quinta-feira, 31 de julho de 2014

Sem contrato, ONG receberá R$ 2,5 milhões da prefeitura

Deputado federal Rodrigo Bethlem desiste de concorrer à reeleição e até cogita renunciar.


ANGÉLICA FERNANDES E JULIANA DAL PIVA

Rio - Mesmo com o anúncio do fim dos contratos, a ONG Casa Espírita Tesloo deve receber da Prefeitura do Rio outros R$ 2,5 milhões. Levantamento feito pelo DIA nos dados do Portal da Transparência municipal verificou que o valor foi autorizado para execução (pagamento) nas despesas empenhadas dos sete contratos que permanecem ativos. Só este ano já foram pagos cerca de R$ 930 mil. Em janeiro, o DIA antecipou que, durante todo o ano de 2013, a Tesloo recebeu R$ 12 milhões dos mesmos contratos — a maior parte com dispensa de licitação. Todos os 15 convênios celebrados entre a Secretaria de Desenvolvimento Social e a Tesloo durante o governo do prefeito Eduardo Paes foram alvo de investigação do Tribunal de Contas do Município. Ao menos nove seguem sob averiguação. Dos 15 contratos da Tesloo firmados durante a gestão de Paes, todos foram alvo de investigação do Tribunal de Contas do Município. Nove deles seguem sob averiguação. Desses, seis — orçados em R$ 46,77 milhões— estão em tomada de contas especial, porque já foram identificadas irregularidades graves. É o que aponta uma pesquisa do gabinete da vereadora Teresa Bergher (PSDB). Os contratos que seguem ativos já tiveram o seu prazo encerrado. Eles referem-se aos convênios celebrados para a gestão dos abrigos que cuidavam do tratamento de menores dependentes de crack e para o cadastramento de programas sociais. 

Além disso, a Tesloo administrava para a prefeitura as ações de proteção básica e especial na área da 8ª Coordenadoria de Assistência Social, em Santa Cruz, e fazia a cogestão das ações de proteção social especial de média complexidade na área da 10ª Coordenadoria de Assistência Social, em Bangu. A última, administrou por algum tempo o abrigo Rio Acolhedor. Por meio de nota, a prefeitura disse que não fará novos repasses à Tesloo porque os convênios não estão mais vigentes, e as verbas não foram justificadas. “Os valores empenhados (pagos) correspondem à diferença entre o que foi previsto inicialmente e o que foi de fato repassado”, informa a nota. Mesmo assim, a prefeitura disse que todos os convênios são alvo de auditoria especial.

Em visita ao Alemão, Pezão diz que ‘as provas são muito fortes’ 
Acossado pelas denúncias de irregularidades, o deputado federal Rodrigo Bethlem (PMDB) desistiu de concorrer à reeleição e cogita renunciar ao mandato. Ontem, ele comunicou a sua decisão aos colegas de partido. Coube ao governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, revelar que Bethlem resolveu renunciar à disputa na Câmara dos Deputados. “Parece que ele está saindo. Ele chamou diversas pessoas com quem estava fazendo dobradinha e comunicou que não será candidato”, disse Pezão. “Ele tem se reunido com o PMDB e vai tomar a decisão”, concluiu. A assessoria do deputado, no entanto, não confirma a desistência da candidatura. 


Questionado pelo DIA se perdeu a confiança em Bethlem, Pezão se esquivou e apenas ressaltou que ficou triste, já que “as provas são muito fortes”. As declarações foram dadas após visita às obras do Condomínio Jardim Beija-Flor, no Complexo do Alemão. O projeto faz parte do programa Minha Casa, Minha Vida. O governador chegou caminhando ao conjunto residencial. Mesmo com as ruas cheias em virtude da tarde pacífica na comunidade, os moradores não se empolgaram para acompanhar a caminhada do peemedebista.

Sem água para beber e sem salários
Dois ex-funcionários da Tesloo contaram ao DIA ontem as dificuldades que enfrentaram na Central de Recepção Taiguara, no Centro do Rio. A casa, que realiza a triagem de menores moradores de rua, foi gerida pela ONG até abril deste ano. De acordo com os empregados , faltava dinheiro até para a compra de água potável. A comida também era racionada e, por muitas vezes, outros abrigos tiveram que fornecer alimentos à instituição. 


“Passamos muito sufoco. Uma igreja presbiteriana, nossa vizinha, chegou a nos doar galões de água. A comida vinha de outros abrigos sem ser da Tesloo”, declarou o ex-cozinheiro da Taiguara, Esdras Dias Melo, de 56 anos. Também havia deficiência de água encanada por falta de pagamento. “Por muitas vezes tínhamos que mandar as crianças para a Casa do Catete (abrigo) tomar banho”, completou Esdras. Os meses de maior crise financeira na casa foram em fevereiro e março deste ano, juntamente com o problema de atraso de salário dos funcionários. O educador social Wamberto de Souza, 44, alega que não recebeu pagamento de janeiro, fevereiro e março. A rescisão contratual também não foi feita. Em abril, quando a ONG Sociedade Brasileira para Solidariedade (SBS) assumiu a gestão da Taiguara, mais de 15 funcionários da Tesloo foram demitidos. Na época, o grupo foi até a sede da instituição, na Zona Oeste, para reivindicar o pagamento de salários. 

“Fomos escorraçados de lá pela gerente do Departamento Social. Ela disse que tínhamos que buscar nossos direitos com a prefeitura”, relembrou Wanberto, que do subsecretário de Desenvolvimento Social, Rodrigo Abel, recebeu outra resposta negativa. “Ele disse que a prefeitura pagou corretamente a ONG, e não poderia fazer nada pela gente”.

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