domingo, 26 de outubro de 2014

Praça Agripino Grieco vira ponto de agitação cultural

Moradores do Méier agora recebem gente de outros bairros para se divertir com shows, DJs, rodas de samba e exposições que tomam conta do espaço.


FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - A praça sempre esteve lá, mas era como se as pessoas não a notassem. O lugar servia somente a passantes apressados de dia e a escassos frequentadores à noite. A não ser pelas atividades de alguns grupos (como capoeiristas, jongueiros e roqueiros, reunidos em tribos) e casais de namorados, pouca coisa na Praça Agripino Grieco, no Méier, lembrava um espaço de lazer. Há um ano, o produtor, cineasta e DJ Pedro Rajão, de 28 anos, resolveu mudar isso. Conseguiu. Cansado de ir à Lapa ou à Zona Sul para assistir a shows e outras manifestações artísticas, Rajão inverteu o fluxo. Desde janeiro, mantém na praça do Méier intensa programação de eventos, com bandas, cantores, DJs, grafite, sambistas e animação cultural. Em alguns fins de semana, o público vira multidão, com muita gente vinda da Zona Sul.

“Tenho o sentimento de raiz, por ter nascido no Méier. A ocupação do espaço público é um movimento que está se espalhando pela cidade e tinha que chegar aqui”, explica ele. O evento foi batizado como ‘Perto do Leão Etíope do Méier’, uma alusão à estátua do clube Lions, cravada no início da Dias da Cruz, principal rua do bairro. Sem patrocínio, sem pagar um tostão de cachê e com aparelhagem de som emprestada, Rajão já conseguiu levar à praça 31 atrações. Há dois meses, ele divide a produção do evento com o rapper André Machado, de 33 anos. “É importante trazer para as pessoas daqui a diversidade cultural a que elas não tinham acesso”, acredita. Machado prevê que o público vá crescer ainda mais. “Não existe limite para quem enxerga o infinito”, diz, recitando a letra de uma composição sua.

O público que vem de fora é crescente, mas os principais beneficiados são os moradores da Zona Norte, que têm poucas atrações gratuitas. Gente de todas as faixas etárias. “Tínhamos poucas opções de lazer, isso aqui era deserto”, afirma Claudia Pizzolotto, 59 anos, assídua frequentadora dos eventos do ‘Leão Etíope’, junto com a filha Camila, de 24 anos. “A retomada do espaço público é uma manifestação política e ainda mais acontecendo na Zona Norte. Muito legal ver a praça florescendo”, elogia Camila. 

Lugar de fazer arte e cultura
O movimento de ocupar com eventos culturais as praças e ruas das Zona Norte e Oeste, além da Baixada Fluminense, aumentou nos últimos anos. Cansados de esperar pelo poder público, grupos de jovens vão para a rua oferecer à população atrações gratuitas de todos os tipos. Um dos coletivos de atividade mais intensa é o Norte Comum, que começou na Tijuca e hoje atua em vários bairros. Além de shows, debates e exposições de artes gráficas, uma das intervenções mais interessantes é o projeto Ágoras Cariocas, em que o historiador Luiz Antonio Simas vai às praças contar para quem quiser ouvir a história dos recantos da Zona Norte e sua cultura.

“A praça é um lugar de estar que não tem sido usado para isso, as pessoas só passam. No espaço público se garante a maior igualdade para a produção cultural”, define Carlos Meijueiro, do Norte Comum. 

Na Zona Oeste há vários grupos atuando dessa forma, como o “Mulheres de Pedra”, que promove eventos de arte, educação e economia solidária em Pedra de Guaratiba.

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