sábado, 27 de setembro de 2014

CUBANO CHAMADO DE ESCRAVO RECLAMA DE FALTA DE MÉDICOS ESPECIALISTAS





Maranhão 247 - Símbolo do programa Mais Médicos, por ter sido chamado de escravo quando chegou ao Brasil, o cubano Juan Delgado continua trabalhando com entusiasmo no interior do Maranhão, mas reclama da falta de profissionais de áreas especializadas para encaminhar seus pacientes que necessitam de cirurgia e/ou tratamento mais específico. Abaixo entrevista que ele concedeu à BBC Brasil.

Xingado de escravo, cubano do Mais Médicos hoje reclama de falta de especialistas.

O médico cubano Juan Delgado, 40, que foi xingado de escravo e virou símbolo do programa Mais Médicos, está tendo dificuldades para marcar consultas com especialistas e agendar exames para seus pacientes no interior do Maranhão.

"Demora muito tempo para conseguir exames diagnósticos e consultas próprias das especialidades para definir um tratamento adequado para o paciente", afirma o médico em entrevista à BBC Brasil.

Delgado atua em aldeias indígenas do interior do Maranhão. Ele atende ao principal objetivo do projeto, que é levar atendimento básico a locais com escassez de profissionais de saúde, mas está esbarrando em um novo gargalo da saúde pública brasileira exposto pelo Mais Médicos. Em Cuba, segundo Delgado, não há "as dificuldades que vemos no Brasil para realizar consultas com especialistas e qualquer exame diagnóstico." Ele afirma que um exame de ultrassom, por exemplo, leva mais de um mês para ser agendado – algo que diz ocorrer em todo o Brasil. Para contornar o problema, usa as perguntas feitas aos pacientes e o exame físico.

O médico também encontrou outras dificuldades no interior, como a ausência de infraestrutura adequada para consultas e de remédios, que "escasseam às vezes". Esses são argumentos frequentemente usados por entidades médicas para justificar a rejeição de brasileiros a postos de trabalho nos rincões do país. Mas Delgado não pensa em desistir por causa disso: "Supero esta dificuldade e realizo o atendimento. O médico cubano vai ao lugar para onde mandarem. Para salvar e cuidar de qualquer vida não vemos as dificuldades. Isso é parte de nossa formação", afirma.

Delgado diz que não voltou a sofrer ataques como os que ocorreram em Fortaleza. Logo após sua chegada, ele e outros médicos cubanos foram vaiados e chamados de escravos por profissionais brasileiros. As ofensas foram baseadas no fato de que, ao contrário dos outros médicos que participam do programa, os cubanos recebem apenas uma parte da bolsa de R$ 10 mil. O convênio do governo brasileiro é com a Opas (Organização Panamericana da Saúde), que repassa o pagamento ao governo de Cuba. Os médicos cubanos ficam com US$ 1.245, ou cerca de R$ 3.000 -o que, segundo Delgado, é suficiente para seus gastos. À época, o então ministro da Saúde, Alexandre Padilha, chamou o protesto de "corredor polonês da xenofobia", e a presidente Dilma Rousseff pediu desculpas a Delgado. O médico diz acreditar que, passado um ano do início do programa, mesmo os que participaram do protesto "pensam de outra forma".

"Chegamos aqui não para tirar os pacientes deles, mas para ir a outros lugares onde a população não teria acesso a um médico. Acho que a relação dos médicos brasileiros e cubanos deve ser próxima."

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