PMs vão ter que explicar morte de menor em favela da Zona Norte do Rio

Militares vão depor na segunda-feira após vídeo mostrar que vítimas estavam conversando e não com armas na mão.


HELIO ALMEIDA

Rio - A Polícia Civil vai ouvir na segunda-feira os nove policiais do 9° BPM (Rocha Miranda) que participaram de operação na Favela da Palmeirinha, em Honório Gurgel, Zona Norte, sexta-feira. Na ocasião, Alan de Souza Lima, de 15 anos, foi morto, e Chauan Jambre Cezário, de 19, baleado no peito, mas sobreviveu. O caso sofreu reviravolta após a divulgação de vídeo de celular que começou a ser feito pelo próprio adolescente instantes antes dos disparos. A delegada Adriana Belém, da 30ª DP (Marechal Hermes), disse que o vídeo é conclusivo. “As imagens mostram que os rapazes não atiraram contra os policiais.”

Os PMs alegaram que os jovens participaram de confronto com a guarnição, mas o vídeo comprovou que os quatro amigos estavam brincando na hora em que os militares entraram na comunidade. Entre os policiais envolvidos, um é oficial e oito são praças. O soldado Allan de Lima Monteiro e o sargento Ricardo Vagner Gomes disseram que fizeram disparos contra os jovens, mas não afirmaram ter atingido alguém do grupo. A PM não divulgou o nome dos outros envolvidos no caso. Os policiais podem responder por homicídio, tentativa de homicídio e fraude processual, já que eles apresentaram duas armas (uma pistola e um revólver calibre 38) e alegaram que houve auto de resistência. Os agentes foram afastados do serviço, e as armas, recolhidas. O comandante do 9º BPM, tenente-coronel Luiz Garcia Baptista, foi exonerado do cargo e transferido para a Diretoria Geral de Pessoal (DGP), também conhecida como a ‘geladeira’ da corporação. A mudança ocorreu quarta-feira. Um dos tiros disparados pelos PMs parou no lado esquerdo no peito de Chauan, que estava com Alan, e por pouco não atingiu o coração. O jovem contou que estava com os amigos por volta da 00:40hs., na rua porque a favela estava sem luz e fazia muito calor dentro de casa.

“A gente ficou no portão de casa fazendo um vídeo contando piada. Foi quando escutei o disparo e em seguida eu caí, botei a mão no peito e vi o sangue. Aí eu comecei a orar”, relatou Chauan.

O projétil vai continuar alojado no corpo até o próprio organismo expelir. “Médicos disseram que era arriscado tirar a bala porque eu podia perder os movimentos”.

Festança de aniversário e nova chance no Bangu
A vida foi o melhor presente que Chauan ganhou de forma antecipada. Amanhã, o jovem completará 20 anos e está preparando uma grande comemoração para o dia.

“Nasci de novo. Esse presente é maravilhoso”, declarou. “Marquei de chamar os amigos para festejar meu aniversário num sítio”, disse o jovem, na saída da delegacia, onde prestou depoimento, nesta quinta-feira. Outro presente que o jovem gostaria de ganhar é uma chance no Bangu Atlético Clube, onde faria uma teste na última terça-feira, mas não não compareceu por estar hospitalizado. Ele disse que vai até os dirigentes conversar para tentar mais uma chance. “Eu estou tranquilo, mostrei minha inocência. Agora, só quero tirar os curativos e jogar minha bola”, se anima.

Os pais de Chauan querem esquecer o drama que viveram. “Ainda estamos com medo de sair de casa, mas vamos superar e seguir nossas vidas. O importante é que nosso filho está vivo”, disse o pai de Chauan, Adilson da Conceição, ao lado da esposa Maria Cláudia.

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