quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Sérgio Zveiter: 'Fomos iludidos por Jorge Roberto Silveira'

Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia

Rio -  Sérgio Zveiter deixou o cargo de secretário estadual de Trabalho para se candidatar a prefeito de Niterói pelo PSD. A seu favor, ele tem o cansaço do niteroiense com a chamada ‘Era Jorge Roberto Silveira’, que chega ao fim com o atual prefeito encerrando o quarto mandato com altos índices de rejeição. Mas Zveiter tem pela frente, se for eleito, o desafio de resolver um problema histórico da cidade: o eterno nó no trânsito. E um novo: a migração de bandidos da capital acuados pelas UPPs do governador Sérgio Cabral. O governador, aliás, apoia outro ex-secretário estadual, Rodrigo Neves, do PT, o que, para Zveiter não seria problema. “O governador não vai me faltar”, garante.

O DIA — Com os altos índices de rejeição de Jorge Roberto Silveira, esta eleição pode representar o fim de uma era. Qual foi o maior erro do prefeito e qual a maior diferença entre vocês?
SERGIO ZVEITEREm 2008, acreditei em uma proposta dele, mas eu e a maioria da população fomos iludidos. Ele entregou a cidade nas mãos de pessoas que não têm vocação para o serviço público. O Jorge se omitiu e delegou a administração a um cidadão chamado José Roberto Mocarzel, presidente da Emusa; ao Hamilton Pitanga, seu chefe de gabinete; e Selmo Treiger, secretário de Finanças. Os três não têm vocação, e a cidade só vem decaindo. Pretendo ser um prefeito presente, trabalhar com planejamento, gestão, resultados, transparência e participação da população.

O senhor é irmão do presidente do TRE. Os adversários veem um conflito.
Eu sou Sergio Zveiter. Sou candidato, advogado e político. Meu irmão é juiz. Consultado, o TSE avisou que ele não poderia participar da eleição em Niterói. É o que está acontecendo. Não tenho notícia de atitude que possa ser imputada a mim como privilégio pelo fato de sermos irmãos. Não vejo conflito.

Trânsito em Niterói é um problema crônico e só piora. O senhor defende a Linha 3 do metrô, com um trecho subaquático para o Rio? Isso não encareceria o projeto?
Niterói precisa de um planejamento urbano integrado. Há dois anos, o escritório do Jaime Lerner vem recebendo quantias expressivas e não solucionou o problema do trânsito. A Ponte, quando foi construída, tinha uma capacidade de suportar um número de veículos que já se esgotou. A Linha 3 do metrô não pode parar em Niterói. Ou se constrói um túnel sob a Baía ou instalamos um Veículo Leve sobre Trilhos na Ponte. Obviamente depende de verbas federais. As pessoas vão sair de Itaboraí e São Gonçalo, pegar o metrô e chegar todas a Niterói. Como vão para o Rio? Pelo relacionamento que tenho com o prefeito Eduardo Paes, pretendo buscar soluções com ele. O governador Sérgio Cabral, a pedido da presidenta Dilma, me pediu para assumir a Secretaria de Trabalho. Então, tenho condições de cuidar dos problemas que a prefeitura deve resolver.

Todos os investimentos do metrô têm sido na cidade do Rio. Foi um erro? Teria sido melhor investir mais na direção de Niterói e São Gonçalo?
Não tenho elementos de convicção para dizer que foi errado. Posso dizer que a Linha 3 é necessidade, até pelo Comperj. Mas a linha do metrô de São Gonçalo a Niterói não vai resolver o problema. A CCR tem que construir um terminal hidroviário em São Gonçalo. O morador de lá acorda, enfrenta um trânsito enorme pra chegar a Niterói para depois embarcar para o Rio. É um absurdo o trânsito de ônibus intermunicipais na Alameda São Boaventura. A Alameda pode ser uma solução muito importante para criar essa linha entre a Região Oceânica e a Ponte, desde que desafogue o trânsito que vem de São Gonçalo. Então, vou lutar pra que a Linha 3 vá até o Rio e para que seja construída essa hidroviária.

