As Caras do Rio: Vende-se amendoim de terno
Foto: Paulo César Gonçalves / Agência O Dia
Rio - Uma franquia da elegância ambulante se espalha pelas ruas de Botafogo. Há 23 anos, seu grito único de “Ooooooiiiii” e o sorriso pregado no rosto fazem do vendedor Paulo César, 33, passatempo garantido na viagem de quem sobe o elevado de Botafogo em direção ao túnel Santa Bárbara. E o negócio não para de crescer. Além dele, já são três oferecendo amendoim de terno na área: dois sobrinhos e um amigo do pioneiro. Também tem novidade no tempero, graças ao famoso amendoim de bacon, que ele pretende patentear como marca sua em cartório do Centro. Paulo já é marca do Rio.
A história começou com um acidente. Aos 10 anos de idade, ele deixou tombar uma moto que estava pilotando e foi, todo arrumadinho, pedir ajuda financeira na Super Rádio Tupi, no Centro da cidade. Caiu nas graças de um policial, que lhe presenteou com seu primeiro terno. Pegou um ônibus qualquer, o primeiro que viu pela frente, e parou ali perto da Rua Pinheiro Machado, onde começou a vender os amendoins. Hoje, são oito ternos e quase 100 gravatas, devidamente lavados e engomados pela mãe.
“Decidi começar a falar ‘oi’ porque é popular. Se eu falasse ‘oi, tudo bem?’ ia demorar muito”, explica o vendedor, que já se acostumou a ser procurado a cada 10 minutos para dar informações de trânsito. “Também recebo muita cantada de mulher que passa por aqui, mas não levo a sério porque isso aqui é trabalho. Bom, tudo bem, já arranjei uma espanhola e uma japonesa”, admite o galanteador Paulo.
Aos 5 anos, o garoto nascido em uma família de sete irmãos na Engenhoca, Niterói, já trabalhava na Cinelândia. Hoje, são quase 400 pacotes de amendoim vendidos por dia, de 2ª a 6ª feira, entre 17h e 19h30, bem na hora do engarrafamento e da fome. No começo, há quatro anos, os parentes vendiam amendoim para ele, agora “é cada um por si”, afinal, “eles também têm filhos”. Paulo tem três, de relacionamentos anteriores. Hoje está solteiro.
“São só meus sobrinhos que deixo vender de terno ali. Tem um em Maricá que inventa que é meu primo, mas eu já desmascarei ele”, conta. “Tem gente que me encontra na rua e não acredita que sou eu, porque tô sem terno. É meu uniforme”, se diverte. Paulo quer espalhar seu amendoim torrado com bacon em bares e restaurantes. Ele também tem receita de amendoim doce e de camarão e recebe encomendas para festas e eventos. Quando ligar, é só falar: “Ooooooooiii”.
1 - QUANTO CUSTA O AMENDOIM DE PAULO?
Um é R$ 3, dois são R$ 5 e cinco custam R$ 10. O preço para grandes encomendas é combinado caso a caso, diretamente com ele.
2 - ONDE FICA O BAIRRO ENGENHOCA?
O lugar onde Paulo nasceu limita-se com Fonseca e S. Gonçalo. Tem 1,93 km² e 12.027 hab/km²: mais alta densidade populacional da área.
3 - COMO SE FAZ PARA REGISTRAR MARCA?
O interessado, como Paulo, tem que pedir o registro de sua marca junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial. O serviço é pago.
4 - COMER AMENDOIM FAZ MAL À SAÚDE?
Só para quem tem hipertensão (no caso do salgado) ou problema nos rins. Tudo é questão de saber moderar e evitar excessos.
5 - DESDE QUANDO EXISTE ESSE TÚNEL?
As obras do Santa Bárbara, que liga Catumbi e Laranjeiras, foram iniciadas em 1947, mas concluídas apenas em 1963. A galeria tem 1.357 m.
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