quarta-feira, 16 de abril de 2014

Projeto Damas vira o jogo do preconceito

Aperfeiçoamento para travestis abre turma e alavanca empregos. Curso oferece até estágio.


ANGÉLICA FERNANDES

Rio - Elas falam mais de três línguas, têm o Ensino Médio completo, mas não conseguiram uma oportunidade no mercado de trabalho. Dispostas a virar o jogo de vez, 30 travestis iniciaram ontem a quinta turma do projeto Damas, comandado pela Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual da Prefeitura. O curso garante aperfeiçoamento em diversas disciplinas, oferece atendimento de saúde e assegura até um período de estágio em órgãos públicos. 

Para este ano, algumas novidades foram incorporadas ao Damas. A primeira é o aumento da turma, que passou de 20 para 30 alunas. No conteúdo pedagógico, as travestis terão dinâmica terapêutica, com aulas para elevação da autoestima e combate ao preconceito. Todas também serão treinadas a organizar eventos sociais, principalmente no ramo da hotelaria. Por dois meses, elas terão vivência profissional em algum órgão da prefeitura em período integral. 

“Nossa preocupação é sempre evoluir a cada turma, aprendendo com as anteriores, e nesta, especificamente, a ideia é criar uma rotina de trabalho, com horários estabelecidos e comprometimento que faz parte de qualquer contrato de trabalho”, ressalta Carlos Tufvesson, coordenador especial da Diversidade Sexual. 

O domínio de quatro línguas e uma série de cursos no currículo não foram suficientes para que Monique Lamarque, de 54 anos, conseguisse um emprego.“Por sermos trans não temos quase portas abertas. Estou na luta por um trabalho desde 2012. O Damas é a única solução que vi para conseguir uma oportunidade”, conta Monique, que quase conseguiu um emprego no aeroporto. “Morei 28 na Suíça e tenho experiência como recepcionista. Fui chamada para uma vaga no aeroporto mas quando viram que eu era travesti, me reprovaram”, lamenta. 

As 30 travestis do Damas vão se formar em dezembro, mas em novembro deste ano, a Coordenadoria da Diversidade abre processo seletivo para a sexta turma. Interessadas devem ficar atentas no site www.cedsrio.com.br .

Desde 2011, 80 formadas 
Sem trabalho, muitas travestis caem no mundo da prostituição. De acordo com a pesquisa do grupo de convivência TransRevolução, 92% das travestis e transexuais gostariam de ter outras oportunidades de trabalho que não a prostituição. Desde 2011, quando o Damas começou, 80 travestis já foram formadas. Mais de 12 tiveram aproveitamento da prefeitura em algum cargo e as que ainda não conseguiram, podem ser chamadas a qualquer momento, pois estão com o currículo cadastrado no banco de dados do órgão. Além das disciplinas regulares, que acontecem duas vezes na semana, as alunas do projeto têm orientação vocacional, noções de direito e cidadania, aulas de etiqueta e saúde. Nas atividades extras, há passeios culturais e cursos específicos de empreendedorismo. Cada estudante recebe uma bolsa de R$ 300 e o lanche.

http://odia.ig.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário