terça-feira, 26 de agosto de 2014

Secretaria de segurança admite que tráfico e milícia são responsáveis por sanções a candidatos

Relatório entregue hoje à Justiça Eleitoral aponta 41 áreas sob influência desses grupos, 10 estão em zona de UPP.




POR PAULA FERREIRA

RIO — A Secretaria Estadual de Segurança Pública (Seseg) entregou na segunda-feira ao desembargador eleitoral Fábio Uchôa um relatório apontando 41 áreas no Estado do Rio dominadas por tráfico ou milícia e onde candidatos enfrentam problemas para fazer campanha. De acordo com o documento, dez dessas localidades têm Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Os complexos da Maré e do Alemão são citados como locais onde candidatos governistas foram intimidados e proibidos de entrar. A Rocinha, na Zonal Sul, também registra problemas. Na sessão de ontem no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Uchôa classificou como “caótica” a situação descrita no relatório. Mesmo assim, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), candidato à reeleição, informou nesta segunda-feira que não pedirá ajuda das forças federais para garantir o pleito. O levantamento do serviço de inteligência da Seseg dá conta de 16 comunidades sob domínio da milícia e as demais controladas por traficantes e associações de moradores, usadas pelo crime. Ainda de acordo com o estudo, moradores de áreas de milícia são obrigados a fazer parte de um cadastro de títulos eleitorais. O relatório da secretaria menciona também um pedágio de R$ 10 mil, cobrado por traficantes da Vila Ipiranga, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. No mesmo município, placas de candidatos da base do governo foram destruídas no Morro do Caramujo. A Secretaria de Segurança omitiu no relatório se há necessidade da ajuda da Força Nacional para garantir a ordem durante a campanha e no dia das eleições.

'HÁ TEMOR DE DIZER QUE HÁ NECESSIDADE'
Nesta segunda-feira à tarde, o presidente do TRE, Bernardo Garcez, disse que havia reenviado um ofício a Pezão para ouvi-lo sobre a necessidade de reforço de segurança no processo eleitoral. De acordo com Garcez, o primeiro documento enviado foi respondido por um secretário, a quem chamou de subalterno, e era preciso uma manifestação do próprio governador, afinal se trata de um tipo de intervenção no estado. Por isso, um outro ofício foi encaminhado diretamente para o gabinete de Pezão.

— Há um temor de dizer que há necessidade (da Força Nacional) — destacou Garcez, antes de saber da posição de Pezão.

Em resposta ao presidente do TRE-RJ, Pezão informou que, em consulta à Secretaria Estadual de Segurança, definiu que, até o presente momento, não há necessidade de requisição de forças federais. Durante caminhada ontem pela manhã no Batan, favela da Zona Oeste que já foi controlada pela milícia, o governador do Rio insinuou que policiais expulsos da corporação podem estar por trás de currais eleitorais em comunidades. Segundo ele, caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgue necessário aumentar a segurança na cidade até as eleições, não será um sinal de fracasso das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs):

— Há policiais que foram expulsos do serviço público e que jogam contra. (...) Eu tenho consciência de que o eleitor desses lugares onde o tráfico ou a milícia não deixam entrar a minha placa com o meu número me tem dentro do coração — disse Pezão, que prorrogou o acordo de Garantia da Lei e da Ordem no Complexo da Maré e a presença da Força Nacional no Morro Santo Amaro, no Catete, até depois das eleições.

FREIXO DIZ QUE MILÍCIAS MANTÊM PODER
Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) que investigou em 2008 a atuação das milícias, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), candidato à reeleição, afirmou ontem que, mesmo após a prisão de líderes milicianos, o poder dos grupos se manteve. O deputado explica que as milícias têm “estrutura de máfia” e, sempre que um integrante é preso, outro assume suas funções. Freixo destaca que, nestas eleições, a pressão dos milicianos sobre os candidatos tem sido maior do que nos pleitos anteriores. Eles também mudaram a forma de escolha dos candidatos que recebem o apoio das milícias.

— Antes, as candidaturas eram dos próprios chefes das milícias. Hoje, há um acerto entre candidatos que não integram esses grupos. Essa negociação pode ser financeira. Os escolhidos têm livre acesso nas áreas dominadas, e os demais são proibidos. Para não despertar suspeitas, esses nomes têm ficha limpa — disse Freixo. — As milícias dominam as comunidades por meio do assistencialismo, em centros sociais, e do terror. Assim, garantem o poder político — acrescentou.

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