'As enchentes me irritam', afirma o prefeito Eduardo Paes

Em entrevista ao DIA, ele admite uma série de erros, promete mais diálogo com a população e opositores e avisa que cariocas vão sofrer com as chuvas neste verão.


AZIZ FILHO , CAIO BARBOSA E FERNANDO MOLICA

Rio - Reeleito há um ano com 70% dos votos, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, teve de enfrentar as ruas no primeiro ano de seu segundo mandato e garante ter aprendido com as manifestações que pararam a cidade. Nesta entrevista exclusiva ao DIA, o prefeito admite uma série de erros, promete mais diálogo com a população e os opositores, e avisa que os cariocas ainda vão sofrer com as chuvas neste verão devido ao atraso nas obras. Sempre otimista, o prefeito ‘mais feliz e o mais irritado do mundo’ diz que não há chance de o PMDB apoiar a candidatura do senador Lindbergh Farias (PT) em 2014 e afirma que Pezão será eleito governador no ano que vem.

O Rio continua refém das chuvas. Obras prometidas, como a da Praça da Bandeira, não estão prontas. E o senhor prometeu que não conviveríamos com enchentes em 2014. Como ficaremos? Debaixo d’água?
Jamais prometi isso. Nós vamos inaugurar o piscinão da Praça da Bandeira agora e vamos continuar tendo transtornos. Isso só vai parar quando o Rio Joana estiver desviado e os cinco piscinões prontos.

Ou seja, no fim das obras, que estão atrasadas. Por que estão e quando ficarão prontas?
Não antes de 2015. Está atrasada pela complexidade da obra. A gente está fazendo um túnel por baixo da linha do trem, do Morro da Mangueira, de São Cristóvão. Tivemos um monte de problemas de projeto de ligação.

E erros?
A Secretaria de Obras erra. Contestei publicamente o presidente da Rio Águas, que disse que termina os cinco piscinões até o fim de 2014. Não termina! 

O que mais incomoda o senhor entre todos estes muitos problemas?
O que está na nossa mão e a gente não resolve, algo que não tem nada a ver com fenômeno da natureza.

Por exemplo?
O alagamento da Via Binário. A drenagem da região do porto não está pronta e não estará até 2016, mas nada justifica aquilo porque havia um plano de contingência, com drenagens provisórias que a concessionária Porto Novo não fez. Isso foi tratado em reuniões diretamente comigo.

Mas a Secretaria de Obras não deveria acompanhar isso de perto?
Sim, é um erro inadmissível e que eu assumo.

E em quanto tempo isso estará resolvido?
Já está, eles garantem. Se não estiver, eu afogo eles. E me afogo junto (risos).

Vamos falar de política. Há chance de o PMDB apoiar o senador Lindbergh Farias (PT) ano que vem? 
Nenhuma. O candidato do PMDB ao governo se chama Luiz Fernando Pezão.

Mesmo muito mal nas pesquisas?
Vou usar um exemplo que todo mundo usa, que é o meu. Em 2008, comecei a campanha com 8% e ganhei.

Mas o senhor tinha apoio de governador popular...
Não. O Cabral estava muito impopular na época. As pessoas esquecem. Ele perdeu quase todas as eleições na Região Metropolitana, menos na capital, comigo.

Mas a situação hoje é bem pior.
A popularidade do Pezão virá durante o processo eleitoral. Nunca me angustiei com isso. Acho até que ele está melhor do que eu imaginava nas pesquisas.

Só que no ano que vem haverá PT contra PMDB?

Espero que não. Será uma burrice se for assim. Torço para o PT continuar conosco. Se não continuar, faz parte da vida. Mas tenho uma visão relaxada sob esse aspecto porque tenho certeza que o Pezão vai ganhar a eleição.

Mas não será uma maluquice, por exemplo, o vice prefeito Adilson Pires, que é do PT, subir no palanque adversário para falar mal do PMDB?
Maluquice será o PT falar mal do PMDB, porque eles participaram do governo durante sete anos. Aí cada um faz a maluquice que quiser. Eu imagino que as pessoas vão disputar eleição fazendo propostas, sobretudo quem durante tanto tempo foi sócio do governo. Vai soar hipócrita fazer críticas.

Por que o senhor acha que há essa desaprovação tão grande do Cabral?
Dele e minha. Assumo. Acho que houve um momento de desaprovação coletiva que tende a se ajustar.

O que o senhor compreendeu nos protestos?
Que é preciso abrir ainda mais o diálogo com a população. Os governos erram. O problema é não reconhecer os erros. Na Providência, por exemplo, foi emblemático. Se eu ficasse dois anos com a casa marcada e sem saber onde morar, também odiaria o prefeito.

E a postura dos homens públicos na vida privada?
Estou há 20 anos na vida pública e sempre fui muito zeloso com a minha vida privada. Mas só posso falar sobre mim.

Que tem a vantagem de ter medo de helicóptero...
É verdade (risos). Até seria bom para mim, com aquele heliponto na Lagoa. Mas não ando porque tenho medo mesmo. E porque acho que andar pela cidade é importante. Por isso farei uma sede da prefeitura em Madureira, para despachar de lá às sextas e depois fazer uma roda de samba. A minha grande tristeza é não poder tomar meu chope no (restaurante) Cachambeer, mas por outro lado, faço a alegria da minha mulher. Fico mais em casa. Não poder tomar minha cerveja faz uma falta danada.

Só não pode querer fazer isso em Paris agora...
Adoro Paris, Londres e Nova York, mas não viajo com prazer agora. Até consegui ir para o interior de Portugal agora, era meu aniversário e da minha filha. Adorei. No avião ainda teve uma passageira que tirou uma foto minha e eu vi no celular ela colocando ‘dormindo com o prefeito’. Ia mandar para alguém. Eu cutuquei e falei com ela que se quisesse eu tiraria a foto abraçado. Ela ficou sem graça e disse: ‘Gosto muito do senhor e não resisti’. Mas no aeroporto do Porto tinha brasileiro tirando foto para mandar para a coluna do Fernando Molica (‘Informe do DIA’) dizendo: ‘Olha ele aí na Europa’ (risos).

O senhor fala em diálogo com a oposição , mas a Lapa, reduto do Freixo, está abandonada.
Fiz seis reuniões lá só este ano, antes dos protestos. Conversamos com artistas, comerciantes, reabrimos a rua. Tudo isso fruto do diálogo. Mas a Lapa é caso de polícia, já falei com o Cabral.

Mas o (José Mariano) Beltrame, secretário de Segurança, rebate e diz que é social?
A gente coloca assistente social, mas não podemos recolher as pessoas porque o Ministério Público não deixa, e vocês (jornalistas) adoram. A mesma imprensa que fala em população de rua fala em direitos humanos quando a gente recolhe.

Mas legislação permite o recolhimento de usuários de drogas em casos extremos como vemos lá.
Este talvez seja nosso maior desafio. O Adilson Pires (vice-prefeito) esteve na Europa e nos EUA vendo sistemas de abrigamento e novas tecnologias. Já temos atendimento compulsório, consultório de rua, abrimos dois ou três CAPs (Centro de Atenção Psicossocial) este ano e vamos abrir mais dez no ano que vem.

O que mais te irrita como prefeito?
Bilhões e bilhões de coisas. Não ter transformado a Lapa no paraíso que todo mundo gostaria, por exemplo. Ver o trânsito na minha cidade e as enchentes também me irritam.

http://odia.ig.com.br/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mal silencioso: Veja 10 mandamentos para enfrentar a hipertensão

29 de janeiro de 1975: O assassinato do Bandido Lúcio Flávio