Um glorioso experimento sexual do século 18


Gabriela Mateos

Partimos de uma premissa de que nada nesse mundo (ou em outros) acontece por acaso. Nada ocorre sem uma explicação, sem um padrão de evolução, sem um conjunto de fatores que leve àquele momento ou fenômeno. Os métodos de pesquisa e estudo científicos são um bom exemplo. Eles não nasceram do nada e não são da forma que são hoje por nada. Eles, também como tudo que conhecemos, passaram por uma evolução. E antes de a tecnologia poder dar uma boa ajuda aos nossos cientistas, alguns experimentos bizarros foram feitos com um objetivo muito nobre: saber mais. Bem, o conhecimento tinha que vir de algum lugar não?

O glorioso experimento sexual feito no século 18 
Ele foi performado na Itália, na década de 1760, quando um padre católico e estudioso chamado Lazzaro Spallanzani estava curioso e sedento por mais informações sobre o esperma. Para tentar entender melhor aquela “gosma branca”, ele decidiu vestir sapos com calças apertadas de tafetá. É isso mesmo, calças. Spallanzani foi um filósofo natural sério (o que nós chamamos hoje em dia de “cientista”), mas ele era um refém de um pensamento muito comum em sua época: ele também acreditava que a vida, às vezes, era gerada espontaneamente a parte de uma não vida. Essa ideia partiu da observação feita com praticamente o único equipamento disponível na época: o olho nu. As pessoas percebiam que quando um pedaço de carne ficava ao ar livre por uma determinada quantidade de tempo, bichinhos começavam a aparecer. Na carne bovina, acreditava-se, nasciam moscas. E ninguém sabia como. Era aquela coisa do “não sei, só sei que é assim”. Como um passe de mágica, fazia-se a vida. A decomposição, mesmo de coisas inorgânicas, foi fundamental para desenvolver os conhecimentos da época. As pessoas também costumavam acreditar que se misturassem um pouco de casca de trigo com roupas íntimas sujas (e seu odor característico) e deixassem a mistura no chão por 21 dias, o suor e o trigo se combinariam para gerar, espontaneamente, um rato.

No entanto, Spallanzani acreditava que, nos animais superiores, não apenas um ovo era necessário, como também uma quantidade de esperma era exigida. Ele acreditava que a vida vinha apenas a partir de vida, e não da não vida. Estudiosos tinham visto esperma ser produzido pelo órgão sexual e dissolvidos em uma solução. Obviamente, aquela gosma tinha alguma função. Spallanzani só não sabia exatamente qual era. E foi então que ele desenvolveu o teste em sapos.


Calça-camisinha
Para fazer o tal teste que tinha em mente, o biólogo adquiriu um monte de sapos machos e fêmeas. Ele os separou e, em seguida, vestiu os machos com as calças de tafetá que falamos no começo do artigo. Depois de devidamente vestidos, os machos foram liberados para se juntarem às fêmeas. A expectativa era que eles procurassem a fêmea e fizessem a fecundação normalmente. Porém, por razões que hoje nos são obvias, os sapos machos encontraram algumas dificuldades. A calça ficava no caminho. Os sapos machos ficavam instintivamente felizes ao encontrar as fêmeas, mas o esperma não conseguia atravessa o tecido. Logo, não havia reprodução. Spallanzani, é claro, tinha um grupo de controle e percebeu os fatos. As calças apertadas tinham claramente removido um ingrediente-chave. E aí veio a descoberta de que o esperma, ao que parecia, era um elemento necessário para que dessas uniões saíssem novos sapos. Os girinos, então, claramente não foram gerados espontaneamente, como alguns (a maioria, na verdade) acreditavam. Com o experimento da calça de tafetá, Spallanzani mostrou que os bebês vinham de dois pais, o que foi uma grande descoberta.


Reconhecimento 
Para homenagear o biólogo, há uma estátua de Spallanzani em Scandiano, na Itália, segurando uma lupa em uma mão e um sapo na outra. O sapo, eu lamento dizer, não está usando calças. [npr].

Autora: Gabriela Mateos é publicitária e não passou sequer um dia de seus 25 anos sem procurar alguma coisa nova para fazer.

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