Após caos nos trens, SuperVia reconhece que ‘há muito a fazer’
Passageiros caminharam sobre os trilhos, mas tráfego não foi interrompido. Revoltados, alguns jogaram pedras nos vagões.
PALOMA SAVEDRA
Rio - A manhã de quinta foi de caos sobre os trilhos da SuperVia, com pane elétrica, viagens interrompidas e depredação de seis trens — um deles recém-comprado — por usuários. Segundo a concessionária, um problema com pantógrafos (equipamentos que ficam no topo das locomotivas para captar energia) nas estações de Engenho de Dentro, às 6h15, e em Oswaldo Cruz, às 6h25, parou três composições — duas que partiram de Santa Cruz e uma de Japeri, em direção à Central. A Polícia Militar foi acionada para controlar a revolta popular, mas não houve prisões.
Passageiros ficaram presos nos vagões por 30 minutos e tiveram de andar pela via férrea até as estações. Mesmo assim outros trens continuaram a circular, pondo em risco os usuários que saltaram das composições. Depois de sofrer dentro do vagão parado, a operadora de telemarketing Lúcia da Costa, 31, teve que caminhar cerca de 200 metros sobre os trilhos para chegar à Estação Oswaldo Cruz. “Pego trem todo dia e o serviço é horrível”.
FALHA E RISCO
A SuperVia afirmou ainda que “alguns passageiros, correndo perigo de serem atropelados pelos trens, ameaçando a vida de maquinistas e impedindo a ação de equipes de resgate, ocuparam as linhas e arremessaram pedras e pedaços de madeira em seis trens”. Mas na mesma nota admite que houve falha: “Uma composição continuou circulando, embora mais lentamente, enquanto havia passageiros na via férrea. Isto, definitivamente, não pode acontecer”.
Ao todo, 11 estações foram afetadas. Os ramais Santa Cruz e Japeri operaram com atrasos de 15 a 20 minutos. O serviço só foi normalizado às 11h5. Os usuários prejudicados ganharam um vale-viagem que poderá ser utilizado em até cinco dias. “Minha filha estava esperando o trem, aqui em Oswaldo Cruz, no meio do tumulto. Fiquei preocupado com o quebra-quebra e vim buscá-la. O povo ficou revoltado porque ficou um tempão preso no trem sem informação”, contou o vigilante Luiz Cláudio Moraes, 44 anos. Marcos Santos, 36, desistiu da viagem: “Não dão um jeito definitivo nesses trens. Só fazem maquiagem”, completou.
MANUTENÇÃO COMO DE AVIÕES É O IDEAL
Especialista em Engenharia de Transporte, Fernando Mac Dowell acredita que a manutenção preventiva evitaria esses incidentes: “O pantógrafo precisa de manutenção com frequência, e a rede aérea também, para evitar qualquer dano ao sistema. É preciso fazer uma estatística e cada equipamento ser vistoriado permanentemente. Com elementos estatísticos é possível intervir antes de ocorrer qualquer pane”,declarou o engenheiro. Para Mac Dowell, as sucessivas falhas nos trens são “anormais”. Ele acredita que uma manutenção rígida, seguindo a mesma filosofia metodológica do transporte aéreo (de aviões) é a ideal.
“É a manutenção mais sofisticada que tem. Não há como você ver que uma peça está desgastada no ar. Porque o avião, se passar por falha, vai estar no ar. Por isso, se estabelecem critérios e a troca de equipamentos antes de eles se deteriorarem. E o mesmo tem que ser feito na ferrovia. Não é uma crítica, é uma ajuda. Se o pantógrafo não estivesse ruim, não teria ocorrido falha”, afirmou.
A Agetransp informou, por meio de nota, que abriu boletim de ocorrência e enviou fiscalização para apurar incidentes ocorridos, nas estações de Engenho de Dentro e Oswaldo Cruz. Afirmou ainda que o gerente da Câmara de Transportes da Agência, José Luiz Lopes, esteve no Centro de Controle Operacional da concessionária para pedir esclarecimentos. Os fiscais da agência continuam no local fazendo levantamento técnico para elaboração de relatório.
Pontos de ônibus ficam lotados
Com a pane nos trens, os usuários dos trens tiveram de optar pelos ônibus. Dois pontos que ficam perto da estação de Oswaldo Cruz lotaram por volta das 7h30. “Tinha muito mais gente que de costume. Desisti do ônibus. Liguei para o trabalho e vou esperar normalizar”, contou a recepcionista Márcia Dias, 29. “Esperei o trem uns 40 minutos. Fui de ônibus”, disse Antônio Rangel, 41.
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