Registro só foi fechado duas horas após estouro em adutora

Moradores que acordaram debaixo d’água criticam demora da Cedae a tomar providências, o que teria agravado a situação. Alguns ficaram boiando nos cômodos.


ANGÉLICA FERNANDES , CONSTANÇA REZENDE E FELIPE FREIRE

Rio - Pelo barulho na telha da casa número 22 — que foi destruída — da Estrada do Encanamento, Vagner Gonçalves, 29 anos, achou que se tratava de uma chuva de granizo. Mas ficou desesperado quando, da varanda, viu que o que lhe acordara pouco antes das 5h não era um fenômeno da natureza, mas negligência ou descaso de alguém. Segundo testemunhas, a água começou a destruir as casas por cima. Além do rompimento do cano de quase dois metros de diâmetro, a demora da Cedae em fechar o registro para interromper o jato teria agravado a tragédia.

Alguns não tinham como sair dos cômodos submersos e ficaram boiando enquanto esperavam socorro. “Fiquei desesperado. Enquanto colocava as coisas no alto, o segundo andar desabava. Só tive tempo de sair e correr para lugar seguro”, contou Vagner.


Ele morava em frente ao local de rompimento. “Só deu para salvar documentos”, acrescentou a mulher dele, Marlucy Ferreira, 38, diante do Chevette 1988 destruído.


Desespero e prejuízo
Para sobreviver em meio à repentina enchente, eletrodomésticos foram usados como boias. O motorista Jorge Luis Carvalho, 43, colocou os quatro filhos e a mulher apoiados na geladeira, que estava ‘à deriva’ na cozinha. “Foram duas horas debaixo d’água lutando com a minha família para sobreviver. Quase mataram a todos por negligência. Foi uma tragédia anunciada. Por que a empresa demorou a fechar o registro, queria mais mortes?”, perguntou o motorista, revoltado. Para a família de Agílson da Silva Serpa, 42 anos, a batalha foi longa. Em sua casa dormiam sua mulher, Ana Paula dos Santos, 32 anos, a enteada, Lavínia, 8, e o cunhado, Daniel Alberto.


Todos tiveram de lutar contra a correnteza, que levou a casa e quatro carros. “Só tive tempo de ir para o banheiro do segundo andar com todos. Quando vi que tudo ia desabar, corremos e a água nos lançou na rua. Segurei numa viga, minha mulher pegou a filha e agarrou parte de parede”, lembrou Agílson, com ferimentos no rosto, braços, mãos, pés e pernas. 

A comerciante Maria de Socorro Araújo, 62 anos, que morava na casa 21, não acreditava. “Parece que passou um tsunami. Perdi meu bar, que construí ao longo de 16 anos. O sofá da vizinha veio parar na minha cozinha”.

Comissão cobra, mas fica sem resposta 
A Cedae deixa sem resposta adequada há cinco anos uma solicitação da Comissão Especial de Saneamento da Câmara de Vereadores do Rio. A empresa deveria informar o plano de modernização das redes de água da cidade. Na época, um ofício assinado pelo presidente da comissão, o vereador Carlo Caiado (DEM), chegou a ser intercedido pelo Ministério Público Estadual, que exigiu esclarecimentos da empresa. 


Um documento emitido pela Cedae, em resposta ao MP, apontava apenas questões genéricas, como a extensão das adutoras na cidade — era de aproximadamente 9 milhões de metros— e o material empregado nelas. Nenhum projeto de modernização foi apresentado.“Recebíamos reclamações de adutoras. O MP chegou a pressionar a Cedae sobre o plano, mas no fim, arquivou o processo”, explicou Caiado, que vai recorrer de novo ao MP para obter detalhes das adutoras, como idade de cada uma e a previsão de modernização.

Moradora diz que canos vazam há muito tempo no bairro 
As residências foram inundadas tão rapidamente que muitos moradores nem tiveram tempo de deixar os cômodos onde dormiam e o jeito que encontraram foi ficar boiando à espera de socorro. Alguns ficaram ilhados mesmo depois que o jato d’água foi desligado pela Cedae e os bombeiros tiveram que resgatá-los de bote pelas ruas. Jorge Biriard, diretor de operações Cedae disse que “a adutora não tem histórico de rompimento deste porte e não tinha nenhuma manutenção programada por outros problemas”. A moradora Osana Pedro Silva, 36, disse que os canos estavam vazando há muito tempo. É um descaso”.

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