E as linhas de ônibus?
É um absurdo a renovação da concessão das viações em Niterói. Elas cobram uma das passagens mais caras do Brasil e não prestam bom serviço. Eu vou chamar os empresários, dos quais nem aceitei ajuda financeira na campanha, para diminuir a tarifa em alguns itinerários. Você não pode pegar um ônibus na Ilha da Conceição e pagar R$ 2,75 para chegar ao Centro, praticamente um quilômetro, o mesmo preço pra vir de Itaipu ao Centro.

O senhor pretende conversar com o governador para implantar em Niterói alguma Unidade de Polícia Pacificadora?
Os índices de violência em Niterói subiram muito. Pretendo construir uma central de monitoramento a exemplo da que tem no Rio. Quero dar atenção especial à Guarda Municipal, criando Plano de Cargos e Salários, aumentar o salário deles e colocando o efetivo para trabalhar 24 horas por dia, com armas não letais, desde que os agentes sejam devidamente treinados para isso. E pretendo, com o bom relacionamento que eu tenho com o governo do estado, solicitar o aumento do efetivo do 12º Batalhão. O próprio governador e o secretário já reconheceram que, não obstante à política de pacificação, as UPPs serem uma boa política, houve uma migração de bandidos pra Niterói. Então, de duas, uma: ou esse projeto de UPP tem que ir para Niterói também ou é preciso reforçar o contingente da polícia em Niterói, quer seja a Polícia Militar, quer seja a Polícia Civil. Eu vou fazer a minha parte com um choque de gestão, colocando mais policiais militares nas ruas através do Proeis, e tenho certeza de que o estado vai fazer a sua parte.

E o programa Niterói para Todos, onde entra?
Segurança pública, ou melhor, violência e criminalidade, você combate de duas formas: os efeitos, com prevenção e repressão, e as causas, investindo nas áreas mais vulneráveis. Se você não fizer um investimento sério ali, você não vai ter a médio prazo como diminuir os índices de violência. Por isso que eu criei o Niterói pra Todos, que contempla cinco ações que são importantes na cidade: o Renda Melhor Niterói, pra quem já ganha o Bolsa Família; diminuir o preço da passagem — e, com esses dois projetos, é mais dinheiro no bolso do trabalhador e da trabalhadora; o Creche Total, para que as senhoras, as mães, possam trabalhar e deixar seus filhos; Saúde Total, Médico da Família funcionando bem perto de casa, e Período Integral Solidário para que as crianças possam estudar o dia inteiro e, com isso, poder à tarde ter reforço escolar, na parte esportiva e cultural. E também melhorar a infraestrutura das comunidades e a iluminação. Porque uma contradição que eu vejo em Niterói — e essa é uma coisa muito importante —, o que cresceu nos últimos anos no município não foi a população. A população cresceu 6%. O que cresceu em Niterói foi a pobreza, as favelas, as áreas carentes de Niterói, que não têm tido nenhuma atenção da prefeitura.

O senhor falou várias vezes sobre seu bom relacionamento com o governador Sérgio Cabral, mas ele está apoiando Rodrigo Neves, seu adversário, que também foi secretário dele. Por que o senhor acha que o governador fez essa opção? Isso não atrapalharia o seu governo?
A diferença entre mim e o Rodrigo é que o Rodrigo não votou no Sérgio Cabral para governador. Essa é a primeira. O Rodrigo também não votou no Cabral para senador. Eu não só tive o apoio do Cabral em 2000 para ser prefeito como também coordenei as campanhas dele aqui.

O governador está sendo ingrato, então?
De forma alguma. Houve uma questão política que fez com que essa composição PT-PMDB levasse o governador a apoiar o Rodrigo Neves, que é um fato totalmente natural. Eu mesmo conversei com o governador e entendo isso. Só que o Sérgio Cabral é o governador do Rio. Ele está apoiando o Rodrigo, mas, se eu for o prefeito de Niterói, como tudo indica, tenho certeza absoluta de que o governador não vai me faltar até pelo apreço, pelo carinho e pela dedicação que tem a Niterói.

