domingo, 7 de julho de 2013

Consumo além dos guetos

Gays conquistam novo espaço e já são cobiçados por mercados de identidade hétero.

Casados há seis anos, Carlos e Fabiano contam que gastam muito com a decoração da casa e roupas Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
STEPHANIE TONDO

Rio - Os homossexuais são cada vez mais importantes para a economia das grandes cidades brasileiras, principalmente nos segmentos de moda, lazer e cultura. Segundo dados do Instituto Data Popular, esse nicho de mercado vai movimentar cerca de R$ 7 bilhões este ano no país. O tipo de consumo é diferente do público hétero e está em franca mudança no país após liberação do casamento pela Justiça. Se antes os homossexuais ficavam restritos aos chamados “guetos” ou frequentavam apenas bares e boates GLS, hoje vão aos mesmos lugares que os héteros. A produtora de eventos Priscila Continentino conta que costuma jantar fora com a mulher e ressalta a importância de o estabelecimento ser “gay friendly”, conceito usado para caracterizar locais que não fazem distinção entre gays e héteros. “Apesar de essa postura ser mais rentável, esse conceito, para mim, só significa ser correto”, diz.

A ideia por trás do conceito é a de que os consumidores não devem ser percebidos como gays ou héteros, mas como indivíduos. Assim, tem se tornado comum redes de hotéis oferecerem camas de casal a duas pessoas do mesmo sexo, por exemplo, antes que isso seja pedido pelo casal. No dia dos namorados, algumas lojas já passaram a oferecer sugestões de presentes que pudessem ser comprados por casais héteros ou gays.

Casados há seis anos, o professor de italiano Fabiano Dalla Bona e o arquiteto Carlos Ramos acreditam que a caricatura do homossexual está desaparecendo. “Nos conhecemos em um bar normal e raramente frequentamos estabelecimentos GLS. Nunca fomos discriminados. Acho que a naturalidade favorece a aceitação”, afirma Carlos.

Segundo dados do IBGE, 59.967 casais se declararam gays no último Censo em 2010. A faixa de renda mensal de R$ 2.551 a R$ 5.100 concentra a maior parte dos casais. Além disso, desse total, 30.934, ou seja, mais da metade, divide as despesas.

PERFIS DE CONSUMO
Antropóloga do consumo, Hilaine Yaccoub conta que os gays costumam investir mais em si mesmos, por meio de cuidados com o corpo e a beleza, além de serem mais ligados às questões estéticas. Além disso, para ela, quem movimenta a economia são os gays de classes média e alta urbanas, que gastam com o mercado de luxo. “Eles são mais exigentes com a qualidade, têm um estilo de consumo mais sofisticado, até porque costumam sair mais e conhecer mais pessoas”, explica. Além disso, a antropóloga afirma que os gays consomem mais cultura que os héteros.

Empresas investem em campanha publicitária para público homossexual
De acordo com Bruno Figueiredo, publicitário e autor de uma pesquisa na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sobre o mercado GLS, as campanhas voltadas para o público homossexual ainda são tímidas. Por outro lado, elas evitam que se criem estereótipos. “O gosto principal das grandes empresas é por uma abordagem cotidiana, de seres humanos que comem, dormem e assim, compram”.

É possível identificar campanhas publicitárias voltadas para esse público, em que casais homoafetivos têm o mesmo espaço nas propagandas que os casais hétero. Esse movimento pode ser percebido, por exemplo em empresas como Natura, Banco Itaú e no canal de TV a cabo, Disney Channel. Para Figueiredo, essa abordagem é pontual. Ele avalia: “Não é tão natural quanto deveria ser”.

“As empresas têm certo receio com relação a todas as polêmicas que são discutidas em torno da temática homossexual. O que fica muito claro é o poder que as mídias sociais possuem no papel de ampliação do público da publicidade. A internet, sim, é um espaço muito mais democrático. A publicidade caminha no mesmo sentido”, explica.

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