Cedae e donos de pipas poderão ser punidos

Falta d’água revoltou moradores do Rio, que amargaram mais um dia de bicas secas. Hospitais tiveram problemas com esterilização e para atender pacientes na Tijuca.


CONSTANÇA REZENDE

Rio - A falta d’água e o abastecimento alternativo por carros-pipa viraram casos de Justiça e polícia. Três delegacias vão investigar os preços abusivos e apurar crimes tributários e contra a economia popular, que podem acabar em punição para os donos de pipas. A secretária estadual de Proteção e Defesa do Consumidor, Cidinha Campos, disse que entrará com uma ação civil pública contra a Cedae para indenizar os consumidores que compraram água em decorrência da falta de água. A medida, no entanto, englobará os consumidores que pagaram preços entre R$ 200 e R$ 300, mais comuns. Além dos moradores da cidade, hospitais enfrentaram muitos problemas com as bicas secas. Os donos de caminhões-pipa correm o risco de serem descredenciados. Para isso, o Procon notificou a Cedae para que identifique os pipeiros que abasteceram na bica da empresa entre sexta-feira e segunda-feira.

A estatal também pediu que consumidores levem notas fiscais com os valores altos pagos a um de seus postos, com o nome da empresa, para que ela seja autuada e multada. Além disso, também será solicitada à Cedae a relação dos caminhões abastecidos e seus responsáveis serão ouvidos. No domingo, o serviço, que costumava variar entre R$ 1.110 e R$ 1.300 para 15 mil litros de água, chegou a custar até R$ 5 mil, enquanto a Cedae cobra apenas R$ 48,85 dos motoristas pela quantidade.

A falta de água afetou o Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras e o Hospital Evangélico da Tijuca, que tiveram problemas com a hemodiálise, refrigeração e esterilização e precisaram comprar água. Segundo a Cedae, o problema, que afetou bairros como Urca, Leme, Santa Teresa, Tijuca, Maracanã, Rio Comprido, Laranjeiras, Flamengo e Botafogo (parte) foi causado pela manutenção preventiva da estação de Guandu, além de vazamentos em Jacarepaguá e bairros da Zona Norte, já resolvidos, segundo a empresa.

‘Problemas são pontuais’
Segundo a Cedae, os problemas que persistiram são pontuais e na ponta de rede (Urca e Leme) ou locais altos, como parte do Cosme Velho e Santa Teresa. Porém, ruas no Flamengo, como a Silveira Martins e a Marquês de Abrantes, estavam sem água.A previsão é de que todos os pontos fossem abastecidos ainda ontem. Segundo a empresa, o transtorno com a retomada do sistema era esperado. Na Radial Oeste, uma subadutora apresentou vazamento após remanejamento feito a pedido do Consórcio Maracanã para instalação dos novos pilares, mas se normalizou na madrugada desta segunda-feira. A Cedae disse que, se houver problema, vai ao endereço do cliente verificar, pois a falta de água “pode estar sendo causada por vazamento encoberto ou obstrução no ramal.”

Advogado diz que é um serviço básico
O advogado especializado em Defesa do Consumidor da OAB-RJ, Eduardo Biondi, alertou que a Cedae feriu princípios básicos da prestação de serviços essenciais, como é o abastecimento de água. E critica a ação da empresa com base no artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor, que diz que “o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços”. Muitos moradores atingidos ficaram revoltados com a falta d’água, principalmente áreas onde os valores cobrados são altos.

Professora coloca saco com fezes em frente à sede da empresa
Oito manifestantes protestaram nesta segunda-feira na porta da sede da Cedae, na Presidente Vargas, Centro. Um saco com fezes chegou a ser deixado na porta, pela professora Adriana Facina. Moradora de Vila Isabel, ela reclamava de estar sem água desde sábado. “Minha casa está o caos. Minha filha teve que fazer Enem e foi sem condições, sem acesso a água mineral direito. A revolta está muito grande e ainda dizem que é normal”, afirmou.


A produtora Sueli Nascimento também protestava, com um cartaz escrito “xixi feliz”. “A água está sendo privatizada e o serviço está piorando”, afirmou. A manifestação, pacífica, foi marcada pelo Facebook. Cerca de 15 carros-pipa esperavam ontem, por volta das 16h, para serem abastecidos no posto da Cedae, no Centro. O funcionário da empresa MC Santa Bárbara, Edízio Magalhães, informou que cobraria R$ 900 por ser carro de 30 mil litros. Segundo a Cedae, a companhia cobra R$ 97,71 pelo abastecimento desta quantidade.

Gasto de R$ 14 mil com compra de água deixou caixa de prédio vazio
Em prédios e até hospitais, as queixas em decorrência da falta de água foram muitas. O zelador João Batista, do Edifício Labrador, no Flamengo, com 56 apartamentos, relatou que o condomínio precisou comprar 10 carros-pipa. A despesa, de R$ 14 mil, esvaziou o caixa do prédio, antecipou a cobrança de condomínio e atrasou o salários dos funcionários.

“Entregamos cheque e contamos com a ajuda dos moradores para pagar. Em 27 anos trabalhando aqui, nunca vi isso”, desabafou. Morador da Rua Marquês de Abrantes, no mesmo bairro, Luiz Augusto Craveiro, defendeu que a Cedae distribua vales para o pagamento de carros-pipa ou que ela mesmo forneça o serviço, gratuitamente. “A gente paga por esse serviço. Além disso, está sendo difícil conseguir estes carros”, disse. No Hospital Evangélico, na Tijuca, funcionários relataram que a interrupção no fornecimento de água, desde quarta-feira, está afetando totalmente o atendimento do hospital.

“Ninguém dá satisfações, não temos informações de nada. Estamos tendo até que cortar o quadro de hemodiálise, a parte mais afetada. Todo mundo está muito preocupado também em como será feita a higiene dos pacientes", disse Daniel da Silva, do serviço de manutenção geral do hospital. O mesmo problema foi relatado pelo supervisor do Hospital de Cardiologia de Laranjeiras, João de Castro. “Precisamos contratar carros-pipa porque a reserva não deu conta”, disse.

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