segunda-feira, 14 de abril de 2014

"Não me sinto seguro", diz aluno da Universidade Federal Rural

Alunos denunciam más condições e descaso da reitoria.


Jornal do Brasil
Louise Rodrigues*

Furtos, assaltos com armas de fogo, tentativas de sequestro, estupro, assédio sexual, má iluminação, má conservação de prédios e aulas suspensas: essa é a situação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). A faculdade não atende ao pedido dos alunos que, indignados, denunciaram ao Jornal do Brasil as condições que precisam enfrentar para conseguir o tão sonhado diploma. Entre as principais reclamações está o descaso da reitora da UFRRJ, a professora Ana Maria Dantas Soares. A Universidade fica na BR-465, Km 7, no município de Seropédica.

Além da infraestrutura, a preocupação com a segurança e integridade física dos alunos também não parece ser uma prioridade para a reitoria da URRJ. Não bastassem os já traumáticos furtos e assaltos, casos de estupro e sequestro também já foram registrados. Algumas vítimas preferem não se pronunciar sobre o caso, mas todos os estudantes ouvidos pelo Jornal do Brasil revelaram conhecer pelo menos um caso de violência nas dependências da Instituição.

O estudante Alerrandre Barros cursa Comunicação Social no período da noite. O aluno conta que não vê ronda da segurança pelo campus, já que os profissionais se concentram na entrada. “Não me sinto seguro. Todos os caminhos são mal iluminados, por exemplo, o percurso entre o Instituto de Ciências Humanas e Sociais e o Prédio de Aulas Teóricas, os arredores do Instituto de Zootecnia e do Instituto de Biologia”, alerta.

Thais Paula, 24 anos, estudante de Engenharia Química, teve sua bicicleta furtada dentro da faculdade, em frente ao prédio principal. “Vários amigos já foram assaltados com arma de fogo nas dependências da faculdade. Tem muito mato alto dentro da faculdade, o que facilita o esconderijo para bandidos. A baixa iluminação da faculdade e a falta de uma segurança efetiva são motivos de receio em andar pela Rural, mesmo de dia”, denuncia.


Ranay Nóbrega, 20 anos, cursa História na faculdade e também conhece vítimas da violência no campus. “Uma menina que estudava na minha sala foi trancada no quarto de um rapaz enquanto ele tentou forçá-la a assistir um vídeo pornô. Outro menino, também do meu curso, foi assaltado enquanto voltava para casa no KM 49, local de residência de muitos alunos. O trajeto pode ser feito a pé e muitos estudantes já foram assaltados. Uma amiga precisou se mudar e há pouco tempo teve sua bicicleta furtada no campus, o que é muito comum”, conta a estudante.

Uma estudante do curso de Administração, que não quer se identificar, conta a sua experiência. Ela foi perseguida e, depois, mudou de endereço. “Eu estava indo para a casa de uma amiga por volta de 21:30h e a rua já estava vazia. De repente, um carro prateado com vidro escuro estava do meu lado, dando ré. Pensei que fosse algum conhecido e fiquei olhando esperando que a pessoa se manifestasse. Não esperava o pior. Quando me dei conta que tinha algo estranho, quis apertar o passo. O homem que estava no banco de trás abriu a porta, colocou o pé para fora, me mostrou sua arma e mandou eu entrar no carro. Tudo aconteceu muito rápido. Comecei a correr e gritar na direção contrária da minha casa e o cara entrou no carro e continuou me seguindo. Quando eu estava um pouco distante olhei para trás e vi o carro parado na rua. Continuei correndo e virei a primeira esquina até encontrar uma família no final da rua. Eles me acalmaram e um casal me levou até onde eu estava indo”, lembra a estudante.

Nota
Em nota, a Universidade se manifestou sobre os casos de violência e a falta de segurança, denunciados pelos alunos. Leia:

"A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro é uma instituição centenária e, atualmente, tem 56 cursos de graduação, 30 programas de pós-graduação(sendo 24 de mestrado e doutorado, e seis mestrados profissionais), com cerca de 15 mil alunos, distribuídos em três câmpus: Seropédica (sede), Nova Iguaçu e Três Rios. O campus Seropédica é o segundo maior do Brasil, com 3.024 hectares. Como instituição centenária, a UFRRJ já passou pela administração de várias gestões governamentais e, sendo uma universidade pública, deve obedecer a determinados protocolos regidos pela lei.

Sobre a reportagem citada acima, a UFRRJ esclarece que:

- A segurança interna no campus Seropédica é feita pela Divisão de Guarda e Vigilância (DGV), com rondas diárias, inclusive noturnas. No entanto, devido ao número reduzido de profissionais da área e à grande extensão do território, nem sempre é possível manter vigilância completa em todos os lugares. Informamos que não há a possibilidade de realização de concurso público para este cargo, considerado em extinção. A Universidade vem realizando estudos para contratação de empresa especializada em segurança.

- Sobre a ocorrência de delitos de diversas naturezas no interior do campus, os alunos são orientados a procurar a DGV e também a fazerem registro das ocorrências na 48ª Delegacia de Polícia Civil.

- Em relação à falta de infraestrutura relatada na reportagem, é fato que o desabastecimento de água e de energia elétrica ocorrem, com certa frequência no município de Seropédica, mas a Universidade já solicitou atenção especial às duas empresas responsáveis pelo abastecimento, Cedae e Light respectivamente, as quais se comprometeram em melhorar os serviços, com a realização de procedimentos técnicos na região.

- A questão do mato alto está diretamente ligada ao fato de os técnicos estarem em greve desde o dia 17 de março, não só na UFRRJ, mas em todas as universidades federais do país. A empresa que é contratada para a manutenção do prédio principal foi deslocada para o atendimento dos institutos com maior fluxo de alunos.

- Sobre a iluminação precária, os constantes picos de energia elétrica e desabastecimento, alternados, fazem com que lâmpadas sejam queimadas praticamente todos os dias. A Prefeitura Universitária tem sido acionada para fazer a reposição das lâmpadas".

* Do Projeto de Estágio do Jornal do Brasil
http://www.jb.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário