domingo, 28 de setembro de 2014

Traição entre correligionários e até familiares domina eleições

Candidatos pedem votos para chapas adversárias e filho apoia rival político do pai.


NONATO VIEGAS E CONSTANÇA REZENDE

Rio - O eleitor que quiser fundamentar seu voto de forma coerente às coligações, se ouvir seu candidato, terá dificuldade. Em menos de três meses de campanha, não faltaram traições e ambiguidades. A uma semana do pleito, o balanço não é animador. Houve quem pedisse voto a político de outras chapas; quem referendasse praticamente todos os candidatos ao governo do estado; e legenda que tem vice de um e pede voto para outro. Uns mudaram tantas vezes de aliados quantas vezes eles apareciam subindo ou descendo nas pesquisas e, neste vuco-vuco das relações políticas, foram as relações familiares que se estremeceram. Irmão traiu irmão; e filho, o pai. O candidato ao Senado César Maia (DEM), por exemplo, deixou seus eleitores fiéis perdidos na última terça, em campanha em Campos. Depois de distribuir santinhos com seu nome ao lado do presidenciável Aécio Neves (PSDB), Maia subiu ao palanque e pediu à plateia de cerca de 200 pessoas que verificassem suas colinhas, na hora do voto, lembrando o nome da presidenta Dilma Rousseff (PT).

“Cada um de nós tem que buscar em sua colinha o nome de seu candidato a deputado federal, estadual, de Pezão, de César Maia e de Dilma, presidente”, discursou. Não citou, entretanto, Aécio, com quem caminhara pelo Saara, em campanha, no Rio, semanas antes. Aécio Neves é nome presente no site oficial do ex-prefeito. A assessoria de imprensa de Maia negou, porém, que ele tenha dado apoio à Dilma. Segundo sua campanha, apenas “citou a chapa de (Luiz Fernando) Pezão (PMDB)”.

A cidade foi mesmo pródiga nas puladas de cerca. Irmão de Anthony Garotinho (PR), que concorre ao governo do Rio, o candidato a deputado federal Nelson Nahim (PSD) fez caminhada em Campos com... Pezão. Desgosto, pouco. O filho de Garotinho, Wladimir, ignorou durante a campanha as orientações paternas e participou de palanques com o candidato a deputado federal Júlio Lopes (PP), um dos principais alvos de ataques de seu pai. Para o cientista político Paulo Baía, professor da UFRJ, “o fenômeno reflete a falta de representatividade dos partidos e personalização da política”. Isto, para ele, é ruim. “O eleitor é estimulado a não votar em partidos e sim em pessoas.”

Infidelidade corre solta 
Para não perder nenhum voto, o filho do ex-governador Sergio Cabral, Marco Antônio, do PMDB de Pezão e Michel Temer, vice de Dilma, faz campanha logo para dois: a presidenta e Aécio Neves (PSDB), seu primo. Marco Antônio faz parte de dois movimentos distintos e concorrentes, que, surgidos no Rio, representam bem a falta de coerência de certas alianças: o ‘Aezão’ e o ‘Dilmão’Para se ter ideia, o PMDB tem o vice da presidenta Dilma e, se reeleita, assim permanecerá. No Rio, porém, pede votos para o concorrente do PSDB e, num segundo turno, confirmando-se as pesquisas, parte caminhará com Marina Silva (PSB). Como ele, o PSD, nacionalmente, fecha com o PT, mas, no Rio, prefere Aécio. No segundo turno, bandeará para a ex-senadora. Dentro de um movimento que já é uma traição, o PSD vê, em si, a infidelidade da infidelidade. Um dos candidatos a deputado federal do partido, Samuel Malafaia, não ficará com Aécio Neves, pois, a ele, falou mais alto o lado religioso. E avisou: “Vou votar no Pastor Everaldo.”

Lindberg fica abandonado
Em Paracambi — cidade de 46 mil habitantes da Baixada, a 82 quilômetros do Rio — a traição foi explícita e sem constrangimento. Filiado ao PT, o prefeito Tarciso Pessoa desprezou por completo Lindberg Farias, seu correligionário, e caminhou de braços dados com Pezão, do PMDB. “Apoio Pezão porque ele tem sido um grande governador para a minha cidade”, justificou-se uma vez ao DIA. Não é o único. Dos dez prefeitos petistas, apenas dois o apoiaram. O de Pinheiral, com 22 mil habitantes, e o de Maricá. Este último, Washington Quaquá, é presidente do PT no Rio e coordenador da campanha de Lindberg. Para piorar, os que com ele estiveram até aqui, diante da estagnação nas pesquisas, começam a debandar, como os candidatos a deputado do PV, partido de onde saiu o vice do senador. Aspásia Camargo, um deles, conforme noticiou esta semana O DIA, sequer apoia o presidenciável de seu partido, Eduardo Jorge. Ela prefere Marina.

PT e PV prometem punir filiados que pediram votos a adversários
Para especialistas em Direito Eleitoral ouvidos pela reportagem, os partidos são os únicos que podem penalizar seus filiados. E, ao menos dois deles, prometem reagir: PT e PV. “No momento exato vamos cobrar de quem foi infiel”, ameaçou Washington Quaquá, presidente do PT fluminense. Ele lembrou que “prefeito, para se reeleger, precisa de partido”. E sugeriu que celulares, hoje, facilitam a produção de provas. No PV, o clima é o mesmo. Por nota, o partido informou que tirou Aspásia Camargo da propaganda eleitoral, após sua manifestação em favor de Marina Silva (PSB) e de Pezão. Ameaçou ainda tirar a legenda dos infiéis. Amanhã haverá reunião, segundo a nota, para decidir o futuro dos correligionários. 

Já para os presidentes do PSD, Índio da Costa, e Alexandre Cerruti, do DEM, não há problema algum nos deslizes de seus correligionários. “Se o Samuel Malafaia realmente votar no Pastor Everaldo, contribui para o nosso projeto, que é levar o Aécio para o segundo turno. Fazendo isto, o partido apoia”, defendeu Índio.  Já Cerruti, que disse não ter sabido das palavras de Maia, o importante é que o ex-prefeito seja leal ao partido.

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