Mariana Blac testa produtos eróticos: “não é besteira escrever sobre sexo”

Para a paulista de 27 anos, que vive de avaliar sex toys, trabalho pode levar ao autoconhecimento e à satisfação sexual feminina.

Divulgação Mariana Blac: falar sobre sexo nunca foi uma dificuldade

Clarissa Passos , iG São Paulo

Se fosse pelas perguntas feitas na entrevista de emprego, ninguém diria que a vaga pleiteada pela paulista Mariana Blac era tão inusitada. Em um café em São Paulo, seu futuro chefe quis saber o que ela esperava do trabalho, checou suas referências e acertou detalhes logísticos relacionados ao cargo, como, por exemplo, para onde enviar os "sex toys" para avaliação. Mariana é testadora de produtos eróticos do Sexônico, um portal que reúne ofertas de sex shops virtuais, tarefa que assumiu há cerca de meio ano, após bater 7 mil candidatas dos mais diversos perfis – 16% delas se declararam pós-graduadas e uma tinha mais de 60 anos.

Mariana (nome fictício, foto real), 27 anos, recebe os produtos em casa, testa e tem a dura missão de escrever sobre os efeitos deles com clareza e sem ser vulgar. “Sexo em geral ainda é um tabu, infelizmente”, reconhece. Mas para ela nunca foi. Acostumada a ouvir sobre as aventuras (e desventuras) amorosas e sexuais de amigos e amigas, costumava dar conselhos com facilidade.

Segundo a mãe, o desassombro de Mariana com temas delicados vem desde a infância. “Uma vez, quando eu era pequena, viajamos para o exterior e minha mãe me levou a uma praia de nudismo. Na volta, quis saber o que eu tinha achado. Disse que tinha sido legal e ela perguntou o que eu tinha achado das pessoas estarem sem roupa. Respondi: ‘ah, elas estavam peladas?’. Não tinha nem notado!”, conta.

A família vê o emprego de Mariana com naturalidade. “Continuo produzindo conteúdo”, diz ela, que é formada em Jornalismo. O que a incomoda mesmo é sentir que o trabalho de escrever sobre sexo é tão pouco respeitado. “Quando falamos em usar um produto para aprender a ter um orgasmo, tem quem pense ‘mas qual é a importância disso?’”, reclama ela. E com toda razão, se levarmos em conta que, de acordo com a pesquisa “A Vida Sexual do Brasileiro”, realizada entre 2002 e 2003 sob coordenação da dra. Carmita Abdo, referência brasileira no assunto, um terço das mulheres nunca tiveram um orgasmo. “Não é uma besteira escrever sobre sexo”, prossegue Mariana. “Tem a ver com autoconhecimento, mirando a satisfação sexual da mulher”.

“Isentos de obrigações editoriais”
No blog, Mariana descreve sua experiência com os produtos sem amarras. “Por mais espantada que eu fique, os testes devem ser cumpridos, e todos os textos escritos estão isentos de obrigações editoriais com fabricantes, lojas e afins”, registrou ela na avaliação de um boneco inflável (feita logo após um providencial telefonema para um pretendente). Entre os produtos já testados por Mariana estão um simulador de sexo oral feminino, o vibrador tipo “rabbit” – unanimidade no mundo dos "sex toys", ganhou fama depois de fazer uma participação especial no nono episódio da primeira temporada da série “Sex and the City” – e o G Vibe, um vibrador com pontas bifurcadas e múltiplas possibilidades de uso.

Também estão na lista uma inocente calcinha comestível (honesta, ela alerta que “alguns sabores são realmente ruins, então é melhor pensar bem antes de escolher o modelo”) e um complicado vibrador em formato de polvo (“perde pontos justamente porque não é fácil de ser posicionado na vagina”).

“Nossa ideia é desvincular [o uso dos sex toys] da vulgaridade. Queremos mostrar que muita gente usa – e que melhora a vida de todo mundo”, diz. A de Mariana certamente melhorou: hoje, ela vive apenas do trabalho como testadora e o Sexônico abriu uma competição de resenhas dos leitores (as melhores ganham um vale de R$ 500 em produtos eróticos). "Apesar disso tudo, quando o assunto é falar de sexo, ela admite que “ainda temos muito para caminhar”.


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