O DIA: Educação é um dos setores que não vão bem. No último Ideb, Niterói ficou abaixo do índice previsto. Por que a Educação se encontra nesse estado e quais são suas propostas?
Sérgio Zveiter: Má administração e má aplicação de verbas da prefeitura. Em 2010, Niterói aplicou 17,3% na Educação. Em 2011, reduziu para 16,8%, e, em 2012, para 15,3%. A Constituição determina que tem que aplicar 25%. Não há investimento nos professores, que ganham muito mal, nem na infraestrutura. A minha ideia é arrumar a casa, implantar o ensino integral e preparar o município para receber até 2015 o Ensino Médio, que vai ser repassado para Niterói pelo estado. Mas o fato concreto é que temos dinheiro para resolver os problemas, mas o dinheiro não está chegando à ponta. Nós pretendemos aplicar não só mais verbas, mas investir também nos alunos. Hoje, o estudante não recebe uma mochila, um tênis.

Niterói ficou famosa pelos médicos de família. Que fim levou o projeto?
O Médico de Família é um bom projeto, mas as pessoas estão desestimuladas. Os médicos, os enfermeiros. Faltam medicamentos e equipamentos. Então, é preciso colocar os módulos do Médico de Família para funcionar bem, as Unidades de Família para funcionar bem, as policlínicas e os hospitais. A partir daí, o princípio é ampliar o Médico de Família e construir seis Emergências: três na Zona Norte, uma na Região Oceânica, uma na Zona Sul e uma no Centro.

O morador de Niterói pode ter a esperança de um dia a Emergência do Antônio Pedro ser reaberta?
O Antônio Pedro é um hospital federal, vai depender mais da Direção. Salvo engano meu, a tendência é só emergência de casos de alta complexidade, mas de qualquer maneira eu vou lutar para reabrir a Emergência do Antônio Pedro, que sempre foi uma referência. Inclusive eu, quando era mais jovem, sofri um acidente de moto e fui levado para lá. Graças a Deus fui salvo. Só depois fui operado num hospital particular. Durante muito tempo, a gente via adesivos nos carros de Niterói com uma manifestação bem-humorada: “Sorria, você está em Niterói — e acaba de levar uma multa”. Era uma crítica ao excesso de pardais. Quero saber a opinião do senhor sobre esse tema. O coordenador de campanha do Felipe Peixoto, o Marcolini, que é o presidente da Nitrans, tem que explicar para onde estão indo as verbas dessa ‘indústria das multas’. Em Niterói você vive um trânsito caótico. Se você der um errinho de passar a 61 quilômetros num local que é de 60, ou a 41 quilômetros num local de 40, você vai pagar multa. Eu vou acabar com isso. Pretendo criar em Niterói um sistema educativo. Eu acredito na educação como forma de resolver os problemas, inclusive no trânsito. É melhor ter uma placa dizendo “Atenção, dirija corretamente para não pôr em risco a vida do seu semelhante”.

O senhor quer dizer que vai liberar geral para a pessoa andar na velocidade que quiser, apesar da campanha educativa?
Não, não, não. As pessoas vão ter que obedecer aos limites de velocidade. O que eu não vou deixar permanecer é a indústria da multa. A população de Niterói é esclarecida a ponto de saber que, pela educação, chegará aos princípios que devem nortear a pessoa ao dirigir.

Mas o senhor vai tirar os pardais ou não vai?
Vou diminuir o número de pardais, só colocar pardais realmente em vias que sejam necessárias e acabar com a indústria da multa. Eu vou manter os pardais, obviamente, mas não do jeito que foi feito em Niterói.

Agradecemos sua participação. Suas considerações finais, por favor.
Depois de andar na cidade, eu já conheço os problemas e tenho as soluções. Então, para quem já vota em mim, quero pedir que peça à família e aos amigos o crédito de confiança. Para os indecisos, quero pedir um crédito de confiança para ser o prefeito de Niterói para, juntos, nós mudarmos Niterói. E para quem pensa em votar em branco e nulo, eu até reconheço a indignação que as pessoas têm, mas votar branco e nulo não contribui para mudar. Eu quero mudar Niterói para melhor, com planejamento, gestão, resultado. Niterói vai voltar a sorrir. Sergio Zveiter, 55.

Sabatina com Aziz Filho, Daniele Maia, Humberto Tziolas e Paulo Cesar Martins
http://odia.ig.com.br

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