sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Governo federal manda ajuda para combater fogo na Serra

Pezão diz que se não chover em 30 dias o Rio enfrentará problemas de falta d’água.


ANGÉLICA FERNANDES E DIEGO VALDEVINO

Rio - Quatro aeronaves do Ministério da Defesa chegarão em Petrópolis hoje para reforçar o combate a um dos incêndios mais graves já registrados na área de mata da Região Serrana. O fogo consumiu mais de 2,6 mil hectares da vegetação em 11 dias. A expectativa é de que os focos existentes sejam controlados até domingo. Ontem, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, declarou que o estado pode também enfrentar problemas de falta d’água se a chuva não chegar nos próximos 30 dias. Apesar de bombeiros descartarem a possibilidade de retirar moradores das áreas atingidas, algumas famílias do bairro Águas Lindas, em Petrópolis, chegaram a deixar suas casas por precaução. A dona de casa Solange Honório, de 28 anos, grávida de 6 meses, passou três dias trancada em casa porque não tinha para onde ir. “Fechei todas as janelas e portas com medo da fumaça. Minha filha de um ano não parava de chorar com medo”, relatou Solange. 

A ajuda do Governo Federal vai se unir a outras cinco — duas do Corpo de Bombeiros, uma da Marinha, uma da Polícia Militar e uma da Civil — que já começaram a trabalhar na região ontem. Os esforços estão voltados principalmente para quatro focos de incêndio no Parque Nacional da Serra dos Órgãos e quatro na Serra das Araras. Após sobrevoar a área, Pezão classificou a queimada como assustadora.

“Este é um incêndio de magnitude nunca vista na região. Todas as medidas estão sendo tomadas pela Defesa Civil. Acreditamos que, nos próximos dois dias, todos os focos serão controlados”, declarou o governador. Além das aeronaves, 20 viaturas do Corpo de Bombeiros foram remanejadas para Petrópolis. Desde domingo, 600 bombeiros, de cinco quartéis, atuam no trabalho de combate ao fogo. Na Serra dos Órgãos, a localidade mais preocupante é o Morro do Mamute, onde o fogo destrói a mata há quatro dias. De acordo com o coordenador de Emergências Ambientais do Instituto Chico Mendes, Christian Berlinck, o difícil acesso ao local dificulta o trabalho dos brigadistas. “Não dá para caminhar lá porque são muitas rochas. O acesso é só por helicóptero e, ainda assim, é muito complicado. Já fizemos testes outros dias e não conseguimos pousar por conta da alta temperatura e da alta altitude”, informou Berlinck. 


Outra preocupação do Instituto é com o surgimento de novos focos. Outros cinco pontos de incêndios na direção de Teresópolis foram detectados. “Temos uma equipe de oito homens que está desde segunda na estrada Rio-Teresópolis controlando estes pequenos incêndios para não deixar chegar na Serra dos Órgãos”, completou.

Moradores cedem água de piscina para conter chamas 
Diante do problema em Petrópolis, moradores de Nogueira decidiram se unir para combater focos de incêndio. Nos últimos dois dias, o empresário Felipe Almeida, de 38 anos, e seus vizinhos colocaram na mata quatro caminhões-pipa, com 10 mil litros d’água cada, para conter o fogo. “Temos que ajudar os bombeiros. A situação é muito preocupante”, declarou Felipe. Sem chuva há um mês, o Rio de Janeiro pode ser o próximo estado a sofrer com a falta d’água. Ontem, durante uma sabatina promovida pelo Jornal O Globo, o governador Luiz Fernando Pezão demonstrou preocupação com a estiagem. “Se a seca continuar pelos próximos 30 dias, vamos ter problema. A gente ainda tem o sistema de Ribeirão das Lajes. Em Santa Cecília ainda dá para o abastecimento. Esse reservatório ainda segura uns 30 dias. Espero que comece a chover.” 

A previsão de chuva, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), é para segunda-feira. Até lá, o Rio vai enfrentar o aumento de temperatura. “O final de semana promete ser bem quente. A frente fria chegará somente no domingo e pode aliviar toda a Região Serrana”, explicou a meteorologista Marlene Leal. Nesta quinta-feira, Petrópolis amanheceu sob uma forte neblina, o que atrasou o sobrevoo das aeronaves no combate ao incêndio. O problema deve continuar nos próximos dias. “Esta neblina é uma mistura do ar muito seco com a fumaça. Só a chuva pode resolver”, alegou Marlene. A umidade relativa do ar na Região Serrana chegou ontem a 40%, quando o ideal é 60%.

Duas décadas para recompor fauna e flora 
O Parque Nacional da Serra dos Órgãos não enfrenta um incêndio de grandes proporções desde 1998. Na época, o fogo atingiu mais de 400 hectares. Desta vez, a queimada já chega a 596 hectares, o equivalente a quase 600 campos de futebol. Para o ambientalista André Ilha, serão necessárias duas décadas, no mínimo, para recompor a fauna e flora da região. “Perdemos áreas preciosíssimas da biodiversidade, onde o reflorestamento só vai dar resultado daqui a 20 anos. A prevenção deveria ter sido mais explorada para não chegar a este ponto”, explicou André. Segundo o Instituto Chico Mendes, o incêndio que atinge a Região Serrana começou na semana passada, nas proximidades do entroncamento do Morro do Pilar (rodovia MG-010), na Serra do Cipó. O motivo ainda está sendo apurado, mas para o comandante do Corpo de Bombeiros na Região Serrana, Roberto Robadey Júnior, uma simples queimada de lixo no quintal de um sítio pode ter dado início ao fogo. “Em 29 anos de Corpo de Bombeiros, não tenho dúvidas de que estes focos foram derivados de moradores. E a ventania que tivemos na semana passada ajudou a espalhar o fogo”, apontou Robadey.

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