alta da comunidade, onde há mata e rotas de fuga, estouramos há três semanas uma casa com 11 carregadores de fuzil 7.62, munições, celulares e balanças de precisão. Acreditamos que há mais de um paiol”, garantiu Márcio Rocha, à frente da UPP desde 2011.

Ainda segundo ele, o ataque aos PMs na última quinta-feira foi uma represália à prisão de um traficante conhecido como ‘DN’, que seria um dos líderes do Tabajaras. Ele foi pego no Dona Marta ao tentar visitar parentes. “A equipe atacada é a mesma que prendeu o DN e um jovem conhecido como Talibã, de 18 anos, no domingo. Há duas semanas, ainda apreendemos um menor com participação no tráfico e acusado de agredir um policial”, explicou o comandante, acrescentando que DN teria sido o responsável por disparos feitos recentemente no Tabajaras.


Visitado por centenas de turistas, inclusive de outros países, o Dona Marta sofreu ontem com os reflexos do clima de tensão. Um guia turístico, que não quis se identificar, contou que foi obrigado a cancelar oito visitas de turistas à favela de Botafogo. “Quatro iriam conhecer o morro pela manhã e outros quatro à tarde, mas com a segurança posta em xeque, quem vai se arriscar?”, indagou. Uma comerciante disse que os traficantes querem que a favela volte a ser uma zona de guerra. “Tenho medo até de falar. São garotos novos. Espero que os tiros não virem rotina”, desabafou.

Jovens tentam reimplantar o terror
Segundo policiais da UPP, o perfil dos novos traficantes do Dona Marta é de um grupo bem jovem, onde 10 suspeitos estariam à frente do ataque aos PMs e da retomada da venda de drogas. A maioria deles são da região. Quatro criminosos já foram identificados pela polícia. Eles são conhecidos pelos apelidos de Falcão, Chimbinha, Danielzinho e Di Banana. Segundo a polícia, este último seria o chefe do bando, que passou a intimidar moradores e policiais. Muitos contaram ontem ao DIA , que quando PMs tentam patrulhar a parte alta da comunidade, bandidos dizem que vão atirar. Isso foi o que aconteceu quinta-feira, antes do ataque aos militares.

“Os policiais atacados reconheceram quatro criminosos armados. Por sorte ninguém ficou ferido. Esses criminosos conhecidos entre moradores”, comentou o capitão Rocha.

Bandido preso influencia
De acordo com policiais da UPP, os traficantes recebem ordens de Ronaldo Lima e Silva, o Ronaldo Tabajara ou R9, preso em Bangu 3. Ele é acusado de tentar estrangular o traficante Márcio Amaro de Oliveira, o Marcinho VP, em 2003. “Ele chefiava as quadrilhas do Tabajaras e do Dona Marta e os traficantes ainda usam o nome dele para ameaçar policiais”, lembrou o comandante Márcio Rocha. Embora o clima na favela seja de apreensão, não houve conflito ontem. As tropas de elite da PM, como os batalhões de Choque e de Ações com Cães (BAC), fizeram incursão na comunidade após sete anos, e apreenderam drogas e munição na localidade Pedra Santa. O policiamento foi reforçado.

O governador Luiz Fernando Pezão disse ontem que traficantes tentam desestabilizar o processo de pacificação. “O que houve foi uma reação do tráfico. Não temos a utopia de que o tráfico acabe em qualquer lugar. Passei a tarde reunido com o Beltrame (secretário de Segurança, José Mariano) e tudo o que precisar de ajuste nas UPPs, a gente vai fazer. Vamos botar o Bope e o Choque onde precisar. Há sete anos não tem uma morte lá”, afirmou o governador.

http://odia.ig.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário