domingo, 24 de agosto de 2014

No Rio, 105 estrangeiros de 33 países estão presos, a maioria por tráfico

Cidade comporta 'Torre de Babel' no Complexo de Gericinó.


HERCULANO BARRETO FILHO

Rio - Eles são estrangeiros no Rio, mas estão bem longe da vista para o Cristo Redentor. Chegaram de quase todos os continentes, exceto a Oceania, e encontraram o mesmo destino: o Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste. Apesar de universos tão distintos, há algo em comum entre 70 dos 105 gringos presos no estado. Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), essa maioria (66,7%) foi condenada por tráfico internacional de drogas. A Penitenciária Esmeraldino Bandeira, que abriga detentos em regime fechado com penas de até 15 anos, é a carceragem com o maior número de estrangeiros no Rio. Os 14 detentos dividem a mesma cela no presídio, para minimizar as dificuldades de comunicação atrás das grades, causadas pelas diferenças culturais e de idioma. Não que isso seja problema para o italiano Emanuele Savini, 42 anos. Há dez anos no país, ele fala português fluentemente. 

Quando chegou ao Rio, Savini disse ter tido um instante de contemplação no lugar que escolheu morar. Encantado pela cidade, olhou para cima quando caminhava por uma rua e pensou: “Essa é a minha terra”. Dono de lojas de roupas em Roma, ele se desfez do patrimônio em meio à crise europeia para viver no país. Casou com uma brasileira, teve três filhos e montou uma empresa de importação e exportação. Mas a vida dele sofreu uma reviravolta em outubro de 2010, quando foi preso depois que a polícia encontrou 250 quilos de cocaína em contêineres da sua empresa. Condenado a 14 anos de prisão com o seu sócio, que responde o processo em liberdade, Savini recorre da sentença atrás das grades. Ele alega inocência e diz ter sido preso sem provas. 

“Fui preso injustamente e deixei três filhos sem pai. Disseram até que sou chefe da máfia italiana. É só ver como a minha família mora para saber que isso não é verdade”, diz, ao se referir a uma casa humilde em Vila Isabel. Atrás das grades, Savini se apega à fé e ao apoio da família. Nunca frequentou igreja, mas faz uma oração quando acorda. Às 8h, trabalha, recolhendo o lixo. E, antes de dormir, faz uma oração deitado na cama, à espera de dias melhores.

Ex-preso sofreu com isolamento da família 
Solto em março após passar três anos preso, o colombiano Anuar Soto Arango conviveu com o isolamento, drama comum entre os presos. Ele mandou cartas aos filhos, uma adolescente de 13 anos e um menino de 7, que moram em Cáli, sua cidade de origem. O contato foi esporádico. Na cadeia, recebeu uma visita, há um ano, que o marcou. E devido a uma fatalidade. A sobrinha dele foi ao presídio após ir ao Brasil para enterrar o pai, vítima de infarto em uma viagem ao país.

“Foi difícil ver alguém da família, que vem de longe e vai embora. Senti no coração”. No Rio, de acordo com a Justiça, Arango representava o cartel de Cáli. Recebia cocaína e a entregava a traficantes, que transportavam a droga para a Espanha. Preso em outubro de 2010, o colombiano disse ter vivido os piores momentos da vida na cadeia, onde passou os últimos dias trabalhando na faxina. E, antes de ser solto, jurou que a vida no crime acabou depois da experiência de ficar atrás das grades e distante da sua terra-natal. “Hoje, só penso na família”.

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