Polícia aponta ex-secretário como culpado pela tragédia no Morro do Bumba

José Roberto Mocarzel é apontado como responsável pela catástrofe, onde 51 pessoas morreram numa chuvosa noite de abril de 2010.

editandocomwellingtonserrano.blogspot.com/Divulgação.

POR FELIPE FREIRE

Rio -  Do alto do Morro do Bumba, em Niterói, Ivonete Santana, 37 anos, observa a "ferida aberta" que um dia já foi uma comunidade. Ela não crê mais em justiça pela morte de 51 vizinhos na noite de 7 de abril de 2010. Entretanto, a conclusão do inquérito policial renova as esperanças por punição a culpados. Ex-presidente da Empresa Municipal de Moradia, Urbanização e Saneamento (Emusa), José Roberto Vinagre Mocarzel foi indiciado por homicídio culposo e crime ambiental. Quase três anos após a catástrofe, o caso agora está com o Ministério Público de Niterói.

Morro do Bumba há três anos: cenário desolador | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia

O relatório da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), encaminhado há poucas semanas ao MP e ao qual O DIA teve acesso, aponta o então presidente da Emusa como principal responsável pela tragédia no antigo lixão, que teria contabilizado um número ainda maior de vítimas, já que dezenas de corpos não foram encontrados. No inquérito foram ouvidos geólogos, representantes do Departamento de Recursos Minerais do estado, o próprio Mocarzel e outros secretários de Niterói. Ainda foram anexados cópias de autos de interdição e carnês de IPTU referentes à comunidade do Viçoso Jardim.

Pelo Artigo 68 da Lei Ambiental, Mocarzel poderá ser denunciado por “deixar de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental”. A pena é de um a três anos e multa, em caso doloso. Já com relação à acusação de homicídio culposo, ele também pode pegar de um a três anos, só que neste caso a pena final poderá ser cumulativa em relação às 51 mortes. Informado sobre o indiciamento, Mocarzel afirmou estar com a “consciência tranquila”. Afastado da vida política, ele achou “injusta” a conclusão do inquérito.

“Não acho que exista culpado. Aquilo existia há mais de 20 anos. A gente fica sensibilizado com o problema, mas você não pode culpar uma gestão de quatro anos pela tragédia”, completou o acusado, que vai recorrer judicialmente em caso de denúncia do MP. Ex-prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira não foi encontrado para comentar o indiciamento do colaborador.

Sem opções, moradores voltam à encosta do morro
Para quem perdeu familiares, a lembrança da tragédia e a falta de culpados ainda ferem. Estima-se que 267 pessoas tenham morrido no deslizamento.

“Queríamos justiça, mas fizeram apenas uma pracinha, a que não tenho coragem de ir. Mesmo assim, esperamos pela punição de mais culpados”, emocionou-se Gilseni de Oliveira, 53, que mora em frente à comunidade e perdeu 12 parentes na tragédia, entre elas a irmã e duas sobrinhas.

Se na esfera criminal, apesar da lentidão, as coisas andam, no Bumba elas regridem. Dezenas de pessoas voltaram a viver em casas interditadas, seja por não receber aluguel social ou por não encontrar imóveis com o valor pago: apenas R$ 400. Muitos reclamam ainda da falta de laudos definitivos para cadastros que dariam direito a apartamentos em conjuntos habitacionais e da lentidão das obras. Questionada, a Prefeitura de Niterói não respondeu até o fechamento desta edição.

"Dá medo, mas vou fazer o quê?" - Marcos José Araújo, 35 anos
Próximo à varanda escorada com madeiras, Marcos sabe que sua família corre risco. Mas, sem opções no mercado, acabou retornando ao imóvel interditado, onde hoje vive com a irmã e três sobrinhos.

“Sempre pedem R$ 700 com três meses de adiantamento, isso em lugares distantes. Ou seja, é impossível. Sei dos problemas e da estrutura de risco, dá medo, mas vou fazer o quê? O negócio é ficar alerta em caso de chuva forte”.

Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia

"Promessas não enchem o bolso" - Tereza Jardim, 58 anos“Fiz dois cadastros depois da tragédia, com intervalos de um ano, mesmo assim não recebi nada. Tiraram fotos da casa e... nada. Fui obrigada a voltar, pois ia viver na rua? Promessas não enchem o bolso de ninguém”, diz Tereza.

A situação é ainda mais complicada. Como o marido não anda, o jeito é contar com a ajuda de vizinhos para conseguir escapar em caso de novos deslizamentos. Sua casa, de um quarto, está acima de um barranco.

Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia

"Quando chove, quase não durmo" - Ivonete de Jesus Santana 37 anos
Com panelas ao fogo, Ivonete se lembra bem da noite do dia 7, quando viu um clarão se formar em frente à sua casa. Hoje, mesmo diante do ‘verde’, confessa que é difícil se acostumar com a rotina no imóvel interditado, onde vive com três filhos e o pai.

“Quando chove é sempre um desespero e, nesses dias, quase não durmo. Mas está difícil de enxergar dias melhores, pois agora já falam em apartamentos só em 2014”, lamenta.

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